Alquimia
do Amor
O mundo
íntimo do ser humano é uma grande incógnita, somente decifrável através de seus
efeitos, pois não é dado penetrar em sua essência real. A mente não se vê a si
mesma. Na intimidade de cada criatura ocorrem incríveis fenômenos alquímicos,
cuja compreensão só se dá através de representações e símbolos que permeiam a
cultura, as artes e o saber humanos.
Combinações
químicas, impulsos nervosos e estímulos aferentes se associam às emoções, aos
pensamentos, às idéias, aos desejos e à vontade, numa fantástica alquimia
interna, promovendo a vida humana. Quando um desses fatores não se encontra em
sincronia com os demais, ocorre a doença. Essa combinação de elementos internos
na psiquê humana é promovida pela energia psíquica, que proporciona o movimento
na direção da atitude. Quando esse movimento é muito intenso na direção de
conteúdos internos, próprios e aversivos, é sinal que a depressão está a
caminho.
Em
seu interior pulsa a energia da vida, criada num ínfimo de tempo que o Criador
dedicou à singularidade humana. Em seu mundo íntimo, jaz algo inacessível e
impenetrável ao mais arguto olhar. Ali, Deus estabeleceu sua morada e seu ponto
de apoio para a construção da personalidade integral que se quer ser.
O ser
humano é resultante do produto da união do amor de Deus com o desejo de existir
e ser feliz. Nada poderá obstaculizar a senda progressiva da
alma humana na direção de si mesmo e de sua própria felicidade. O encontro com
Deus, em si mesmo, selará sua vitória definitiva, alcançando a perfeição para a
qual foi destinada.
A
vida é um processo alquímico constante, no qual a inércia inexiste. A
estabilidade é movimento. O propósito é a realização do si mesmo, cujo fluxo é
para o mundo íntimo, porém a forma é atuando na vida externa. O movimento é no
duplo sentido, isto é, para dentro e para fora simultaneamente.
Alquimia
é mistura profunda, densa e essencial, na tentativa de alcançar algo puro. Ocorre
na intimidade das coisas, assim como na profundidade da mente humana. No
coração, os sentimentos se misturam na tentativa do encontro final e definitivo
com aquilo que possa trazer plenitude. A vida humana apresenta uma série imensa
de processos alquímicos, nos quais se misturam emoções, pensamentos e
sentimentos que não pertencem à própria pessoa que a vive. Quando não se
misturam os elementos adequados e nas proporções ótimas, a vida tenta corrigir,
oferecendo avisos. Um deles é o adoecer. Na depressão, a alquimia ocorre entre
a consciência e o inconsciente, para que o equilíbrio do sistema se recomponha
adequadamente.
Depressão
é desconexão do indivíduo com seu eu maduro. É um desligamento psicológico com
o mundo e com a afetividade. Ela sempre estará mostrando o quão insatisfeito o
espírito está consigo mesmo, porém sem coragem para mudar. Nela o espírito cria
um sistema psíquico no qual pretende viver, que se mostra impraticável e sem
saída. Recuar, mudando seu sistema, parece-lhe impossível e vergonhoso,
restando-lhe, inconsequentemente, permanecer à espera de que algo mude
externamente.
A
depressão é um estado psíquico estritamente psicológico, decorrente de fatores
endógenos e espirituais, no qual a consciência sofre uma perda de energia e o
eu sucumbe parcialmente ao inconsciente.
Todo
ser humano tem tendência a entrar em depressão, pois o contato com o inconsciente,
intensificado na depressão, é fundamental ao processo de transformação da alma.
A
depressão possui um núcleo em torno do qual giram os pensamentos do depressivo.
Esse núcleo contém o cerne de seu problema, pois, por causa dele, a energia
psíquica é consumida. Esse núcleo é o foco do problema, isto é, o motivo
principal que provoca a derrocada do depressivo. Nesse núcleo há uma questão
principal da qual o depressivo tem fugido ou se sente incapaz de resolver. Esse
núcleo é o dragão que o depressivo não quer ou não sabe enfrentar, sentindo-se
impotente diante dele. Em muitos casos ele é imperceptível e, de tal forma
sutil, que a pessoa não consegue saber a real razão pela qual entrou em
depressão.
Lidar
com a depressão é o mesmo que entrar em contato com a falta de vida. É perceber
os efeitos danosos que causa a ausência de esperança. Como psicólogo, ao mesmo
tempo em que desejo contribuir para ser útil àquela pessoa que atendo, tenho
vontade de sacudi-la, para que perceba seu grande equívoco em fugir da vida.
São mortas vivas, contrariam a lógica da existência, que é viver, pois não
existe o contrário. Não existe a não vida, pois a morte não a cessa.
Alquimia
do Amor - Adenáuer Novaes