quarta-feira, 3 de abril de 2013

SABER MORRER



Morrer. Desse destino, nenhum ser humano escapará. E, no entanto, como tememos esse momento! Com que dor a maioria de nós pensa no instante da morte.
 
É que fomos ensinados a temer a morte. Ela nos é apresentada como sinônimo de lágrimas, instante de trevas, definitiva separação dos seres amados.
 
Abismo e tristeza. Aprendemos que a morte se faz de luto e mistérios, névoa e saudade.
 
Mas é preciso se preparar para a chegada da hora final. Afinal, a cada dia se reduz nossa estada na Terra.
 
Desde que nascemos, cada respiração assinala a diminuição de nosso tempo no planeta.
 
Porque o ritmo da vida material nos envolve, quase sem perceber, deixamos de lado a lembrança de que caminhamos mais um passo em direção à morte.
 
O fim é apenas do corpo físico, pois a alma – a essência do que somos – esta existirá para sempre. Os séculos correrão, mas nós... Nós sobreviveremos.
 
Nessa longa estrada que é a vida, muito iremos aprender. Outros amores, parentes, lugares e situações irão enriquecer a nossa experiência.
 
E muitos outros corpos servirão de instrumento para o nosso aprendizado.
 
Por isso, nada de demasiado apego ao corpo. Ele é importantíssimo, mas é uma ferramenta de trabalho. Nele temos apenas um auxiliar para a nossa educação.
 
Com a ajuda desse corpo, vivemos na Terra, construímos uma família e nos relacionamos com outros seres humanos. Ele é essencial para a vida em sociedade que burila o nosso Espírito.
 
É que no contato com as outras pessoas temos a oportunidade de exercitar paciência, tolerância, solidariedade e ética.
 
Enfim, pôr em prática gestos e situações que são puras manifestações de amor.
 
E não é esse o objetivo maior de nossa vida: descobrir, exercitar e vivenciar o amor?
 
Nada há a temer na morte quando a vida é plena em amor, quando os dias são perfumados pela bondade, quando a consciência é reta e o dever cumprido.
 
Quem vive assim – de coração sossegado e plantando alegrias – aguarda que a vida cumpra seu ciclo natural.
 
Para este, a hora da morte é serena. Abrirá os portais de um mundo novo, cheio de descobertas: a Casa do Pai Celeste.
 
Um homem de bem morre como alguém que descansa após um dia de trabalho bem feito. Não tem apego a nada, pois sabe que deve devolver a Deus tudo o que recebeu.
 
A renovação é a regra geral da natureza. Quando a morte chega é a hora de devolver ao Mundo o corpo frágil, que se misturará às águas e à terra.
 
Será consumido, alimentará microorganismos. Outros seres viverão a partir dali.
 
E o homem que usou aquele corpo estará longe: abrirá os braços para o infinito. Seus olhos contemplarão estrelas, luzes, cores e formas nunca sonhadas.
 
Seguirá com o coração em festa. Pronto para novas experiências, disposto a aprender e a amar.
 
O poeta Rabindranath Tagore, Prêmio Nobel de Literatura, escreveu sobre a própria morte:
 
É hora de partir, meus irmãos, minhas irmãs.
 
Eu já devolvi as chaves de minha porta
 
E desisto de qualquer direito à minha casa.
 
Fomos vizinhos durante muito tempo
 
E recebi mais do que pude dar.
 
Agora vai raiando o dia
 
E a lâmpada que iluminava o meu canto escuro, apagou-se.
 
Veio a intimação e estou pronto para a minha jornada.
 
Não perguntem o que levo comigo:
 
Sigo de mãos vazias e coração confiante.
 
Redação do Momento Espírita.