sábado, 9 de outubro de 2010

TRABALHO E CONSCIÊNCIA

 

O sol apenas despertara a aurora e a brisa fresca da manhã trazia notícias de que a chegada do inverno estava próxima.

No parque, poucas pessoas faziam sua caminhada matinal, antes dos afazeres diários...

A agitação das aves era notada por aqueles que sabem apreciar esses detalhes da natureza.

Numa árvore próxima a uma pequena ponte, um joão-de-barro construía sua morada.

Lá estava ele...  esticando o pescoço o quanto dava para construir a parte superior do ninho.

Do pequeno monte de barro depositado na parte inferior do ninho, ele retirava porções mínimas com o bico e fazia os retoques nas laterais de sua habitação.

Um trabalho árduo, sim, para quem não tem mãos, não tem ferramentas, não tem ajuda de ninguém...  Tem apenas o bico e asas para voar em busca de matéria prima.

Um pássaro muito pequeno, um exemplo de dedicação e de fidelidade ao instinto recebido do criador.

Aquele joão-de-barro não se importava com seus vizinhos, com os predadores, com as intempéries, apenas construía seu ninho com esmero, sem preguiça, sem desculpas, com dedicação.

Mas nem todos os pássaros são exemplos de dedicação e trabalho.

O chupim, ou engana-tico, pássaro muito comum no Brasil, não constrói ninho. A fêmea procura um ninho de tico-tico ou de outra espécie, joga fora o ovo que encontra e bota ali o seu próprio ovo.

A verdadeira dona do ninho não se dá conta e choca o ovo da invasora até que nasça o filhote.

O filhote de chupim já nasce maior do que sua mãe adotiva, mas esta se desdobra para alimentá-lo até que tenha condições de buscar o próprio sustento.

Duas aves, duas situações bem diferentes.

Uma possui a arte de trabalhar, a outra o instinto de enganar, de roubar, de matar.

Assim também acontece no reino dos humanos.

Existem homens que trabalham com dedicação, seriedade, honestidade, honradez.

E existem pessoas que vivem do esforço alheio. Nada produzem; nada edificam.  Aproveitam-se do trabalho dos outros, e são hábeis no instinto de enganar.

São verdadeiros parasitas sociais. São corruptos, hipócritas, malandros, e se dizem espertos.

Têm orgulho de lesar o erário, lesar pessoas, fazer conluios, conchavos, negociatas...

Enchem os cofres com o dinheiro das drogas, das barganhas, da vilania, das guerras.

São os chupins da humanidade...

Seriam eles os verdadeiros espertos?

Ah, certamente não!

Pobres criaturas que pensam enganar a própria consciência!

Ao contrário do que acontece com os chupins que só tem o instinto animal, o ser humano tem responsabilidade moral sobre todos os atos praticados, em sã consciência.

E, mais cedo ou mais tarde, terão que devolver às soberanas leis que regem o universo moral, tudo o que tenham retirado de forma ilícita.

Desse supremo juiz, do tribunal chamado consciência, nada escapa, nada se burla, nada se perde.(*)

Por isso vale a pena olhar para si, em frente ao espelho e responder com toda sinceridade:

“Sou joão-de-barro, ou sou chupim?”

Em prol da própria saúde mental, se a resposta pender para chupim, vale a pena uma mudança radical de atitude... Porque a vida não termina no túmulo, e todos receberemos conforme nossas obras.

Pense nisso!

 

O trabalho é lei da vida.

Ninguém engana a própria consciência fugindo ao dever.

Na grande folha de pagamento do código divino, estão registrados todos os nossos serviços, nossos desserviços e nossas faltas, e é segundo esses registros que receberemos no além túmulo.

Pense nisso, mas pense agora!

 

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita

ENSAIOS PARA O AMOR

 

Ela era uma velhinha que morava sozinha, em uma grande casa. Não tinha amigos porque, ao longo dos anos, ela os vira morrer, um a um.

Seu coração era um poço de saudade e de perdas. Por isso, ela decidira que nunca mais se ligaria afetivamente a ninguém.

E, para se lembrar que um dia tivera amigos, passara a chamar as coisas pelos nomes dos amigos que haviam morrido.

Sua cama se chamava Belinha. Era grande, sólida e confortável. Mesmo depois que ela se fosse, Belinha continuaria a existir.

A poltrona confortável da sala de visitas se chamava Frida. Haveria de durar muitos anos mais.

A casa se chamava Glória. Tinha sido construída há mais de cem anos, mas não aparentava mais que vinte. Era feita de madeira muito forte, vigorosa.

E o carro, grande, espaçoso se chamava Beto. “haveria de servir”, pensava a velhinha, “para alguém, depois de sua morte.”

E assim vivia a velhinha solitária.

Certo dia, quando estava lavando a lama de Beto, um cachorrinho chegou no portão. O portão não tinha nome, porque ela achava que ele logo teria que ser substituído. Suas dobradiças estavam enferrujadas e a madeira apodrecida.

O animalzinho parecia estar com fome e ela tirou um pedaço de presunto da geladeira e o deu ao cão, mandando-o embora.

Porém, no dia seguinte, ele voltou. E no outro e no outro. Todos os dias, ele vinha, abanava o rabo e ela o alimentava, mandando-o embora.

Ela dizia que Belinha não comportava um adulto e um cachorro, que Frida não gostava que cães sentassem nela e Glória não tolerava pêlo de cachorro.

E Beto? Bom, esse fazia os cachorros passarem mal.

Um ano depois, o animal estava grande, bonito. E tudo continuava do mesmo jeito. Até que um dia ele não apareceu.

Ela ficou sentada na escada, esperando. No dia seguinte, também. Nada.

Resolveu telefonar para o canil da cidade e perguntar se eles tinham visto um cachorro marrom. Descobriu que eles tinham dezenas de cachorros marrons.

Quando perguntaram se ele estava usando coleira com o nome, ela se deu conta que nunca dera um nome para ele.

Sentou-se e ficou pensando no cachorro marrom que não tinha coleira com um nome. Onde quer que estivesse, ninguém saberia que ele tinha de vir todos os dias até seu portão para que ela lhe desse de comer.

Tomou uma decisão. Dirigiu Beto até o canil e falou para o encarregado que queria procurar o seu cachorro.

Quando ele lhe perguntou o nome do cachorro, ela se lembrou dos nomes de todos os amigos queridos aos quais  havia sobrevivido.

Viu seus rostos sorridentes, lembrou-se de seus nomes e pensou em como fora abençoada por ter conhecido esses amigos.

“Sou uma velha sortuda”, pensou.

“O nome do meu cachorro é Sortudo”, disse.

E gritou, ao ver os cães no grande quintal: “aqui, Sortudo!”

Ao som da sua voz, o cachorro marrom veio correndo. Daquele dia em diante, Sortudo morou com a velhinha.

Beto parece que gostou de transportar o cachorro. Frida não se incomodou que ele sentasse nela. Glória não ligou para os pelos do cachorro.

E todas as noites Belinha faz questão de se esticar bem para que nela possam se acomodar um cachorro marrom Sortudo... e a velhinha que lhe deu o nome. 

 

* * *

 

Não temamos nos afeiçoar às pessoas. Ninguém consegue viver sem amor, sem amigos, sem ninguém.

Não nos enclausuremos em solidão, nem percamos a oportunidade extraordinária de amar.

Amemos a quem nos rodeia. Também à natureza e os animais, recordando que tudo é obra do excelente Pai que nos criou.

 

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro A Velhinha que dava nome às coisas, de autoria de Cynthia Rylant, Ed. Brinque Book.