O catolicismo
representa enorme contribuição na formação da civilização ocidental. É também a
filosofia católica uma espécie de molde que, mais tarde, viria a enquadrar a
cultura, restringindo-a a certos padrões, e acarretaria grande influência sobre
o modo de pensar e viver dos espíritos, tanto como indivíduos quanto como
comunidade e sociedade. A tal ponto que, mesmo aqueles ramos do cristianismo
que nasceram de divergências com a igreja – como as religiões da Reforma
protestante e, posteriormente, os movimentos pentecostais –, herdaram do
catolicismo o aspecto místico de suas doutrinas e alguns maneirismos
incorporados à sua vivência cristã.
Seguindo esse
raciocínio, bem como a linha do tempo, o movimento espírita não fugiu à regra.
Ainda mais se considerarmos que o espiritismo, no mundo, originou-se há pouco
mais de 150 anos, ao passo que o catolicismo, há 2 mil anos. Além desses fatos,
a doutrina espírita surgiu em um país extremamente marcado pela tradição
católica, a França, e de lá vai se desenvolver no Brasil, também profundamente
entranhado da presença da igreja romana. Como imaginar que os médiuns da
própria codificação, e os que os sucederam, não seriam influenciados pela
cultura católica de onde viveram? O próprio Allan Kardec, como o cidadão francês
Hippolyte Leon Denizard Rivail, cresce necessariamente em ambiente católico;
nem ao menos os espíritos da codificação escapam dessa realidade – basta
verificar os nomes que assinam grande parte das mensagens de o Evangelho
segundo o espiritismo, por exemplo. Os chamados pais da igreja, os santos e
filósofos católicos comparecem em peso. Não é diferente com os autores
espiritas que se tornaram expoentes da produção mediúnica espírita em terras
brasileiras.
Com isso, é natural
que se observem muitas ideias e práticas católicas, hoje no movimento espirita,
sobretudo no Brasil, presentes nos aspectos mais triviais aos mais subjacentes,
assim como na maneira de encarar a vivência da Doutrina com um ar profundamente
religioso. Até porque os próprios adeptos, em sua maioria, tiveram sua
iniciação religiosa no catolicismo.
Assim sendo não é
raro deparar com comportamentos como a substituição de imagens de santos da
igreja pelas figuras dos mentores, num patamar de reverência quase equivalente
à devoção que os católicos têm por seus ícones. Lideres espíritas assumem a
direção de seus centros como os padres antigos dirigiam suas paroquias. Dos
ritos e procedimentos quase litúrgicos na condução das atividades até a atitude
devocional para com os benfeitores e espíritos em geral, no trato com a
mediunidade; tudo está lá.
À parte a influência
católica sobre as religiões ramificadas do cristianismo, a revelação espírita
de que Jesus é o nome do espírito mais puro, não é uma inovação. Ao contrário,
os próprios apóstolos o corroboram. Pedro afirma que “debaixo do céu nenhum
outro nome há”, enquanto o apóstolo Paulo chega ao auge do êxtase religioso e
afirma até a deidade de Jesus, algo inconcebível para um judeu. Se levarmos em
conta que Paulo vivenciou, desdobrado, situações que, em sua época. Nenhum
homem havia vivenciado talvez ele desejasse exprimir que, para o planeta Terra,
a posição de um deus era algo compatível com a figura de Jesus.