domingo, 6 de março de 2011

A busca do amor

 

Em plena juventude, como fruto verde que aguarda a primavera, esperei intensamente pelo amor.

Todas as manhãs, abria a janela de minha alma e esperava que o novo dia me trouxesse o amor.

E porque ele tardasse a chegar, fechei as portas e janelas, selei os portões e saí pelo mundo.

Andei por caminhos inúmeros e estradas solitárias. Por vezes, ouvia o cortejo do amor que passava ao longe. Corria e o que conseguia ver era somente corações em festa, risos de alegria. O amor passara e eu continuava só.

Algumas noites, chegando às cidades com suas mil luzes piscando vida, ousava olhar para dentro dos recintos. Via mães acalentando filhos, cantando doces canções de ninar; casais trocando juras; crianças dividindo brincadeiras entre risos e folguedos.

Em todos estava o amor. Somente eu prosseguia solitário e triste.

Depois de muito vagar, tendo enfrentado dezenas de invernos, resolvi retornar.

De longe, pude sentir o perfume dos lírios. Quando me aproximei, pude ver o jardim saudando-me.

Você voltou! – Falaram as rosas, dobrando as hastes à minha passagem.

Seja bem vindo! – Disseram as margaridas, agitando as corolas brancas.

É bom tê-lo de volta. – Saudaram os girassóis, mostrando suas coroas douradas.

Tanto tempo havia se passado e, de uma forma mágica, os jardins estavam impecáveis. As cores bem distribuídas formavam arabescos na paisagem.

Uma emoção me invadiu a alma. Abri as portas e janelas do meu ser. Debruçado à janela da velhice, fitando a ponte que me levará para além desta dimensão, o amor passa por minha porta.

Apressadamente, coloco flores de laranjeira na casa do meu coração. Atapeto o chão para que ele entre, iluminando a escuridão da minha soledade.

Tremo de ternura. Já não sofro desejo, nem aflição.

Os olhos felizes do amor fitam os meus olhos quase apagados, reacendendo neles a luz que volta a brilhar.

Há tanta beleza no amor que me emociono.

Superado o egoísmo, não lhe peço que entre e domine o meu coração rejuvenescido.

Em razão disso, agora que descubro de verdade o que é o amor, não o retenho. Deixo-o seguir porque amando, já não peço nada. Agora posso me doar aos que vêm atrás, em abandono e solidão.

Aprendi a amar.

*   *   *

Feliz é a criatura que descobriu que o melhor da vida é amar.

Feliz o que leu e entendeu o cântico do pobre de Assis: É dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, é melhor amar que ser amado.

Por ser de essência Divina, o amor supre na criatura todas as suas necessidades e a torna feliz, mesmo em meio às dificuldades, lutas e tristezas.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. LVII, do livro Estesia, pelo Espírito Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

CONTRIBUIR HOJE

 

Conta-se que um rico fazendeiro foi queixar-se ao padre da paróquia local, dizendo que as pessoas não o viam com bons olhos porque ele não ajudava as outras pessoas nem contribuía com as obras assistenciais da igreja.

Ora, disse o fazendeiro: “Todos sabem que quando eu morrer deixarei tudo o que tenho para a igreja e seus pobres”.

O sacerdote, homem sábio, disse ao fazendeiro:

Vou lhe contar uma história. A história da vaca e do porco.

Um dia o porco foi reclamar com a vaca porque ninguém lhe dava valor. Todos o desprezavam.

Afinal, disse ele, eu dôo tudo o que tenho aos homens. Eles consomem a minha carne, usam meus pelos para fazer pincéis, e aproveitam até meus ossos.

Mesmo assim sou um animal desconsiderado. O mesmo não acontece com você, que dá apenas o leite e é reverenciada por todos, concluiu o pobre porco.

A vaca, que ouvia com atenção, falou: “talvez seja porque eu dôo um pouco de mim todos os dias, enquanto estou viva, e você só tem utilidade depois de morto.”

O fazendeiro agradeceu ao padre pela lição e se retirou pensativo.

E você, em que tem contribuído com a sociedade da qual faz parte, enquanto está a caminho?

Muitos pensam e agem como o fazendeiro. Pretendem dispor dos seus bens apenas depois da morte, quando não precisarão de mais nada.

Outros pensam em doar um pouco do seu tempo ao próximo só depois que se aposentarem.

No entanto, a necessidade não aguarda o tempo propício para visitar os desafortunados.

A carência pede socorro agora, não mais tarde.

A necessidade roga mãos caridosas hoje, não amanhã.

A ignorância solicita esclarecimento imediato, não num futuro distante.

Existem tantas frentes de trabalho aguardando mãos dispostas a se movimentar em prol do semelhante, nos mais variados campos de ação. Basta boa vontade e disposição.

Os recursos que Deus coloca em nossas mãos são para serem movimentados em favor do bem geral, produzindo bem-estar e fomentando a esperança.

E, por recursos, entendemos não só os bens materiais, mas a saúde, a lucidez, as condições favoráveis de modo geral.

Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, perguntou aos Sábios do Além, se para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal.

E os Benfeitores responderam:

“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

Percebemos, assim, que o mal que resulte da nossa omissão ou indiferença, será de nossa inteira responsabilidade perante as leis maiores.

Quando temos condições de praticar o bem e não o fazemos, e daí resultar algum mal, este será por nossa conta.

Questão grave esta, que merece nossa atenção.

Se somos daqueles que dizemos: “eu não faço mal a ninguém”, e achamos que isto basta, reconsideremos nossos conceitos, pois as leis estabelecem que devemos fazer o bem no limite de nossas forças.

E nossas forças contemplam tudo o que dispomos em nosso favor: forças físicas, intelectuais, morais, financeiras.

Assim sendo, é importante que façamos um balanço das nossas possibilidades e as movimentemos, de forma efetiva, na construção de uma sociedade mais justa e mais feliz, agora.

* * *

Se você tem condições de auxiliar uma criança pobre a ter acesso à escola e à saúde, agora, talvez esteja evitando que um criminoso a mais se movimente pelas ruas, amanhã.

Se você pode custear a universidade de um jovem carente, hoje, e não o faz, é bem provável que tenhamos um delinqüente a mais no futuro.

Enfim, se você pode ajudar a construir escolas no presente, por que esperar a necessidade de se construir prisões amanhã?

Pense nisso, mas pense agora.

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base na pergunta 642 de O Livro dos Espíritos e em história do vídeo “Um impulso para as águias”, da empresa Siamar.