sábado, 19 de março de 2011

MORRENDO PARA VIVER

Conta-se que, no tempo de Buda, uma jovem chamada Kisa Gotami sofrera uma série de tragédias. Primeiro foi seu marido que morreu, depois um outro familiar.

Tudo que lhe restava era seu único filho. Logo ele também adoeceu e morreu. Lamentando-se de dor, ela tomou nos braços o corpo do filho morto e passou a carregá-lo por toda parte, pedindo ajuda.

Deveria haver, em algum lugar, alguém ou algo, um remédio, uma poção que o trouxesse de volta à vida.

Sua busca, no entanto, se mostrou infrutífera. Até que ela se achegou frente a Buda, que estava ensinando em um bosque.

Aproximando-se, suplicou em pranto para que ele trouxesse seu filho de volta à vida.

Buda, de imediato, concordou. Disse-lhe, contudo, que ela precisava lhe trazer um punhado de sementes de mostarda. Com um detalhe muito importante. Deveria obter as sementes de uma família onde ninguém tivesse morrido. Nem pai, nem mãe, nem esposo, nem filho ou amigo.

A jovem voltou correndo para a vila. Na primeira casa que entrou e explicou a sua tragédia, logo recebeu as sementes. Quando se retirava, lembrou-se de perguntar se alguém morrera naquela casa.

Sim, disseram eles. Foi no ano passado.

Ela saiu a correr. Entrou na casa ao lado. E na outra. E outra mais. Em todas, alguma morte havia ocorrido. Era uma tia, um filho amado, uma filha recém-nascida. Um pai amoroso. Uma mãe carinhosa.

O que quer dizer que, depois de uma longa busca, ela não encontrou nenhum lar que não tivesse entrado em contato com a morte.

Debruçando-se de dor, deu-se conta de que o que acontecera a ela e ao seu filho, acontece a todos. Todos os que nascem, morrem um dia.

Então, carregou o corpo do filho morto até onde estava Buda e lá o enterrou.

Depois, curvou-se diante de Buda e pediu que ele lhe ensinasse as coisas que lhe trouxessem sabedoria e refúgio, neste mundo onde se nasce e se morre.

Os ensinamentos de Buda calaram profundamente em seu coração e ela iniciou a importante atitude de educar-se para a morte.

* * *

Na qualidade de pais, nos preocupamos bastante em educar os nossos filhos, desejando vê-los se tornarem cidadãos produtivos e honrados.

O nosso é o anseio de os ver progredir, alcançar êxito na vida, sucesso em suas carreiras profissionais. Tornarem-se pais e mães conscientes.

Tudo muito louvável. Mas seria bastante oportuno que nos lembrássemos de os preparar, desde a infância, para a realidade da morte.

Isto porque o encontro com a morte é certo. Informá-los a respeito do que ela significa e afastar o terror de a enfrentar, acenando-lhes com a vida imortal é sinal de previdência e sabedoria.

* * *

É curioso notar que em nosso tempo cuidamos da educação para a vida e esquecemos de que vivemos para morrer.

A morte é o nosso fim inevitável e, no entanto, chegamos a ela sem o menor preparo.

Quem primeiro cuidou da educação para a morte, em nosso tempo, demonstrando a necessidade do homem aprender a morrer, foi o mestre francês Allan Kardec.

Por anos seguidos, ele falou a respeito com os Espíritos dos chamados mortos e, em agosto de 1865, lançou uma obra que descreve a situação dos Espíritos no plano espiritual.

Chama-se O céu e o inferno - a Justiça Divina segundo o Espiritismo.

Redação do Momento Espírita,

com base em conferência proferida por Divaldo Pereira Franco.

Construindo o Amor

 

By Ananias Viriato.

Entrando na questão do amor romântico, temos, primeiramente, o período da paixão, do encantamento. Este período pode ser um prelúdio de um amor imenso, mas não necessariamente "o amor inteiro". O encantamento acaba. Então, quando isto acontece, pode dar-se que os enamorados sintam-se confusos, pensando que o *amor* acabou, quando, na verdade, está apenas começando. Pode dar-se que fiquem sem saber o que fazer do que veio depois do fim do encantamento - um sentimento às vezes até imenso pelo outro, mas sem as idealizações românticas de outrora.

Por muito tempo, pensamos que todos os nossos problemas e carências deviam acabar a partir do momento mágico em que disséssemos "eu te amo" e ouvíssemos um arrebatado "eu também" como resposta. Mal sabíamos nós que este é apenas o começo da caminhada, jamais o final dela.

Já compreendemos que a paixão é finita, mas também entendemos que precisamos de algo infinito para sermos plenos. Desta forma, atravessamos um período bastante notável neste pormenor, em que uma série de paradigmas se reestruturam e tendem a provocar, a médio ou longo prazo, um maior amadurecimento das relações amorosas.

Se não, vejamos: tempos atrás, notadamente no Séc. XIX, a aspiração suprema masculina, quando se falava de encontrar uma parceira para construir um casamento, era encontrar uma jovem delicada, espirituosa, preferencialmente virgem, pura, inocente e mais ou menos submissa, enquanto a feminina era encontrar um príncipe encantado que tivesse o vigor de um menino, o olhar seguro de um pai, fosse capaz de defendê-la com uma espada, se fosse preciso, mas também fosse capaz de ofertar-lhe flores simplesmente porque não tivesse condições de olhá-las sem pensar na estrela de seus dias.

Presentemente, as pessoas começam a perceber que perfeição não existe e que o que podemos viver é um amor real, recheado de encontros e desencontros, certezas e procuras, lágrimas e idílio, medo e segurança, descrença e fé. Estas sensações são inerentes à transição de um período para o outro o qual, no fundo, não se alterou totalmente.

Digo isto porque, intimamente, muitas mulheres procuram um homem que *as faça feliz* - Resquício da idéia do príncipe encantado - e muitos homens - cada vez menos, fique posto - procuram garotas virgens, o que nada mais é que um resquício da busca pela jovem inocente de outros tempos.

É natural que este período se dê mediante transição e confusão por parte dos espíritos os quais, muito provavelmente, eram os mesmos que estavam contracenando na Terra à época das etapas que a humanidade atravessou, anteriormente.

Assim é que, quanto mais evoluímos, maior é nossa capacidade de construir felicidade no "amor romântico", visto que seu sucesso está intimamente ligado ao nosso próprio amadurecimento social, psicológico e espiritual.

Em tempo, é evidente que o amor, como assinatura de Deus em nossos corações, venha sempre carregado de uma dose emocional imensa e que isto, inclusive, seja muito positivo, caso bem administrado.

Por mais que compreendamos que a paixão é passageira, desejamos encontrar alguém com quem possamos estar sob um céu prateado de luas e estrelas e um chão aparentemente coberto por pétalas de rosas; as mãos entrelaçadas roçando levemente a areia, enquanto os olhos mergulhados um no outro falam de poemas sem palavras, carregados da eternidade da procura e da plenitude do encontro; ainda sonhamos com declarações arrebatadas, pés fora do chão, poesias entre os dedos , o mundo todo redigido para ser doce, íntimo, perfeito e seguro; ainda sonhamos encontrar alguém com quem possamos ser nós mesmos sem medo de que ele nos deixe, de entregar nosso coração sem receio de que ele desdenhe do gesto e nos deixe a sós com tanto sentimento.

A certeza de que este desejo existe dá-nos medo, um medo verdadeiramente intenso e é este medo, muitas vezes, que nos faz abdicar das possibilidades mais sublimes do amor para aderirmos à menor parte que as relações afetivas podem nos oferecer: a estreita satisfação dos sentidos.

Evidente que ela é importante e deve ser contemplada, mas proporciona apenas pequena porção da felicidade que um relacionamento amoroso, ainda que imperfeito, pode nos ofertar.

Por ser o que costumam chamar de "observador compulsivo", sempre anelo apreender das pessoas e situações mais que o estritamente óbvio, buscando absorver gestos, inflexões de voz, olhares e correlatos.  Isto às vezes traz bons resultados, às vezes, não; algumas vezes concluo corretamente, outras, não.  O fato é que sempre que observo pessoas que se confessam adeptas do "amor livre" ou do "amor sem compromisso", pressinto que uma enorme parte dela clama, espera e deseja encontrar algo maior, algo mais amplo que o que as sensações estritamente físicas podem nos oferecer. Todos querem ser olhados de forma mais profunda, mais intensa, mais etérea; todos desejam noites estreladas com a areia atapetada de rosas e juras secretas, entretanto, todos têm medo.

Aprenderam, por ouvir falar ou por experiência própria, que o encantamento é efêmero e não sabem o que fazer com o que virá depois; entenderam que o "príncipe encantado" e a "virgem serena e meiga" ficaram em outro tempo, compreendem que amor é complexo e sentem muito medo disto.  Sabem que não é possível amar de verdade sem confiar plenamente, entregar cada gota da sua essência e não sabem como doarem-se tanto e continuarem inteiros; como apostar tanto e reagir caso tudo saia errado; como confiar tanto no outro, sabendo, de antemão , que ele é imperfeito e vai falhar, mais dia, menos dia.

Enquanto isto, vendem-nos idéias muito discutíveis, cuja aplicação irrestrita piora, em lugar de amenizar a situação.

Dizem-nos, dentre outras coisas, que o mais importante em um relacionamento afetivo é a qualidade do sexo, colocando-o como causa, não como conseqüência de um envolvimento mais aprofundado; também dizem-nos que, caso seu namorado ou esposo te "dê trabalho", mostre-se imperfeito, você pode simplesmente "partir para outra", porque esta pessoa não pode te fazer feliz e você merece alguém melhor.

Evidente que não me refiro a casos em que a separação é uma questão de auto-amor, mas àqueles em que as menores divergências são motivos para que a relação se desfaça.

Oxalá compreendamos, com a menor gama de sofrimento possível, que o amor verdadeiro é construído na vivência e superação das dificuldades, no equilíbrio entre aceitação e busca da melhora do outro, no empenho pelo nosso auto-conhecimento e na compreensão de que nossa capacidade de amar o outro está intimamente ligada à nossa condição de amar a nós mesmos de forma verdadeira e intensa.

Oxalá não esteja longe o dia em que esperemos que apareça uma pessoa para nos fazer feliz ou resolver nossos problemas e, sobretudo, que saibamos administrar com sabedoria e ternura um aspecto tão pulsante, complexo e importante para nossa existência - e aqui refiro-me à existência enquanto seres imortais.

O Amor na expressão mais sublime faz parte da centelha divina que está na origem do Espírito, portanto imortal, caminham juntos nas espirais da Evolução.  (by Waldir)

É o que nos impulsiona adiante e que nos faz descobrir Deus em nós e no próximo.

Quem realmente aprendeu a amar alguém, está mais perto de amar a humanidade.