terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

AMOR E DIÁLOGO



O casal acordou naquela manhã, sentindo uma emoção diferente. Estavam completando cinquenta anos de matrimônio.
 
Haviam envelhecido juntos. Inúmeras lembranças se somavam em suas mentes.
 
Os primeiros momentos do namoro, os primeiros anos de vida a dois, os filhos, as dificuldades, os acertos e desacertos, os netos.
 
Os pensamentos surgiam-lhes na mente como uma avalanche e, dessa forma, tudo parecia ter começado ontem.
 
Os dois se sentaram à mesa para o café. Ela tomou a fatia de pão e passou a manteiga. Ia colocar no seu prato, quando resolveu diferente.
 
Durante cinquenta anos, todas as manhãs, dei a ele o miolo do pão, a parte macia, mais gostosa. - Ela pensou.
 
Eu sempre quis comer a melhor parte. Mas porque amo meu marido, sempre dei a ele o miolo do pão. Hoje vou satisfazer o meu desejo. Vou me dar um presente.
 
Então, estendeu para o marido a casca do pão. Para sua surpresa, ele a apanhou, sorriu e falou com entusiasmo:
 
Obrigado por este presente. Durante todos esses anos, sempre quis comer a casca do pão. No entanto, como você gostava tanto, eu nunca tive coragem de pedir a você.
 
* * *
 
Num primeiro momento, o que sobressai do episódio narrado é o grande amor que unia aquele casal. Um amor que sempre soube abrir mão de algo que gostava muito, em favor do outro.
 
Contudo, se examinarmos bem o fato, vamos descobrir que, embora o amor recíproco que sentiam, o diálogo andava bem distante.
 
Imagine. Viver cinquenta anos ao lado de uma criatura, sofrer, penar, alegrar-se, fazer tantas escolhas e, no entanto, não conversar das coisas simples do cotidiano?
 
Dialogar significa conversar, trocar ideias. Falar e ouvir. Ouvir e falar.
 
Se você está vivendo a experiência matrimonial, pense quando foi a última vez que vocês estabeleceram um diálogo franco e amigo.
 
Analise se, ao chegarem em casa, cada um tem se isolado em seu mutismo. Se, eventualmente, não tem cada um assistido o seu programa de televisão preferido, a sós.
 
Ou então se, enquanto um se distrai com a programação da televisão, o outro mergulha na leitura interminável dos jornais.
 
A ausência de diálogo caracteriza desinteresse pelos problemas do outro e gera a falta de intercâmbio de opiniões.
 
Antes que as dificuldades abram distâncias e os espinhos do cansaço e do tédio produzam feridas, tomemos providências.
 
Abramos mutuamente o coração e reorganizemos a vida matrimonial.
 
Descubramos, mais uma vez, o gosto pelo diálogo. Interessemo-nos pelos problemas e participemos das conquistas individuais.
 
Restabeleçamos a ponte do diálogo, a fim de que um possa penetrar em profundidade no coração do outro, numa doce descoberta de dons, virtudes, anseios e ideais.
 
* * *
 
O matrimônio é uma experiência de reequilíbrio das almas no orçamento familiar.
 
O diálogo aberto e sincero fortifica os laços do afeto, permitindo o amadurecimento das emoções e a correção das sensações.
 
Enfim, oportuniza que ambos somem esforços, não simplesmente olhando um para o outro, mas olhando ambos para a mesma direção.
 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Amor em silêncio, de autoria ignorada, e no cap. Responsabilidade no matrimônio, do livro S. O. S. Família, por Espíritos diversos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. USE.

A CORAGEM DA PALAVRA ESCRITA



Todos os dias, publicações das mais diversas chegam às prateleiras das livrarias. Vivemos um tempo em que publicar um livro se tornou fácil.
 
Isso permite que abundem as nulidades e que se publique tantas e tantas páginas sem verdadeiro conteúdo.
 
Literatura que não soma, que não acrescenta algo de útil e bom ao ser humano.
 
Ao longo da história da Humanidade, contudo, a palavra escrita se fez presente, iluminando mentes, alertando o povo.
 
Inúmeros são os exemplos nos tempos passados e, na atualidade, ainda em alguns países, de escritores que ousaram utilizar a sua pena para criticar governantes, denunciar ditaduras, protestar contra a injustiça.
 
Romancistas, jornalistas, amantes da verdade se serviram da palavra escrita para lutar por direitos humanos, para esclarecer as mentes.
 
Em épocas de repressão, se tornaram heróis, tendo alguns deles, pago sua ousadia com prisão e tortura.
 
Mulheres corajosas, nesse contexto, não faltaram. Recordamos de Rachel de Queiroz que, com apenas dezessete anos, enviou uma carta ao jornal O Ceará, ironizando determinado concurso.
 
O sucesso foi tão grande que ela foi convidada a colaborar com aquele veículo da imprensa.
 
Durante trinta e um anos foi cronista exclusiva da extinta revista O Cruzeiro. Enquanto o Brasil tentava a sua redemocratização, Rachel usou o espaço que dispunha nesse veículo de alcance nacional para conclamar o povo a bem utilizar da sua qualidade de cidadão.
 
Mulher de coragem em tempos tão conturbados, escreveu: Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político, que se chama governo democrático, ou governo do povo.
 
Em política, a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.
 
No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo.
 
Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de fazer o governo.
 
Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia.
 
Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vai governar por determinado prazo de tempo.
 
Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas – e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis!
 
A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
 
E conclui: Votem, irmãos, votem... Mas não se esqueçam de que dentro da cabine indevassável vocês são homens livres... O voto é secreto.
 
* * *
 
Sim, escritores os há muitos. Também brasileiros de valor que se preocuparam e se preocupam com os destinos da Pátria do Cruzeiro. Por amá-la, a desejam grandiosa, livre, vitoriosa.
 
E felizes os seus filhos, com direito de trabalhar e progredir.
 
Unamo-nos a eles, realizando a parte que nos cabe.
 
Redação do Momento Espírita, com frases da crônica Votar, de Rachel de Queiroz, da revista O Cruzeiro, de 1947.