sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

MEU FILHO E AS MANHÃS


Hoje pela manhã, como de costume, antes de sair para trabalhar, visitei o quarto de meu filho.
 
Considero uma espécie de ritual sagrado de todas as manhãs: chegar bem perto de seu berço, ajeitar sua coberta com cuidado, aninhá-lo com carinho para que não se descubra.
 
Passo então minhas mãos, algumas vezes, sobre seus cabelos macios, e digo em pensamento: “Como eu te amo!”
 
Ele normalmente se move com suavidade, como se reagisse de alguma forma ao estímulo externo durante o sono.
 
Continua ali, em silêncio, em paz, preparando seu corpinho e sua alma para mais um dia de descobertas felizes.
 
Despeço-me, procurando não fazer ruídos, e saio porta afora com a alma leve, pronto para enfrentar mais um dia no mundo.
 
Da próxima vez que o vir, mais tarde, ele já estará desperto, correndo pela casa, brincando com seus carrinhos, e irá me conceder mais uma alegria: a de receber seu sorriso, que sem dizer nada, diz tudo.
 
Por mais que alguns dias sejam difíceis, por mais que as batalhas sejam ferrenhas e desgastantes, tudo se acalma, tudo se conforta naquele sorriso.
 
Os sorrisos de criança têm um poder quase mágico, e os de nossos filhos mais ainda.
 
Eles parecem querer nos fazer perceber que, por mais que a vida seja tormentosa, cheia de pequenos e grandes espinhos que provocam dor, muita alegria ainda existe.
 
Por mais que neste exato instante existam “n” pessoas desejando não mais viver, se enfraquecendo nas lutas, desejando desistir, existem outras tantas almas agradecendo pela vida, num júbilo contagiante.
 
E tenho certeza de que “ser pai” é mais um desses motivos de alegria plena, de gratidão a Deus, e mais uma das muitas razões que temos para continuar sempre, sem desistir.
 
Meu filho e as manhãs me ensinam sempre esta lição preciosa, a da renovação, do renascimento da água e do Espírito.
 
*   *   *
 
Muitos pais se queixam de não terem visto seus filhos crescerem.
 
Passa tão rápido! Não me lembro mais! – são expressões que ouvimos com frequência.
 
Será que estamos atentos aos nossos filhos como deveríamos estar? Será que passa tão rápido assim, a ponto de guardarmos tão poucas lembranças?
 
Ou há alguma coisa errada com o tempo, ou há alguma coisa errada conosco.
 
Seria tão bom poder ouvir de um pai, de uma mãe: Lembro-me de cada nova conquista, de cada dia da infância, de cada nova palavra...
 
Seria tão bom poder ouvir: Curti cada dia ao seu lado, meu filho, quando você era pequenino, como se fosse o último. Não perdi oportunidade alguma junto a você.
 
Aproveitemos o tempo junto a eles, em qualquer idade, em qualquer condição de vida.
 
Curtamos a existência ao seu lado, anotando no coração cada beleza, cada nova descoberta, tirando fotografias com a alma – registrando no íntimo do ser cada sorriso em seu rosto.
 
Redação do Momento Espírita.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A ARTE DA IMPERFEIÇÃO


Algumas pessoas são conhecidas como perfeccionistas. O vocábulo significa pessoa que tem a tendência obsessivamente exagerada para atingir a perfeição naquilo que faz.
 
Realizar o melhor no que se faça é qualidade elogiosa. Contudo, quando beira à obsessão, traz infelicidade à pessoa e aos que convivem com ela.
 
Se for alguém com cargo de chefia, bastante complicado será conseguir uma equipe de trabalho que consiga atender as suas exigências.
 
No trato doméstico, por sua vez, difícil será lhe atender às expectativas, pois nunca a roupa estará impecável como deseja, ou a comida com o exato sabor, ou os móveis com total ausência do mínimo pó.
 
A pessoa acaba por gerar em torno de si um halo de antipatia e má vontade porque, de antemão, todos já sabem que, por mais se esforcem, nunca alcançarão o grau de perfeição por ela idealizado.
 
Conta-se que, no século X, o jovem Rikyu queria aprender os complicados rituais da cerimônia do chá e procurou o grande mestre Takeno Joo. Para poder aceitar o rapaz, era necessário submetê-lo a um teste.
 
Então, o mestre mandou que ele varresse o jardim. Rikyu limpou o jardim até que não restasse nem uma pequena folha fora do lugar.
 
Ao terminar, examinou cuidadosamente cada centímetro da areia do impecável jardim. Cada pedra estava em seu lugar e todas as plantas estavam perfeitamente ajeitadas.
 
Porém, antes de apresentar o resultado ao mestre, Rikyu chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam, displicentes, pelo chão.
 
Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu tornou-se um grande mestre do chá e, desde então, é reverenciado como aquele que entendeu a essência do conceito de Wabi Sabi: a arte da imperfeição.
 
Perceber a beleza que se esconde nas imperfeições do mundo é uma arte. Os tapetes persas sempre ostentam um pequeno erro, um minúsculo defeito, com o objetivo de lembrar a quem olha de que só Deus é perfeito.
 
Assim é a condição humana, e a arte da imperfeição começa quando aprendemos a reconhecê-la e aceitá-la.
 
A sabedoria está em saber viver no mundo, em harmonia com o mundo, respeitando tudo e todos.
 
Perceber a Sabedoria Divina na diversidade das cores na natureza e na pele dos homens.
 
Por isso, cada criatura é especialmente única em termos de sentimentos e qualidades. Ninguém é igual ao outro, como na natureza, nenhuma folha é exatamente igual à outra.
 
Isso fala da grandeza de Deus. Isso nos convida a sermos compreensivos com as qualidades do próximo que nos serve, que convive conosco, que nos ama.
 
Apreciar a peraltice da criança inquieta, o andar lento e descompassado de quem venceu os anos e avança no novo século, de quem tem a agilidade do vento, de quem traz a cabeça mergulhada em sonhos.
 
Vivamos, portanto, no mundo, amando, servindo e investindo em nosso aperfeiçoamento moral.
 
E aprendamos a olhar as pessoas como sendo as flores da cerejeira caídas de forma displicente, bordando delicadamente o verde gramado, com a certeza de que elas conferem a verdadeira beleza a esse imenso jardim de Deus, chamado Terra.
 
Redação do Momento Espírita, com base em pesquisa sobre Wabi Sabi, A arte da imperfeição.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O SUTIL AROMA DA GRATIDÃO


A vida dos grandes compositores, de um modo geral, foi assinalada por dramas e tragédias. Giuseppe Fortunino Francesco Verdi não fugiu à regra.
 
Jovem, foi ser professor musical de Margherita Barezzi, por quem se apaixonou.
 
Casados, tiveram dois filhos que morreram na infância, enquanto Verdi trabalhava em sua primeira ópera. E, enquanto ele compunha sua segunda ópera, Um giorno di regno, morreu sua esposa, com apenas vinte e sete anos.
 
Devastado pela dor, ele prometeu que não voltaria a compor. Não demorou muito para que a penúria lhe batesse à porta e tivesse crédito cortado em qualquer local em que pretendesse se alimentar.
 
Conta-se que, certa noite, em que o frio castigava a cidade, viu na rua uma mulher com duas crianças. Ela cozinhava castanhas, em um fogo improvisado.
 
Ele retirou o cachecol, ofereceu-o para a mulher e, humildemente, perguntou: Poderia me dar algumas castanhas, em troca disto?
 
Condoída, a mulher devolveu o cachecol com algumas castanhas. Enquanto as crianças a olhavam, sem entender, ela afirmou:
 
Ele está sentindo muito mais fome do que nós.
 
Dois anos mais tarde, no entanto, ele estreou a sua ópera Nabuco, que o tornou famoso em Milão.
 
Com boas roupas, crédito, um bom lugar para morar, ele voltou às ruas para procurar a mulher que lhe matara a fome, em noite invernosa.
 
Encontrando-a lhe perguntou se ela se recordava dele. Ele estava muito bem trajado para que ela o pudesse associar ao quase mendigo a quem ofertara algumas castanhas, em dias passados.
 
Ele lhe disse: Mas eu me lembro da senhora e não esquecerei o seu gesto.
 
Agasalhou-a em um xale para vencer a friagem das horas, e lhe colocou nas mãos algumas moedas.
 
E desapareceu na noite.
 
* * *
 
Felizes os corações agradecidos. Aqueles que não esquecem as bênçãos recebidas, os favores ofertados.
 
Alguém escreveu que uma das forças mais poderosas que existe - e pouco compreendida - é o poder da gratidão.
 
A gratidão engloba a força do reconhecimento de um poder superior a nós, que mexe com as engrenagens do Universo.
 
O ato de agradecer é maior do que qualquer dogma religioso.
 
Engloba também a força do pensamento positivo, que permite que possamos desenvolver o otimismo e a confiança em nós e no futuro.
 
E, com certeza, não nos faltam motivos para agradecer:
 
O fato de estar vivo, o estar ouvindo ou lendo esta mensagem.
 
Também pelas dificuldades do caminho. Elas se constituem em fortalecimento próprio e nos permitem que nos tornemos seres melhores e mais humanos.
 
São como as pedras no caminho que conferem maior segurança a quem transita, em dias de chuva e lama.
 
Talvez uma boa prática fosse destinar cinco minutos diários para espalhar o aroma sutil da gratidão.
 
Poderíamos nos servir de breves linhas, bilhetes deixados em locais estratégicos, curtas mensagens enviadas pelo telefone móvel.
 
Agradecer pelo carinho dos pais e amigos, pelo valor dos professores e profissionais médicos. Por quem nos serve o alimento, por quem providencia a limpeza do ambiente.
 
Ou para pessoas que, simplesmente, em certo momento, nos ofertaram a palavra certa.
 
Pensemos nisso.
 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos de Humberto Bez Batti, do site www.sonoticiaboa.com.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

DESCONTROLE


Naquele dia de sol, Mário chegou feliz e estacionou o reluzente caminhão em frente à porta de sua casa. Após vinte anos de muita economia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, ele conseguira.
 
Comprara um caminhão.  Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a sua aquisição. A partir de agora, seria seu próprio patrão.
 
Ao chegar próximo do veículo, uma cena o deixou descontrolado. Seu filho, de apenas seis anos, estava martelando alegremente a lataria do caminhão.
 
Irritado, aos berros, ele investiu contra o filho. Tomou o martelo das mãos dele e, totalmente fora de controle, martelou as mãozinhas do garoto.
 
Sem entender o que estava acontecendo, o menino se pôs a chorar de dor, enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena.
 
Na sequência, ela trouxe o marido de volta à realidade e juntos levaram o filho ao hospital, para fazer um curativo nos machucados.
 
O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram ser muito grave. As marteladas nas frágeis mãozinhas tinham feito tal estrago que o garoto foi encaminhado para imediata cirurgia.
 
Passadas várias horas, o cirurgião veio ao encontro dos pais e lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão e os dedinhos tiveram que ser amputados. De resto, falou ainda o médico, a criança era forte e tinha resistido bem ao ato cirúrgico. Os pais poderiam aguardá-lo no quarto para onde logo mais seria conduzido.
 
Com a morte no coração, os pais esperaram que a criança despertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai, o menino sorriu e falou:
 
Papai, me desculpe, eu só queria consertar o seu caminhão, como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo.
 
O pai, com lágrimas a escorrer pela face, em desconsolo, se aproximou mais e lhe disse que não tinha importância o que ele havia feito. Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido estragada.
 
O menino insistiu: Quer dizer que não está mais bravo comigo?
 
Não mesmo, falou o pai.
 
Então, perguntou a criança, se estou perdoado, quando é que meus dedinhos vão nascer de novo?
 
* * *
 
Toda vez que perdemos a calma, perdemos também a lucidez e o bom senso. Nesses momentos, podemos cometer muitas tolices.
 
E quando investimos contra as criaturas que amamos, podemos machucá-las muito. Podemos feri-las com palavras e com atos.
 
E, em se tratando de crianças, que são frágeis e ficam indefesas frente ao descontrole dos adultos, tudo assume maior gravidade.
 
Jamais nos permitamos a ira, que é sempre má companhia. Domemos as nossas tendências e impulsos agressivos, recordando que nada na vida é mais precioso do que as pessoas.
 
As coisas que possamos adquirir nos servirão por algum tempo, mas, somente os nossos amores estarão conosco sempre, não importando o local, as condições que venhamos a nos encontrar.
 
Preservemos a calma e ofertemos para aqueles que são os sóis das nossas vidas somente o carinho, a ternura e as doces manifestações do amor.
 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Não vale chorar, de autoria de Maurício Dias.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

VIOLETAS-DOS-ALPES


Nos dias que transcorrem, a Organização Mundial de Saúde afirma que a grande pandemia é a depressão.
 
É de nos perguntarmos por que, num mundo onde a tecnologia melhorou o nosso conforto e ampliou a possibilidade de comunicação, isso ocorre.
 
Temos as casas iluminadas pela luz elétrica, os ambientes aquecidos nos dias invernosos e refrigerados para os dias de calor intenso.
 
Rádio, televisão, internet, celulares, tudo nos informa do que ocorre, em qualquer lugar do mundo, em tempo real.
 
Vencemos grandes distâncias em modernas aeronaves, em poucas horas. Atravessamos oceanos, mares, fronteiras.
 
A indústria farmacêutica desenvolveu medicamentos para nos diminuir a dor e curar muitos males.
 
Por que somos, então, tão depressivos? O que nos falta para sermos felizes, para vivermos a felicidade?
 
Conta-se que rica dama da sociedade entrou em profundo estado de depressão. Apreensivos, os familiares procuraram o psiquiatra mais famoso, a fim de que a fosse tratar.
 
Ele chegou na casa e a viu largada sobre o leito. Pediu licença para conhecer toda a casa.
 
Observou que as paredes eram pintadas com tons escuros, cinza. Sobre a mesa da sala, amontoavam-se cartas, telegramas, cartões, ainda fechados.
 
Do lado de fora, ele encontrou um jardim de inverno e, em múltiplos vasos, havia plantas muito belas, com flores elegantes.
 
Ele as identificou: eram Violetas-dos-Alpes. Muitas.
 
Retornou ao quarto da sua paciente e começou a conversar.
 
Ela lhe confessou que as cores escuras da casa traduziam o estado da sua própria alma. Ela estava triste. Tudo devia mostrar tristeza.
 
Quando ele mencionou as Violetas-dos-Alpes e as elogiou, ela disse que vivia somente por causa delas. Eram sua única razão de viver.
 
Todos os dias, ela levantava da cama, cuidava daquelas flores e depois voltava para o leito, abraçando a sua depressão.
 
Ele propôs um tratamento especial. Nada de remédios. Mas, a partir daquele dia, a fez prometer que abriria os convites que recebesse e, mesmo não indo a nenhum aniversário, casamento ou formatura, mandasse um vaso com Violetas-dos-Alpes.
 
Para a família, recomendou que instruísse amigos e parentes a ela enviarem muitos convites, de toda e qualquer cerimônia.
 
Ela cumpriu a promessa e para cada convite que chegava, mandava um vaso com suas violetas. Depois de algum tempo, os vasos acabaram.
 
Ela precisou ir à floricultura comprar mais vasos, mudas. Encontrara um objetivo para sua vida.
 
Quando morreu, dez anos depois, o jornal da cidade estampou a notícia: Morreu a dama das violetas. Deixou uma linda herança da sua vida.
 
Em todas as casas de nossa cidade, há um vaso de violetas.
 
* * *
 
Quando nos dispusermos a fazer alguma coisa pelas pessoas, pelo mundo, por alguém, encontraremos um alto objetivo para nossas vidas.
 
E descobriremos a alegria de produzir beleza, de produzir felicidade. Nesse dia, baniremos a depressão e principiaremos a viver na Nova Era, a era da felicidade, da alegria.
 
Talvez seja importante nos indagarmos: Para quem vou mandar, hoje, um vaso de violetas?
 
Redação do Momento Espírita, com narração de fato relatado por Divaldo Pereira Franco, no seminário Amanhecer da nova Era, desenvolvido em Bonn, Alemanha, no dia 11 de maio de 2013.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

A VIRTUDE


Há alguns anos, conta o escritor Malba Tahan, uma pitoresca aldeia da Suíça foi destruída pelo fogo. Em poucas horas, as lindas casas foram devoradas pelas chamas. Tudo ficou reduzido a escombros.
 
Passado o furor do incêndio, um dos moradores ficou tomado de grande desespero. Sua casa estava por terra, totalmente destruída. Nada lhe havia sobrado. Nem roupas, nem móveis, sequer algumas paredes. Tudo jazia por terra.
 
Pior, das suas vacas, que eram o seu sustento, não havia rastro em lugar algum. Para cúmulo da desgraça, o seu filho, de apenas sete anos, estava desaparecido.
 
O pobre homem se pôs a chorar. Nenhuma palavra de conforto o podia acalmar. Sentou-se sobre as ruínas do seu lar e passou toda a noite tristemente.
 
Quando surgiu alegre e fagueira a madrugada, os primeiros raios de sol romperam as trevas e o vieram encontrar ainda ali, sentado, inconsolável. Parecia ter envelhecido dez anos, em apenas uma noite.
 
Então, um som bem conhecido o fez erguer a cabeça e olhar na direção de onde o vento lhe trazia a boa notícia. Lá estava ela, vindo pela estrada, a sua vaca favorita.
 
Atrás dela, todas as outras e, por fim, seu filho querido.
 
Correu, abraçou o menino, entre lágrimas de pura alegria.
 
Meu filho, perguntou, como você conseguiu escapar do incêndio?
 
Muito simples, falou a criança. Quando vi o fogo, tratei logo de reunir as vacas e as levei para o campo, bem distante, a fim de que nada sofressem.
 
Você é um herói, exclamou o pai.
 
Claro que não, afirmou o garoto. Herói é aquele que pratica algum ato de valor. Eu levei as vacas para o campo somente porque vi que elas estavam em perigo. Sabia que era a única coisa acertada a fazer.
 
* * *
 
Assim agem as pessoas verdadeiramente virtuosas. Não alardeiam suas virtudes, mas praticam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmas.
 
Deixam-se guiar por suas inspirações e estão sempre aptas a grandes gestos, em favor dos demais.
 
Não aguardam elogios e a sua é a satisfação de realizarem o melhor.
 
Os que assim agem, ignoram mesmo que são virtuosos. Neles se encontram as qualidades da verdadeira virtude: são bons, caritativos, laboriosos, sóbrios, modestos.
 
* * *
 
Toda virtude tem seu mérito próprio, ensinam os Espíritos Superiores, porque todas indicam progresso na senda do bem.
 
Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores.
 
A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto.
 
A mais meritória de todas elas, é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada.
 
Redação do Momento Espírita, com base em lenda do livro Lendas do céu e da Terra, de Malba Tahan, ed. Conquista; no item 893 de O Livro dos Espíritos e no item 8, do cap. XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ambos de Allan Kardec, ed. Feb.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

UM GESTO DE AMOR


Um garoto pobre, com cerca de doze anos de idade, vestido e calçado de forma humilde, adentra a loja e pede ao proprietário que embrulhe para presente um sabonete comum.
 
É presente para minha mãe, diz com quase orgulho.
 
O dono da loja ficou comovido diante da singeleza daquele presente. Olhou com piedade para o seu freguês e, sentindo uma grande compaixão, sentiu vontade de ajudá-lo.
 
Pensou que poderia embrulhar, junto com o sabonete comum, algum artigo mais significativo. Entretanto, ficou indeciso: ora olhava para o garoto, ora  para os artigos que tinha em sua loja.
 
Devia ou não fazer? O coração dizia sim, a mente dizia não.
 
O garoto, notando a indecisão do homem, pensou que ele estivesse duvidando de sua capacidade de pagar. Colocou a mão no bolso, retirou as moedinhas que dispunha e as colocou sobre o balcão.
 
O homem ficou ainda mais comovido, quando viu as moedas, de valor tão insignificante. Continuava seu conflito mental. Em sua intimidade concluíra que, se o garoto pudesse, ele compraria algo bem melhor para sua mãe.
 
Lembrou de sua própria mãe. Fora pobre e muitas vezes, em sua infância e adolescência, também desejara presentear sua mãe. Quando conseguiu emprego, ela já havia partido para o mundo espiritual. O garoto, com aquele gesto, estava mexendo nas profundezas do seu sentimento.
 
Do outro lado do balcão, o menino começou a ficar ansioso. Alguma coisa parecia estar errada. Por que o homem não embrulhava logo o sabonete? Ele já escolhera, pedira para embrulhar e até tinha mostrado as moedas para o pagamento. Por que a demora? Qual o problema?/
 
No campo da emoção, dois sentimentos se entreolhavam: a compaixão do lado do homem, a desconfiança por parte do garoto.
 
Impaciente, ele perguntou: Moço, está faltando alguma coisa?
 
Não, respondeu o proprietário da loja, é que de repente me lembrei de minha mãe. Ela morreu quando eu ainda era muito jovem. Sempre quis dar-lhe um presente, mas, desempregado, nunca consegui comprar nada.
 
Na espontaneidade de seus doze anos, perguntou o menino: Nem um sabonete?
 
 O homem se calou. Refletiu um pouco e desistiu da ideia de melhorar o presente do garoto. Embrulhou o sabonete com o melhor papel que tinha na loja, colocou uma fita e despachou o freguês sem responder mais nada.
 
A sós, pôs-se a pensar. Como é que ele nunca pensara em dar algo pequeno e simples para sua mãe? Sempre entendera que presente tinha que ser alguma coisa significativa, tanto assim que, minutos antes, sentira piedade da singela compra e pensara em melhorar o presente adquirido.
 
Comovido, entendeu que naquele dia tinha recebido uma grande lição. Junto com o sabonete do menino, seguia algo muito mais importante e grandioso, o melhor de todos os presentes: o gesto de amor!
 
* * *
 
Invista no amor. Ele é o mais poderoso meio de tornar as pessoas felizes.
 
Em qualquer circunstância, em qualquer data especial para determinadas comemorações, o mais importante não é o que se dá, mas como se dá.
 
Todo presente deve se revestir de sentimento e não deve haver diferença entre homenagens a uma pessoa pobre ou a uma pessoa rica.
 
A expressão deve ser sempre do afeto. O que se deve dar é o coração a vibrar em amor.
 
O valor do presente não está no quanto ele vai aumentar o conteúdo das caixas registradoras, mas sim o quanto ele somará na contabilidade do coração.
 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 20, do livro Novas histórias que ninguém contou, novos conselhos que ninguém deu, de Melcíades José de Brito, ed. DPL.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

VONTADE E PENSAMENTO


O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o Espírito da matéria: sem o pensamento, o Espírito não seria Espírito. A vontade não é atributo especial do Espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento tornado força motriz.
É pela vontade que o Espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido.
Mas se ele tem a força de agir sobre os órgãos materiais, como não deve ser maior esta força sobre os elementos fluídicos que nos cercam!
O pensamento age sobre os fluidos ambientes como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som.
Pode, pois, dizer-se com toda a verdade que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que cruzam sem se confundir, como há no ar ondas e raios sonoros. (Revista Espírita, dezembro de 1868, “O Espiritismo é uma religião?”).
Pela vontade ou só pelo pensamento, o Espírito opera no fluido perispiritual, que não passa de uma concentração de fluido cósmico ou elemento universal, uma transformação parcial, que produz o objeto que deseja. Tal objeto é para nós uma aparência, mas para o Espírito é uma realidade. (Revista Espírita, novembro de 1864, “Conversas familiares de além-túmulo”).
Assim como, quase sempre, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma. (O Livro dos Espíritos, questão 933).
Uma assembleia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos em que cada um produz uma nota.
Resulta daí uma porção de correntes e de eflúvios fluídicos, cada um dos quais recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro de música cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.
Mas, assim como há raios sonoros harmônicos ou discordantes, também há pensamentos harmônicos ou discordantes.
Se o conjunto for harmônico, a impressão será agradável; se for discordante, a impressão será penosa.
Para isso não é preciso que o pensamento seja formulado em palavras; a radiação fluídica não existe menos, seja ou não expressa; se todos forem benevolentes, todos os assistentes experimentarão um verdadeiro bem-estar e sentir-se-ão à vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzem o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido. (Revista Espírita, dezembro de 1868, “O Espiritismo é uma religião?”) (1)
Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião simpática; aí, como que reina uma atmosfera moral salubre, onde se respira à vontade; daí se sai reconfortado, porque se ficou impregnado de eflúvios fluídicos salutares.
Assim se explicam, também, a ansiedade, o mal-estar indefinível que se sente num meio antipático, em que pensamentos malévolos provocam, por assim dizer, correntes fluídicas malsãs. (ibidem)
A comunhão de pensamentos produz, assim, uma espécie de efeito físico, que reage sobre o moral; é o que só o Espiritismo poderia dar a compreender.
O homem o sente instintivamente, desde que procure as reuniões onde sabe que encontra essa comunhão.


Nas reuniões homogêneas e simpáticas adquire novas forças morais; poder-se-ia dizer que aí recupera as perdas fluídicas que tem diariamente, pela radiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material. (ibidem)
A esses efeitos da comunhão dos pensamentos junta-se um outro que é a sua consequência natural, e que importa não perder de vista; é o poder que adquire o pensamento ou a vontade, pelo conjunto de pensamentos ou vontades reunidas.
Sendo a vontade uma força ativa, esta força é multiplicada pelo número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número de braços.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

UM LÍQUIDO PRECIOSO


Francisco de Assis, referindo-se a ela, em sublime alegria, entoou a canção de amor e fraternidade, o Cântico das Criaturas, nos seguintes versos:
 
Sê louvado, Senhor, pela irmã água tão útil, tão humilde, preciosa e casta.
 
Louvai, agradecei e bendizei ao Senhor. E a Ele servi com grande humildade e amor.
 
Nestes dias em que estamos sendo alertados do problema da escassez de água potável no mundo, devido ao aumento da população mundial e a degradação do meio ambiente, os versos do suave cantor de Assis nos levam a meditar.
 
Temos disponível hoje apenas 3% de todo o manancial existente na Terra e, com certeza, é necessário preservar o líquido precioso, a linfa que mantém a vida.
 
Diante da escassez da água doce no planeta, lembremos que o amor a Deus significa o respeito e a ação preservadora da vida em todas as suas expressões.
 
Somos responsáveis pela natureza, não a agredindo, antes contribuindo para o seu desenvolvimento e harmonia, expressando assim o amor que coopera com a obra Divina.
 
Deus criou a água pura e cristalina e esse líquido brilha em nossos caminhos fomentando a vida.
 
A água representa 60% do nosso peso corporal. Ela é tão importante que a perda de 20% do conteúdo do líquido acarreta a morte.
 
Esse precioso líquido serve também como regulador da temperatura de nosso corpo e uma de suas propriedades mais características é a de dissolver numerosas substâncias formando soluções.
 
A água é um bem Divino. O mar equilibra a nossa moradia planetária.  Graças às chuvas regulares, desenvolve-se a agricultura e vivem as plantas, os vegetais, os animais, nutrindo-nos a própria vida.
 
Os rios são fonte de organização das cidades. O aparecimento de povoados e cidades sempre esteve ligado à presença da água.
 
Verificando a História, constataremos que o Império romano de há dois mil anos já conhecia e se utilizava das águas minerais para tratamento de seus males. Hábito que foi resgatado no Século XIX, pelos ingleses, a partir do que foram feitas também pesquisas científicas sobre a eficácia dessas águas minerais.
 
Por tudo isso, pensemos na beleza das águas, meditando num córrego em festa, num lago de azul sereno, numa fonte cantante e abençoemos a linfa preciosa com gratidão.
 
Unamo-nos à voz do autor de o Cântico das Criaturas, agradecendo a Deus pela dádiva da chuva, das cascatas que se lançam de grandes alturas, dos filetes de água que logo mais se transformarão em riachos abundantes de vida.
 
Sê louvado, Senhor, pela irmã água tão útil, tão humilde, preciosa e casta.
 
Você sabia?
 
Você sabia que a água é dos mais poderosos veículos para os fluidos de qualquer natureza?
 
E você sabia que em nossas mãos ela pode se tornar alimento de amor?
 
Quando alguém nos pedir um copo d’água para saciar a sede, podemos colocar nela, através de nossas vibrações, uma benéfica transfusão de vida, saúde e paz.
 
Por isso mesmo Jesus nos disse: Qualquer que tiver dado só que seja um copo d’água fria, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que, de modo algum, perderá a sua recompensa.
 
Redação do Momento Espírita, a partir do texto O valor da água em nossa vida, de Maria Anita Rosas Batista, da revista Presença Espírita, janeiro/fevereiro de 2002, ed. LEAL e citação do Evangelista Mateus, capítulo 10, versículo 42.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A ÁRVORE DOS PROBLEMAS


 
Certo fazendeiro resolve contratar um carpinteiro para uma série de reparos em sua propriedade. O primeiro dia do carpinteiro foi bem difícil. O pneu de seu carro furou, fazendo com que ele deixasse de ganhar uma hora de trabalho. Sua serra elétrica quebrou, e aí ele cortou o dedo. Como se não bastasse, no final do dia, seu carro não funcionou.
 
Assim, o fazendeiro resolve oferecer carona para casa. Percorrida a viagem, o carpinteiro convidou-o a entrar e conhecer sua família. Quando os dois se dirigiam à porta da casa, o carpinteiro parou junto a uma pequena árvore e gentilmente tocou as pontas dos galhos com as duas mãos.
 
Ao abrir a porta de casa, o carpinteiro já parecia outro: os traços tensos do seu rosto transformaram-se em um grande sorriso. Ele abraçou os filhos e beijou a esposa.
 
Após uma alegre refeição, o fazendeiro agradeceu e despediu-se de todos. O carpinteiro acompanhou seu convidado até o carro.
 
Assim que passaram pela árvore, o fazendeiro questionou seu anfitrião sobre o motivo pelo qual ele tocara na planta antes de entrar em casa.
 
- Ah! Esta é a minha planta dos problemas. Eu sei que não posso evitar todos os problemas no meu trabalho, mas eles não devem chegar até os meus filhos e minha esposa. Então, toda noite, eu deixo meus problemas nesta árvore quando chego em casa, e só os pego de volta no dia seguinte. E o senhor quer saber de uma coisa? Toda manhã, quando volto para buscar meus problemas, eles não são nem metade daquilo que eu lembro de ter deixado na noite anterior.
 
Jamais descarregue seus problemas e frustrações nos outros, principalmente naqueles que você tanto ama.
 
Mensagem Esparsa

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O CÉU ESTÁ NA ALMA


A crença mais difundida entre os homens identifica o céu como um local determinado no espaço.
 
Para lá seguiriam as almas dos eleitos.
 
O aspecto e o conteúdo desse lugar refletem ideais de prazer material das diversas culturas existentes na Terra.
 
Algumas dessas culturas afirmam que cada homem terá  diversas virgens à sua disposição.
 
Outras sustentam que o paraíso é repleto de anjos tocando harpas.
 
Em eterna contemplação, as almas se refestelariam no ócio.
 
Tais concepções refletem o desejo de saciar inúmeros vícios, como gula, preguiça e sensualidade.
 
Contudo, não é possível conceber que almas sublimes encontrem alegria em nada fazer ou em satisfazer paixões.
 
O que caracteriza os grandes homens é a sua dignidade e o seu incansável labor em favor dos semelhantes.
 
Não é crível que a morte física os degenere.
 
E que a partir dela se tornem rematados desocupados cheios de vícios.
 
Consequentemente, o paraíso não pode ser um local de ócio e desfrutes.
 
Na verdade, o céu não é um lugar delimitado.
 
A evolução científica evidencia a impossibilidade dele se situar no alto das nuvens, como durante certo tempo se concebeu.
 
O homem gradualmente explora recantos cada vez mais longínquos, sem perigo de encontrá-lo.
 
Tendo em mente que o que sobrevive à matéria é o Espírito, suas recompensas e penúrias devem ser todas imateriais.
 
A rigor, o céu é um estado de consciência.
 
Não é preciso desencarnar para estar no céu ou no inferno.
 
Cada homem traz, nas profundezas do próprio ser, a grandeza ou a miséria resultantes de seus atos.
 
Um homem honrado experimenta plenitude interior onde quer que se encontre.
 
Já um celerado permanece em sobressalto mesmo no mais luxuoso dos palácios.
 
O céu é um estado de harmonia com as Leis Divinas.
 
Tais Leis são reveladas pela natureza e encontram-se inscritas na consciência de cada ser.
 
A semelhança em face da dor, da doença e da morte revela que todos os homens são essencialmente iguais.
 
As diferenças de caracteres refletem o bom ou mau aproveitamento das anteriores encarnações.
 
Todos os Espíritos foram criados em estado de total simplicidade.
 
E todos fatalmente se tornarão anjos de amor e sabedoria.
 
As desigualdades são transitórias e retratam o esforço individual.
 
Quem gastou bem o tempo acumulou tesouros intelectuais e morais.
 
Aquele que se permitiu viver na leviandade ressente-se das oportunidades que desperdiçou.
 
Os vícios e paixões que porta são a herança que preparou para si.
 
A igualdade essencial dos seres indica um dever de solidariedade.
 
O homem mais avançado precisa auxiliar os que seguem na retaguarda.
 
Trata-se de um dever elementar de humanidade, não de um favor.
 
Esse auxílio não se cinge a esmolas, muitas vezes humilhantes.
 
Nem reflete conivência com equívocos.
 
A criatura consciente necessita dar exemplos de dignidade e trabalho.
 
Também precisa demonstrar compaixão com os semelhantes.
 
Auxiliá-los a perceber os próprios equívocos e a repará-los.
 
Quem é honesto, trabalhador e solidário realiza a tarefa que lhe cabe no concerto da vida.
 
Harmoniza-se com sua consciência e vive em estado de plenitude.
 
Acerta-se com o passado e descobre a alegria que é trazer uma larga faixa de céu no coração.
 
Redação do Momento Espírita.