quinta-feira, 14 de abril de 2011

VIRTUDE CELESTE

 

Se a noite o surpreendeu de coração ferido ou de cérebro açoitado por amargos arrependimentos, não se renda à dor que lhe parece irremediável...

Enquanto a sombra se estende ao longo do caminho, e a ventania sopra, qual lamentoso grito de angústia, fite as estrelas que cintilam nas alturas e siga adiante, ao encontro do novo dia.

Não pode? Tremem-lhe os pés sob o fardo da aflição? Enrijeceram-se as fibras de sua alma e não consegue nutrir um novo sonho?

Erga uma prece à esperança, esse gênio da luz que nos permite antever o porvir imenso.

Recolha-se à oração e ela virá, doce e infatigável enfermeira, balsamizar-lhe as chagas interiores e sustentar-lhe as energias semimortas.

Atenda-lhe o apelo carinhoso e prossiga sem desfalecimento.

Não permita que o elixir entorpecente da inércia ou o fel corrosivo do sofrimento o enfraqueça.

Aceite as sugestões do gênio amigo e reflita...

Sentirá no próprio coração dores maiores que a sua, os pavores dos grandes infelizes, as úlceras cancerosas de milhões que, até agora, você não conseguira ver.

Então, inefável consolo baixará do céu sobre a sua dor, aquietando-lhe a ânsia.

Inexprimíveis sentimentos desabrocharão em seu espírito, e seus braços se abrirão para acolher as dores ignoradas dos seres mais humildes da terra.

Nem todos sabem avaliar essa virtude celeste. Muitos a transformam em vinagre de impaciência ou em tortura mortal, convertendo-lhe a bênção em estilete da enfermidade.

Felizes, porém, daqueles que lhe guardam a sublime claridade no âmago do espírito, porque verão a sabedoria do tempo, adquirindo com a vida a ciência da paz.

 

Espere! Diz a noite o dia voltará.

Espere! Clama a semente o fruto não tarda.

Espere! Anuncia a justiça e tudo recomporei.

Bem-aventurados, pois, quantos no mundo sabem aprender, servir e esperar!

 

* * *

Suporte com coragem o fardo de sua dor, avançando na estrada da vida heroicamente, ainda que seja um centímetro por dia...

Lembre-se de que hoje, a noite maternal lhe enxugará o pranto com o repouso obrigatório, e de que amanhã o dia voltará, renovando todas as coisas.

Lembre-se, ainda, que a esperança sempre surge com os primeiros raios da aurora.


Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em mensagem homônima do Espírito Vianna de Carvalho, e cap. Reflexões, do Espírito Mariano José P. Fonseca psicografia de Chico Xavier, do livro Falando à Terra, ed. FEB.

CIÚME SEM RAZÃO

 

Ao deixar a roupa suja no lugar apropriado, tropecei no diário da minha irmã de treze anos.

Logo pensei: o que eu faço agora?

Eu sempre tive ciúme de minha irmã caçula. Seu sorriso charmoso, sua personalidade cativante e muitos outros talentos ameaçavam meu lugar como filha principal.

Eu competia com ela silenciosamente e via crescer suas habilidades naturais.

Por conseqüência, nós raramente nos falávamos. Eu procurava oportunidades para criticá-la e superar seus feitos.

Agora seu diário estava aos meus pés. Eu não pensei nas conseqüências. Não levei em conta a sua privacidade, a moralidade de minhas ações, nem seus sentimentos.

Eu apenas saboreei a chance de encontrar segredos suficientes para sujar a reputação de minha concorrente.

Raciocinei que seria meu dever como irmã mais velha, verificar suas atividades.

Apanhei o livro do chão e o abri. Folheei as páginas, procurando por meu nome, convencida de que descobriria tramas e calúnias.

Quando encontrei, o sangue gelou em meu rosto. Era pior do que eu suspeitava.

Senti-me fraca e sentei-me no chão. Não havia nenhuma conspiração, nenhuma difamação.

Havia uma descrição sucinta de si mesma, de seus objetivos e de seus sonhos seguidos por um curto resumo da pessoa que mais a inspirava. Eu comecei a chorar.

Eu era sua heroína. Admirava-me por minha personalidade, minhas realizações e, ironicamente, por minha integridade.

Queria ser como eu. Tinha me observado por anos, quieta, maravilhando-se com minhas escolhas e ações. Eu parei a leitura, golpeada pelo crime que havia cometido.

Eu tinha perdido tanta energia para mantê-la fora do meu caminho...

Agora eu violara sua confiança.

Lendo as sérias palavras que minha irmã tinha escrito, me pareceu derreter uma barreira gelada em meu coração e eu desejei conhece-la de verdade.

Eu podia finalmente pôr de lado a insegurança estúpida que me manteve longe dela por tanto tempo.

Naquela tarde, quando consegui me sustentar sobre as próprias pernas decidi ir até ela.

Mas desta vez para conhecer em vez de julgar, para abraçar em vez de lutar.

Para viver como verdadeiras irmãs.

* * *

Por vezes temos agido como crianças com relação às pessoas que nos cercam.

Imaginamos que não gostam de nós, que desejam nossa infelicidade, nossa queda.

Importante não estabelecer pré-julgamentos em nenhuma situação, por mais que os fatos conspirem a favor.

Nem sempre será possível descobrir os sentimentos dos outros pelas aparências.

Há pessoas que não conseguem exprimir seus sentimentos e dão impressão de frieza ou indiferença.

Por essa razão é que o pré-julgamento seria altamente prejudicial.

Assim sendo, se for preciso imaginar os sentimentos dos outros, façamos esforços para imaginar sempre o melhor.

Pense nisso!

O ciúme produz o câncer da suspeita transformando os sonhos de sua esperança em pesadelo cruel que se converte em enfermidade demorada, a lhe corroer interiormente.

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em texto de Elisha M. Webster,

traduzido por Sergio Barros.