Ele é um
jovem de dezenove anos. Seu dia começa cedo, no trabalho duro.
Trabalha preparando a argamassa, levantando paredes de tijolos,
conduzindo um carrinho com pedras, areia, cimento.
Suas mãos
estão habituadas ao cabo da enxada, ao trato com materiais rudes.
Frequentemente, suas roupas trazem o pó do cimento e da areia de que
se utiliza na atividade diária.
Mas,
enquanto Rony levanta paredes, construindo edifícios ou realizando
reformas, sua mente peregrina muito mais alto do que qualquer imóvel
que tenha auxiliado a edificar.
Suas mãos
concretizam fisicamente e de forma harmônica o que outras mentes
idealizaram. Contudo, em sua alma, outras harmonias clamam por se
exteriorizar.
E tudo
aconteceu assim: enquanto trabalhava na garagem de uma casa, sons
vindos do segundo andar lhe chegavam. Sons de um piano.
Como ele
desejaria poder ver um piano de perto! Mais do que isso: ele queria
sentar frente a um deles e acariciar o teclado, extraindo notas
musicais.
Os colegas,
em ouvindo-o, dia após dia, externar seu sonho, fizeram com que
chegasse aos ouvidos da dona da casa.
E ela
resolveu satisfazer o sonho do pedreiro. Por que não?
Rony
adentrou a sala, num dos intervalos para almoço. Ao chegar em frente
ao grande piano de cauda, imponente, começou a tremer. Ficou nervoso
como se estivesse em um palco, frente a uma imensa plateia e devesse
executar um grande concerto.
Olhou o
interior do piano, admirando-se do sistema que, acionado pelo
pianista, permite a criação dos sons. Jamais imaginara que houvesse
tantas cordas e madeira.
Com
cuidado, retirou a proteção de feltro que repousava sobre o teclado.
Colocou suas mãos sobre as teclas e começou a
pressioná-las.
Parecia o
reencontro de um grande artista com o instrumento amado. E não
seria mesmo?
Melodias
começaram a brotar das suas mãos, como mágica. Os pés descalços
pressionavam os pedais, no ritmo e tempo exatos.
Os colegas
ficaram boquiabertos e foram sentando para ouvir. Música. Harmoniosa
música.
A dona da
casa ficou admirada. Com quem ele aprendera?
Com
ninguém. Em casa, contou Rony, havia um teclado velho de seu irmão
em que ele buscava imitar a posição das mãos dos pianistas que
assistia pela TV.
E
reproduzia as músicas que ouvia, nem sabendo o nome dos autores
eruditos e clássicos, cujas composições executa com maestria e
sentimento: dolce, allegro, vivace, con brio.
Depois de
entrevista à televisão, foi premiado com um curso de piano gratuito
na Universidade de Vitória, no Espírito Santo, onde
reside.
Conforme
sua professora, em poucas aulas, já está aprendendo a ler
música.
E, enquanto
prossegue em sua faina de pedreiro, utiliza todos os intervalos do
almoço para subir ao segundo andar, sentar-se ao piano e arrefecer a
saudade do amado instrumento.
Seu sonho:
tornar-se pianista profissional.
Saudades de
outra vida...
* *
*
Somente a
reencarnação pode explicar a genialidade inata. O Espírito retorna,
em outro corpo, em ambientes diversos daqueles em que viveu, mas o
que aprendeu lhe constitui bem inalienável.
Por isso,
sempre mais, nestes tempos de transição planetária, ouvimos falar de
gênios e de talentos extraordinários.
Estão em
toda parte e em todas as camadas sociais, testificando a realidade
do Espírito que nunca morre e progride sem cessar.