terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Semeando rosas

 

Uma Rainha de Portugal, de nome Isabel, ficou conhecida por sua bondade e abnegada prática da caridade.

Ocorre que seu marido, o Rei D. Diniz não gostava das excursões da Rainha, pelas ruas da miséria.

Muito menos das distribuições que ela fazia entre os pobres. Não podia admitir que uma mulher nobre deixasse o trono das honras humanas para se misturar a uma multidão de doentes, famintos e mal vestidos.

A bondosa Rainha, no entanto, burlava a vigilância de soldados e damas de companhia e buscava a dor nos casebres imundos, levando de si mesma e de tudo o mais que pudesse carregar do palácio.

Não levava servas consigo, pois isto seria pedir a elas que desobedecessem às ordens reais.

Era humilhante, segundo o seu marido, o que ela fazia. Como uma Rainha, nascida para ser servida, realizava o trabalho de criados, carregando sacolas de alimentos, roupas e remédios?

Certo dia, ele mesmo a foi espreitar. Resolveu surpreendê-la na sua desobediência. Viu quando ela adentrou a despensa do palácio e encheu o avental de alimentos.

Quando ela se dirigia para os jardins do palácio, no intuito de alcançar a estrada poeirenta, nos calcanhares da fome, ele saiu apressadamente do seu esconderijo e perguntou:

Aonde vai, senhora?

Ela parou, assustada no primeiro momento. E, porque demorasse para responder, ele alterou a voz e com ar acusador, indagou:

O que leva no avental?

Levemente ruborizada, mas com a voz firme, ela finalmente respondeu:

São flores, meu senhor!

Quero ver! Disse o rei, quase enraivecido, por sentir que estava sendo enganado.

Ela baixou o avental que sustentava entre as mãos e deixou que o seu conteúdo caísse ao chão, num gesto lento e delicado.

Num fenômeno maravilhoso, rosas de diferentes tonalidades e intensamente perfumadas coloriram o chão.

Consta que o Rei nunca mais tentou impedir a rainha da prática da caridade.

*   *   *

Para quem padece as agruras da fome, sentindo o estômago reclamar do vazio que o consome; para quem ouve, sofrido, as indagações dos filhos por um pedaço de pão, umas colheres de arroz, a cota de alimento que lhes acalme as necessidades é semelhante a um frasco de medicação poderosa.

Para quem esteja atravessando a noite da angústia junto ao leito de um filho delirando em febres, as gotas do medicamento são a condensação da esperança do retorno à saúde.

Para quem sente as garras afiadas do inverno cortar-lhe as carnes, receber uma manta que o proteja do vento gélido é uma ventura.

Por isso, quem leva pães, agasalho e conforto é portador de flores perfumadas de vários matizes.

*   *   *

Há muitos que afirmam que dar coisas é alimentar a preguiça e fomentar acomodação.

Contudo, bocas famintas e corpos enfermos não podem prescindir do alimento correto e da medicação adequada.

Se desejarmos os seres ativos, envolvidos com o trabalho, preciso é que se lhes dê as condições mínimas. Não se pode ensinar a pescar alguém que sequer tem forças para segurar a vara de pesca.

 

Redação do Momento Espírita.

COLHENDO PEDRAS

 

Para o Espírito não existe velhice nem desgaste. É sempre novo, porque nele tudo se renova. Suas possibilidades se revigoram na experiência, desdobrando-se em novas capacidade.

Ninguém se faz velho por ter vivido um determinado número de anos (só o corpo). Há envelhecimento, quando há desânimo, quando se volta as costas para os ideais. Os anos enrugam a pele mas o abandono do entusiasmo faz rugas na alma. A dúvida, a falta de confiança em si próprio, o temor e a desesperação, são os largos, larguíssimos anos, que fazem inclinar a cabeça e submergir o Espírito.

És tão jovem como a tua fé, e tão velho como a tua dúvida; tão jovem como a confiança em ti mesmo, e tão velho como o temor; tão jovem como tua esperança e tão velho como desesperação.

Hoje somos aquilo que fizemos ontem. Portanto acreditemos, amanhã será aquilo que fizermos hoje. Então façamos o melhor.

Na vida tudo recomeça! O dia, a noite, as estações, as marés e vazantes. Mas a natureza é cíclica e repetitiva. Nós, não. Nós podemos recomeçar sempre em nível melhor, com a experiência passada.

Sempre que uma pessoa passa por uma forte experiência de perda ou enfermidade, vê-se defronte um convite de recomeço; uma necessidade urgente de correção ou de readaptação. E pode recomeçar melhor! Seja um novo lar, uma vida nova, um novo emprego, uma nova atividade, uma transformação de hábitos, em prol da saúde — se invoca Deus com fé. Ele lhe infunde poder, descortino e decisão para reconstruir sua vida.

Considera-se fé a confiança que se deposita na realização de determinada coisa, a certeza de atingir um objetivo. Assim, ela confere uma espécie de lucidez, que faz antever pelo pensamento os fins que se têm em vista e os meios de atingi-los, de maneira que aquele que a possui avança, por assim dizer, infalivelmente.

A fé sincera e verdadeira é sempre calma. Confere a paciência que sabe esperar, porque estando apoiada na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao fim.

Pela fé o ser humano pode revelar valores desconhecidos dele próprio e canaliza-los de modo muito proveitoso à sua alma.

A fé racional e a esperança nos sustentarão.

Recomece melhor! Descubra os seus dons!

A nossa vida diária se constrói com tijolos de pensamentos, emoções, reações, palavras, e experiências! Somos todos construtores! Conforme a qualidade de nossa vida e de nossos propósitos, assim é a construção e aprimoramento de nossa consciência ou a sua degeneração...

Nossa consciência é formada e reformulada diariamente com a nossa vida.

Tal como construímos e mantemos nossos lares; assim como organizamos e levamos avante nossos negócios — com maior ou menor empenho e zelo — assim também com nossa consciência, que reflete em nossa alma e em nossa felicidade.

Pelo conhecimento e prática sincera da verdade estamos aprendendo a manejar sabiamente a nossa vida. Escolher, manter e aprimorar pensamentos retos; evitar emoções negativas e cultivar sentimentos nobres; tomar consciência de nossas palavras e atitudes; agir sensatamente — por certo assegurará uma rica consciência, que nos abençoará profusamente com progresso interno e externo. É claro que isto pressupõe aspiração, que as pessoas de íntimo elevado alimentam. E também disciplina, que bem mostra nossas convicções. O certo é que, desse modo, conquistamos o respeito dos homens e as bênçãos de Deus.

Por que haveremos de viver vulgarmente, cedendo às inclinações da personalidade, por negligência, ausência de ideal ou preguiça?

Podemos dizer que a nossa vida e semelhante a uma caravana que caminhava no deserto penosamente num terreno árido, poeirento. As pessoas que a compunham tinham uma fé absoluta no guia e, confiadamente, entregavam a ele todas as decisões. Gostavam de o fazer, sobretudo quando, devido ao intenso calor do sol, ele decidia que viajassem de noite, reservando o dia para dormir.

Certa noite, após uma jornada particularmente esgotante, o guia, de repente, exclamou:

— Alto! Deter-nos-emos aqui por alguns momentos. Como vêem, atravessamos, neste momento, um terreno invulgarmente pedregoso. Quero que se abaixem e apanhem todas as pedras que consigam alcançar. Talvez consigam encher as bolsas e levá-las assim cheias para casa. Temos que fazer isso depressa! — Prosseguiu, batendo as palmas — temos apenas cinco minutos; depois disso, retomaremos a marcha.

Os viajantes, que apenas desejavam um prolongado descanso e um sono repousante, pensaram que o guia tinha enlouquecido.

— Pedras?! — Disseram eles — Quem pensa ele que somos nós?

Somente alguns fizeram o que o guia sugerira: puseram nas bolsas uns quantos punhados de pedras soltas.

—  Bem, agora chega! — Disse o guia — Temos que andar de novo!

Enquanto continuavam a difícil caminhada, durante o resto da noite, todos se encontravam demasiado cansados para se darem ao incomodo de falar. Mas todos continuavam a perguntar a si mesmos o que poderiam significar as estranhas ordens daquele guia.

Quando o sol se levantou no horizonte, a caravana deteve-se de novo. Todos armaram as suas tendas. Os poucos viajantes que tinham apanhado as referidas pedras puderam vê-las detidamente pela primeira vez. Assombrados, começaram a gritar:

— Santo Deus! Todas elas são de cores diferentes! E como brilham! Realmente são pedras preciosas!

Mas esta sensação de júbilo depressa deu lugar a outra de depressão e abatimento:

— Por que não tivemos o bom senso de seguir as ordens do guia? Se assim fosse, teríamos apanhado o maior número de pedras possível!

A viagem da vida e semelhante a esta história, muitas vezes caminhamos por terrenos áridos, outras vezes encontramos um oásis, outras caminhamos por terrenos pedregosos, mas tudo isso é para que consigamos a perfeição.

As vezes, não compreendemos o motivo dessas dificuldades, e praguejamos contra Deus e contra tudo, mas mesmo assim, temos que continuar caminhando, nesse trajeto muitos não se revoltam, mas procuram tirar bom proveito dessa situação, tem esperanças de um dia melhor e, aproveitam para aprender com essas dificuldades, começam a conhecer e, suas mentes clareiam, com isso a fé se robustece, e os problemas agora não mais os fazem sofrer. Começam a compreender seus semelhantes, sentem agora necessidade de ajudá-los e, fazem de tudo para os ensinar e facilitar sua caminhada.

Sempre teremos que andar com esforço próprio, de vez em quando encontraremos um cireneu que nos dará uma ajuda, assim como, também nós, ajudaremos outros. Mas o mérito está em conseguir chegar lá no apogeu com esforço próprio. E todos nós estamos juntos nessa caminhada. Podemos fazer esta viajem de uma maneira alegre, nos dando as mãos e apoiando-nos mutuamente.

Temos as lições e os exemplos de Jesus por nosso guia e as pedras no caminho serão jóias quando a olharmos detidamente. Assim, não podemos dispensá-las. Temos que ter fé. Apanhá-las, e guardá-las com carinho. Porque a vida será o buril que as farão brilhar com todo o vigor tal qual o diamante.

Podemos pedir a Deus nosso Pai, forças para superar os percalços que encontramos no caminho.

Vamos abrir a sacola, vamos ver as pedras que colhemos, isto é, se confiamos no nosso guia e as pegamos, com certeza a caminhada valeu a pena, caso contrário, não desanimemos, pois o amanhã será mais uma oportunidade que Deus nos oferece para aproveitarmos e conseguirmos também chegar ao objetivo... colhendo as pedras preciosas.

Texto adaptado por E. Mollo.