Alice estava desnorteada, e encontrando um gato sentado sobre
o galho de uma árvore, perguntou-lhe:
O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho
tomar para sair daqui?
Isso depende muito de onde você quer ir... –
Respondeu o gato com um sorriso enigmático de orelha a
orelha.
Não me importa muito para onde... – Afirmou
Alice.
O felino sentenciou: Então não importa o caminho
que você escolher. Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho
serve.
* * *
Nesses tempos de informações abundantes, de possibilidades
infinitas, de tecnologia surpreendente, fazem-se necessários alguns
cuidados.
Cada dia fala-se mais e mais, sobre a triunfal entrada da
Humanidade na era do conhecimento.
Exalta-se a capacidade humana de estar vivendo, a partir
deste momento, um período no qual o conhecimento será a primeira
riqueza.
Tudo é fonte para o conhecimento, e a principal delas é a
internet.
É neste ponto que precisamos ir devagar com as
coisas.
Não se deve confundir informação com
conhecimento.
A internet, dentre as mídias contemporâneas, é a mais
fantástica e estupenda ferramenta para acesso à
informação.
No entanto, transformar informação em conhecimento exige,
antes de tudo, critérios de escolha e seleção, dado que o
conhecimento – ao contrário da informação – não é cumulativo, mas
seletivo.
Seria como alguém que entra numa dessas grandes livrarias,
sem saber muito bem o que deseja.
Corre o risco de entrar em pânico, tendo a sensação de débito
intelectual, sem ter clareza de por onde começar e imaginando que
precisa ler tudo aquilo.
Faz-se fundamental o critério, isto é, saber o que se
procura, para poder escolher, em função da finalidade que se
tenha.
Os computadores e a internet têm um caráter ferramental que
não pode ser esquecido.
Ferramenta não tem objetivo em si mesmo. É instrumento para
outra coisa, para outro fim.
O critério, o equilíbrio nos permitirão, assim, poder
utilizar desse ferramental com sabedoria, na dosagem certa, no
momento adequado.
Sem critérios seletivos, muitos ficam sufocados por uma ânsia
precária de ler tudo, acessar tudo, ouvir tudo, assistir
tudo.
Esquecem-se de se perguntar: Eu quero isso para
mim? Eu preciso disso? Para que serve? Aonde desejo
ir?
Nos tempos de hoje, se não formos muito cuidadosos, corremos
o risco de navegar na internet, e naufragar.
Sêneca, sabiamente, já havia dito, que nenhum vento é a
favor, para quem não sabe para onde ir.
* * *
David Hume, afirmava: Por conhecimento, entendo a
certeza que nasce da comparação de ideias.
Para que nasça o conhecimento é necessário pensar, comparar,
conectar ideias.
Nenhuma informação poderá ser tomada por verdade, por
conhecimento, antes de amadurecer dentro da alma
humana.
Sabedoria não se transmite. É preciso que nós mesmos a
descubramos depois de uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso
lugar.
Redação do Momento Espírita com base no texto O naufrágio
de muitos internautas, do livro Não nascemos
prontos – provocações filosóficas, de Mario Sergio
Cortella, ed Vozes.