Vejo, nos céus do futuro, o povo sentado às margens dos rios, nos dias de descanso, pescando em águas limpas, à sombra de árvores que se conservaram grandiosas através dos séculos.
Vejo os empresários, distribuindo o lucro do trabalho e investindo nos processos educativos modernos, preparando nossa gente espiritual, moral e culturalmente para a missão de liderar o planeta pelos caminhos da paz.
Vejo imensos laboratórios de pesquisa, com cientistas nossos procurando a perfeição na grandeza da vida.
Vejo a comunicação por meio do som e da imagem, difundindo o belo para estudantes cheios de amor pela pátria, crescendo moral, espiritual e intelectualmente no intercâmbio de idéias de respeito ao país que Deus nos deu.
Vejo a população toda lendo livros retirados de imensas bibliotecas mantidas pelos governos, espalhadas por todo o país.
Vejo os pátios das escolas de portões abertos, porque as crianças e os jovens aprenderam a respeitar a propriedade coletiva e pública.
Vejo as casas de leis, os congressos estaduais e federal cheios de homens idealistas que lutam para conservar a educação, com seu amor, para enriquecer o povo com a verdadeira riqueza – a cultura.
Vejo o Congresso Nacional como se fossem academias de paz e de dignidade, com missionários dedicados ao progresso da pátria e de seu povo.
Vejo as prisões apenas com alguns doentes da alma, distribuídos nos pátios floridos cheios de sombras das arvores, sendo tratados com carinho por missionários que se consideram pais e protetores dos criminosos, já que estes são apenas homens que estão na retaguarda do desenvolvimento espiritual e moral.
Vejo as florestas brasileiras conservadas, com caminhos e trilhas limpas, animais aparecendo entre a folhagem, correndo em disparada se medo da agressão, e os pássaros atodoando entre as flores, entre as folhas, entre as nuvens do céu.
Vejo as espécies que estava em extinção se multiplicando neste abençoado país.
Vejo os rios de água cristalina, imensos, atravessando a Amazônia, conservadas as cachoeiras, por métodos que não exijam a destruição das matas e agressão ao meio ambiente.
Vejo o meu povo educado e preservacionista, aprendendo com a sabedoria dos silvícolas, que freqüentam escolas próximas aos povoados, vacinados com eficiência, evitando as doenças que dizimaram suas populações no passado.
Vejo os céus do Brasil pontilhados de aviões cheios de alimentos, progresso, cultura e beleza.
Vejo centenas de aeroportos espalhados no país, muitos deles, nas nossas fronteiras.
Vejo as estações policiais dirigidas por homens cultos e fisicamente bem preparados, auxiliando crianças e velhos.
Vejo o Nordeste todo irrigado por poços feitos pelos próprios nordestinos, retirando a bendita água do maior depósito subterrâneo do planeta. O São Francisco fluindo sem ser molestado na sua grandeza, as suas águas democraticamente controladas sem a intervenção das garras do poder econômico e antidemocrático.
Vejo o Brasil exemplificando o amor para toda a Terra.
Vejo o sorriso de felicidade brotando dos corações dos velhos, jovens e crianças brasileiros.
Vejo a igualdade social se difundindo.
Vejo os brasileiros, afro-descendentes, nobres filhos, netos e bisnetos de antigos escravos injustiçados, abarrotando as grandes universidades brasileiras, colocando sua sensibilidade e inteligência nas artes, nas ciências, nos laboratórios, nos esportes e na música.
Vejo a aeronave em chamas em plena São Paulo (acidente aéreo em julho de 2007), terra do meu coração que me deu os méis para construir Brasília, eu chorei. Corando, orei pelo Brasil e por aqueles dirigentes que desviam nossa pátria do caminho da dignidade.
Que Deus tenha misericórdia deles e aplique-lhes, com todo rigor, sua justiça! Pois a Pátria é instituição sagrada que merece muito mais do que respeito – exige a veneração de seus filhos.
Termino minha respeitosa saudação às vítimas e aos familiares, neste acontecimento que nos faz chorar os corações.
Quero abraçá-los com todo respeito, carinho e profundo afeto patriótico, sem nunca esquecermos que estamos – todos os brasileiros – ligados pelos laços de amor a este país magnífico que haveremos de construir esplêndido para brilhar na sua grandeza, iluminando os caminhos da civilização humana.
Juscelino Kubitschek
Mensagem extraída do livro “O vôo da esperança” – Editora Lachãtre – pág. 185 a 187.