quinta-feira, 25 de junho de 2015

Infância


        Muitos psicólogos modernos acreditam que as crianças devem ser entregues à inclinação espontânea, cabendo aos adultos o dever de auscultar-lhes a vocação, a fim de auxiliá-las a exprimir os próprios desejos.
       Esquecem-se, no entanto, de que o trabalho e a reflexão vibram na base de todas as ações alusivas ao aprimoramento da natureza.
       Se o cultivador aguarda valioso rendimento da planta, há que propiciar-lhe adubo e carinho.
       Se o estatuário concebe a formação da obra prima, não prescinde do amor no trato da pedra.
       Se o oleiro aspira a plasmar uma ideia no corpo da argila, necessita condicioná-la em fôrma conveniente.
       Se o construtor espera segurança e beleza no edifício que lhe atende à supervisão, não pode afastar-se da disciplina, ante o plano traçado.
       Toda obra revela a fisionomia espiritual de quem a executa.
       Além disso, treinam-se potros para corridas, instruem-se muares para tração, exercitam-se pombos para correio e amestram-se cães para tarefas salvacionistas.
       Como relegar a criança à vala da indiferença?
       Do berço humano surgem muitos santos e heróis, para tarefas sublimes, no entanto, em maior proporção, aí respiram, na moldura de temporária inocência, almas comuns que suspiram por libertar-se da ignorância e da delinquência.
       Instinto à solta na infância é passaporte para o desequilíbrio.
       Menino em desgoverno — celerado em preparação.
       Hoje, criança livre — amanhã problema laborioso.
       Pequeninos refletem grandes.
       Filhos imitam pais.
       Os hábitos da madureza criam a moda espiritual para a juventude.
       Esclareçamos nossos filhos no livro do exemplo nobre.
       Nem freio que o mantenha na servidão, nem licença para que os arremesse ao charco da libertinagem.
       Em verdade, a criança é o futuro.
       Mas ninguém colherá futuro melhor, sem frutos de educação.

Emmanuel


(De “Família”, de Francisco Cândido Xavier — Espíritos Diversos)