quarta-feira, 8 de maio de 2013

SOBRAS DA ALMA



Davi é uma das esculturas mais famosas do autor renascentista Michelangelo.
 
O trabalho, uma estátua de mármore que mede cinco metros e dezessete centímetros de altura, retrata o herói bíblico com realismo anatômico impressionante, sendo considerada uma das mais importantes obras desse período da História das artes.
 
A escultura imponente se encontra em Florença, Itália, cidade que, originalmente, encomendou a obra.
 
Michelangelo levou três anos para concluí-la, em 1504.
 
É fascinante perceber a habilidade dos grandes artistas, conseguindo enxergar numa grande pedra uma bela escultura.
 
Um deles, certa feita, relatou que ficou a fitar um grande bloco de mármore por horas e horas, até visualizar a estátua ali dentro. Depois, segundo contou, bastou tirar as sobras, desbastando a pedra, para que surgisse a escultura perfeita.
 
* * *
 
Inspirados na sabedoria dos grandes mestres, podemos levar esse entendimento para nossas vidas.
 
Imaginando que nossa alma é nossa grande obra, a grande escultura que precisamos aformosear, entenderemos que a técnica desses artistas é genial.
 
Primeiro, a análise demorada. Olhar para dentro da alma, conhecê-la. Penetrar em sua intimidade buscando encontrar-se.
 
É o conhecimento de si mesmo, a chave de todo progresso moral. A grande viagem para dentro do Espírito, procurando lá o que precisa de reforma, de melhoria.
 
Quais as nossas maiores imperfeições, nossas dificuldades? E quais também nossas habilidades, nossos potenciais?
 
Estabelecendo o que precisa ser retirado, encontrando as sobras da rocha do Espírito, começamos então o trabalho de esculpir a alma.
 
Retirar tudo que não é essencial, que não é nosso, que não faz parte da construção da nossa felicidade.
 
Remover os vícios, as mágoas, os grandes e pequenos ódios que fomos guardando ao longo das eras.
 
Retirarmos a poluição mental, os pensamentos de inveja, ciúme e revolta.
 
Removermos a tristeza e a depressão que já nos fizeram tão mal, que já nos fizeram desistir tantas vezes, soltando o cinzel das mãos por alguns momentos.
 
Alguns blocos podem ficar sem o trabalho do escultor por um longo período... Mas acabam por não resistir à ação do tempo, e voltam a pedir que o escultor continue... continue.
 
O processo pode ser doloroso, incômodo, assim como as investidas do artista, com suas ferramentas, contra o mármore.
 
As primeiras ações são as mais doloridas, pois o bloco ainda está intocado em várias partes. Retirar a alma da inércia espiritual não é nada fácil.
 
Porém, quanto mais vamos retirando, mais da nossa verdadeira essência vamos enxergando, e isso concede ânimo, energia, para não retardar o trabalho de escultura.
 
Após algum tempo, após algumas reencarnações, começaremos a vislumbrar a beleza de Davi no meio de tantos pedaços de pedra que foram vertendo da pedra bruta.
 
É assim que esculpimos a alma, nossa grande obra-prima, que inicia sua jornada na simplicidade e na ignorância, e que a devemos concluir na perfeição, na felicidade.
 
Nossa alma, nosso Davi, nossa grande obra!
 
Redação do Momento Espírita.