segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Bosque

 

Tempos atrás, eu era vizinho de um médico, cujo "hobby" era plantar

árvores no  enorme quintal de sua casa.

Às vezes, observava da minha janela o seu esforço para plantar árvores e

mais árvores, todos os dias.

O que mais chamava a atenção, entretanto, era o fato de  que ele jamais

regava as mudas que plantava.

Passei a notar, depois de algum tempo, que suas árvores estavam demorando

muito para crescer.

Certo dia, resolvi então aproximar-me do médico e perguntei se ele não

tinha receio de que as árvores não crescessem, pois percebia que ele nunca

as regava.

Foi quando, com um ar orgulhoso, ele me descreveu sua fantástica teoria.

Disse-me que, se regasse suas plantas, as raízes se acomodariam na

superfície e ficariam sempre esperando pela água mais fácil, vinda de

cima.

Como ele não as regava, as árvores demorariam mais para crescer, mas suas

raízes tenderiam a migrar para o fundo, em busca da água e das várias

fontes nutrientes encontradas nas camadas mais inferiores do solo.

Assim, segundo ele, as árvores teriam raízes profundas e seriam mais

resistentes às intempéries.

Disse-me ainda, que freqüentemente dava uma palmadinha nas suas árvores,

com um jornal enrolado, e que fazia isso para que se mantivessem sempre

acordadas e atentas.

Essa foi a única conversa que tive com aquele meu vizinho.

Logo depois, fui morar em outro país, e nunca mais o encontrei.

Varios anos depois, ao retornar do exterior fui dar uma olhada na minha

antiga residência.

Ao aproximar-me, notei um bosque que não havia antes.

Meu antigo vizinho, havia realizado seu sonho!

O curioso é que aquele era um dia de um vento muito forte e gelado, em que

as árvores da rua estavam arqueadas, como se não estivessem resistindo ao

rigor do inverno.

Entretanto, ao aproximar-me do quintal do médico, notei como estavam

sólidas as  suas árvores: praticamente não se moviam, resistindo

implacavelmente àquela  ventania toda.

Que efeito curioso, pensei eu...

As adversidades pela qual aquelas árvores tinham passado, levando

palmadelas e tendo sido privadas de água, pareciam tê-las beneficiado de

um modo que o conforto o tratamento mais fácil jamais conseguiriam.

Todas as noites, antes de ir me deitar, dou sempre uma olhada em meus

filhos.

Debruço-me sobre suas camas e observo como têm crescido.

Freqüentemente, oro por eles.

Na maioria das vezes, peço para que suas vidas sejam fáceis:

"Meu Deus, livre meus filhos de todas as dificuldades

e agressões desse mundo"...

Tenho pensado, entretanto, que é hora de alterar minhas orações.

Essa mudança tem a ver com o fato de que é inevitável que os ventos

gelados e fortes nos atinjam e aos nossos filhos.

Sei que eles encontrarão inúmeros problemas e que, portanto, minhas

orações para que as dificuldades não ocorram, têm sido ingênuas demais.

Sempre haverá uma tempestade, ocorrendo em algum lugar.

Portanto, pretendo mudar minhas orações.

Farei isso porque, quer nós queiramos ou não, a vida é não é muito fácil.

Ao contrário do que tenho feito, passarei a orar para que meus filhos

cresçam com raízes profundas, de tal forma que possam  retirar energia das

melhores fontes, das mais divinas, que se encontram nos locais mais

remotos.

Oramos demais para termos facilidades, mas na verdade o que precisamos

fazer é pedir para desenvolver raízes fortes e profundas, de tal modo que

quando as tempestades chegarem e os ventos gelados soprarem, resistiremos

bravamente, ao invés de sermos subjugados e varridos para longe.

Autor desconhecido