terça-feira, 30 de novembro de 2010

ISSO É CONTIGO

 

Segundo a narrativa evangélica, após ver Jesus ser condenado, Judas se arrependeu profundamente.

Ele foi ter com os sacerdotes e queria lhes devolver as trinta moedas de prata que anteriormente tinha recebido.

Compungido, afirmou:

Pequei, traindo sangue inocente.

Eles, porém, disseram:

Que nos importa? Isso é contigo.

A palavra da maldade humana é sempre cruel para quantos lhe ouvem as criminosas sugestões.

O caso de Judas demonstra a inconsequência e a perversidade dos que cooperam na execução dos grandes delitos.

O Espírito imprevidente por vezes considera e atende conselhos malévolos.

Mas, quando as consequências chegam, ele se encontra solitário.

Quem age corretamente sempre tem companheiros, se suas iniciativas são bem sucedidas, pois são muitos os que desejam partilhar as vitórias e desfrutar dos sucessos.

Contudo, raramente sentirá a presença de alguém que lhe comungue as aflições nos dias de derrota temporária.

Nesses momentos, somente sua consciência ilibada o socorrerá.

Semelhante realidade induz a criatura à precaução mais insistente.

A experiência amarga de Judas repete-se com a maioria dos homens, todos os dias, embora em diferentes setores.

Há quem ouça as delituosas insinuações da malícia ou da indisciplina.

Seja no trabalho, na vida social ou familiar.

Por vezes, o homem respira em paz, desenvolvendo as tarefas que lhe são necessárias.

Todavia, é alcançado pelo conselho da inveja ou da desesperação e perturba-se com falsas expectativas.

Passa a achar o dever ingrato.

Enamora-se de ganhos fáceis, aventuras inconsequentes ou folgas mais dilatadas.

Facilmente se convence de que faz mais do que o necessário, que é explorado e incompreendido.

Embalado nessas ilusões, consegue argumentos para desertar do dever.

Embrenha-se em labirintos escuros e ingratos, dos quais será muito difícil sair.

Quando reconhece o equívoco do cérebro ou do coração, volta-se para quem o aconselhou ou instigou.

É então que ouve a mesma frase dita a Judas, em seu momento de desespero:

Que nos importa? Isso é contigo.

Convém refletir sobre essa realidade, perante os conselheiros de plantão.

Nas complexas ocorrências da vida, a saída mais fácil raramente é a mais honrosa.

Contudo, o caminho do dever é o único que pode ser trilhado em paz.

Pouco importa que os outros aconselhem ou façam o contrário.

A responsabilidade pelo que se faz é pessoal e intransferível.

 

Pense nisso.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 91, do livro Pão nosso, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.

Obediência

 

Em uma Epístola aos Hebreus, Paulo de Tarso dissertou sobre a obediência de Jesus a Deus.

Salientou que o Cristo manifestou Sua obediência ao Criador até o mais extremo sacrifício.

E que, após a consumação do martírio, tornou-Se o meio de salvação para todos os que por sua vez O seguirem.

É interessante refletir a respeito da obediência.

Toda criatura obedece a alguém ou a alguma coisa.

Ninguém permanece sem objetivo.

A própria rebeldia está submetida às forças corretoras da vida.

O homem obedece a toda hora.

Contudo, por vezes não consegue definir a própria submissão por virtude construtiva.

Não entende a necessidade de submeter-se com dignidade ao cumprimento dos deveres que a vida lhe apresenta.

Ressente-se com os encargos que lhe competem e busca abandoná-los.

Então, atende, antes de mais nada, aos impulsos mais baixos da natureza.

Por resistir ao serviço de autoelevação, torna-se um rebelde.

Quase sempre, em seu coração, transforma a obediência que o salvaria na escravidão que o condena.

O Senhor da vida estabeleceu as gradações do caminho.

Instituiu a lei do próprio esforço, na aquisição dos supremos valores da vida.

Em Sua extrema bondade, elaborou formosos roteiros para que o homem encontre a felicidade e se plenifique.

Deus determinou que o homem, para ser verdadeiramente livre, aceite os Seus sagrados desígnios.

Contudo, a criatura frequentemente prefere atender à sua condição de inferioridade e organiza o próprio cativeiro.

O discípulo precisa examinar atentamente o campo em que desenvolve a sua tarefa.

Quanto a você, a quem obedece?

Acaso, atende, em primeiro lugar, às vaidades humanas?

Cuida, acima de qualquer coisa, das opiniões alheias?

Ou consegue acomodar o seu sentimento no tranquilo cumprimento dos deveres que lhe competem?

São frequentes as tentações que o mundo apresenta no caminho de quem deseja viver retamente.

O discurso mundano fornece desculpas para quase tudo.

Seja o abandono do lar, a traição conjugal, a sonegação de tributos ou a pouca dedicação aos filhos.

Sempre é possível achar alguma justificativa, ainda que pífia, para passar pela porta larga da perdição.

O problema é que nessa passagem compromete-se a própria dignidade.

Como cada qual é o artífice do seu destino, sempre chegará o momento de assumir as consequências.

Em termos morais, não há atos despidos de consequências.

O sacrifício das próprias fantasias e vaidades em favor do bem rende plenitude e luz, logo adiante.

Já a vivência de paixões, em clima egoísta, traz uma inevitável cota de dores e desilusões.

Jesus ensinou e exemplificou a vivência do amor, em regime de pureza.

Apenas a obediência aos Seus ensinamentos permite quebrar a escravidão do mundo em favor da libertação eterna.

Pense nisso.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 16 do livro Pão nosso, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.

sábado, 27 de novembro de 2010

Deus não desampara

 

O livro do Apocalipse está repleto de símbolos profundos.

Por conta disso, sua leitura costuma ser um tanto árdua.

Mesmo assim, dele podem ser extraídas preciosas lições, hábeis a ampliar o progresso espiritual.

Em determinado ponto da narrativa, consta o seguinte versículo:

E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição e não se arrependeu.

Essa pequena frase é rica de significados.

Ela evidencia a extrema bondade de Deus, manifestada para com todos os Seus filhos.

Perante os erros mais clamorosos, Ele Se posiciona como um Pai amantíssimo, embora justo.

Muitos insistem pela rigidez e irrevogabilidade das determinações de origem Divina.

Entretanto, convém refletir sobre a essência sublime do Amor que tudo gerou e a tudo sustenta.

Esse amor apaga vidas escuras e faz nascer novo dia nos horizontes da alma.

Mediante as sucessivas vidas, viabiliza os mais improváveis reajustes e redenções.

Mesmo entre os juízes terrestres, existem providências fraternas, como a liberdade sob condições.

Por certo, não será o Tribunal Celeste constituído por inteligências mais duras e inflexíveis.

A casa do Pai é muito mais generosa do que qualquer figuração de magnanimidade que se possa conceber.

Em Seus celeiros abundantes, os recursos são infinitos.

Neles há empréstimos e moratórias, para quem muito deve em face das soberanas Leis que regem a vida.

Também são habituais as concessões de tempo para aquele que se complicou espiritualmente, ao longo dos séculos.

Em suma, os recursos da Misericórdia Divina não podem ser concebidos pela mais vigorosa imaginação humana.

O Altíssimo fornece dádivas a todos, em Sua generosidade.

É aconselhável que o homem medite no que tem feito desses recursos.

Que cesse de reclamar e de se achar injustiçado.

Que jamais se permita imaginar o Pai Amoroso apresentado por Jesus como um ser vingativo e mesquinho.

Mas ponha a mão na consciência e se encha de gratidão por tudo o que tem.

Aprenda a valorizar seus amores, seu trabalho e suas lutas.

Esses recursos sublimes não devem ser desperdiçados.

Eles se destinam a propiciar uma retificação de rumos.

Mediante sua utilização, o homem deve crescer em discernimento e em bondade.

Deve se desgostar de velhos vícios, arrepender-se de equívocos e marchar rumo ao Alto, com galhardia.

Muitos são prisioneiros da concepção de justiça implacável.

Tais ignoram os maravilhosos auxílios do Todo Poderoso, que se manifestam por mil modos diferentes.

Contudo, há também os que procuram a própria iluminação pelo Amor Universal.

Esses sabem que Deus dá sempre e que é necessário aprender a receber e a repartir.

Pense nisso.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 92 do livro Pão nosso, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Nossa Terra

 

Contemplando os quadros de miséria do nosso mundo, crianças que são pele e ossos, velhos que vivem desamparados, o desânimo nos chega.

Contemplando as multidões que passam parecendo sem rumo, desejando somente sobreviver a qualquer custo, somos tentados a pensar que este planeta é um verdadeiro vale de lágrimas, um lugar de exílio doloroso.

Sofremos, muitas vezes, por verificarmos a fragilidade da saúde humana e o trabalho dos anos no corpo físico. Anos que o vão tornando enfraquecido, mais enfermo, com maiores necessidades.

Tudo isso nos entristece. No entanto, se observarmos com mais cuidado perceberemos que o nosso mundo terreno não é somente miséria, fome, desamparo e flagelos.

O nosso planeta é um grande campo experimental, onde cada Espírito que aqui vive tem por dever o aprimoramento de si mesmo e o compromisso de socorrer o seu semelhante.

Mas é também um local de muita beleza. A Divindade se esmerou em cuidados para nos permitir gozar alegrias. Basta que olhemos e descobriremos as explosões de flores nos jardins, bosques e pradarias.

O tapete verde do pasto abundante se estendendo por montanhas, em tons que vão do claro ao escuro, como uma enorme colcha de retalhos estendida sobre a Terra.

O vento que nos acaricia os cabelos é aquele mesmo colaborador na reprodução das espécies floridas, carregando o pólen em seus braços, espalhando-o pelas campinas. Vento amigo que dedilha sinfonias nas cabeleiras das árvores para que possamos ouvir a voz da natureza.

É neste planeta abençoado que sentimos a garoa nos molhando o rosto. Observamos as chuvas fortes. Os relâmpagos que traçam desenhos luminosos nos céus escuros.

É aqui que, nas noites quentes, o pirilampo fica piscando e de dia o sol se apresenta com todo seu vigor.

É aqui que o filete d'agua pura desce a montanha e o mar se mostra exuberante.

É na Terra que encontramos as borboletas coloridas dançando no ar e os pássaros cantantes que enchem os nossos ouvidos de sons. A erva rasteira e a árvore gigantesca, que desafia os séculos.

Tudo nos fala do amor de Deus em todos os setores da vida no mundo.

Nosso mundo é uma sublimada escola. Busquemos assimilar as mais importantes lições que nos farão alcançar o esperado progresso.

Não o condenemos. Nem nos entristeçamos. Consideremos todas as possibilidades de beleza e som que o planeta nos concede a fim de que nos renovemos e nos iluminemos.

Valorizemos nosso mundo e cuidemos de tudo que nos rodeia: animais, vegetais e nossos irmãos em humanidade.

 

*   *   *

 

É importante que nos integremos às belezas do nosso mundo.

Que aprendamos a observar as madrugadas de luz, quando o sol se espreguiça, espalhando os seus raios pela Terra.

As auroras de rara beleza. As águas do mar que batem forte contra os penhascos. As estrelas, cujo brilho se projeta sobre nós.

Então haveremos de descobrir que nos compete amar e respeitar o nosso planeta, esse campo excelente de trabalho com que Deus nos felicita as horas.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1, do livro Para uso diário, pelo Espírito Joanes, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

FALANDO AO OCEANO...

 

Algumas folhas de papel, caídas sobre a areia de uma praia pouco visitada, traziam as seguintes linhas:

"Quando abraço o oceano com o olhar, volto a questionar milhões de coisas, tantas quanto as ondas que ganham a areia.

Volto a questionar: Como alguém pode sentir-se só na presença do mar? Na presença desta brisa incessante? Na companhia deste perfume raro?!

Como ainda posso me sentir só, sabendo que os braços do Invisível me abraçam, que aqueles que partiram continuam existindo, e que todos nós, sem exceção, somos amados por alguém!? Como ainda posso me sentir só?

Talvez seja porque eu me isole do Mundo, e seja exigente demais com as pessoas. Pode ser isso.

Talvez seja porque eu não permita que os outros conheçam minha vida, meus sonhos, minhas dificuldades - acho que há um pouco de orgulho nisso.

Quem sabe seja porque eu procure a solidão, e não ela que me persiga, como eu imaginava.

É... talvez eu precise conversar mais com as pessoas, me interessar mais por suas vidas, ouvir.

Há tempos que não ouço alguém; um desconhecido relatando os acontecimentos corriqueiros do dia-a-dia; um colega de trabalho falando das peripécias de seus filhos.

Meus irmãos: há tempos não converso com eles sobre assuntos profundos, como planos para o futuro, lembranças boas do passado.

É curioso, pois lembro-me de que há algumas semanas ouvi uma mensagem de cinco minutos, num programa de rádio, que falava sobre isso, sobre como as pessoas se isolam umas das outras, e do quanto isto é prejudicial para a saúde mental e física, já que uma é conseqüência da outra.

O locutor dizia que ‘Quem ama não se sente só', pois está sempre se doando, se envolvendo com os corações mais próximos, na intenção de ajudar.

Dizia ainda que, quando nos sentimos úteis, e concluímos que muitos dependem de nossa dedicação, de nosso amor, também esquecemos da solidão.

Acredito que ele tenha razão, pois lembro que naquele dia fui visitar uns tios que não via há muito tempo, e aquela visita fez-me tão bem!

Falamos de assuntos comuns, como notícias de televisão, notícias da família, mas ao final saí de lá menos tenso, menos preocupado com a solidão.

Abracei minha tia, e a ouvi dizer, por entre lágrimas discretas: ‘Gostamos muito de você, viu? Venha mais vezes! Não é sempre que recebemos visitas!'

Ela está certa. Não é sempre que recebemos visitas, pois não é sempre que visitamos os outros, creio eu.

Naquela tarde, vi que poderia ser útil em pequenas coisas, e que aquilo me afastava um pouco da solidão.

Dentro do carro, voltando para casa, observando o movimento intenso nas ruas,  lembro de fazer estas mesmas perguntas: Como pode alguém sentir-se só na presença de tanta gente, de tanta vida!?

Quantos desses corações esperam apenas por uma visita? E quantos deles estão dispostos a fazer uma?

E aqui está você, amigo oceano, à minha frente, ouvindo todas estas minhas divagações. Acho que foi sua presença, rei das águas, que me ajudou a entender melhor o que se passa em meu íntimo.

Agradeço profundamente por sua companhia, por conseguir me ouvir, e por me dizer, mesmo sem falar, que o que preciso fazer é visitar mais o coração de meu próximo.

 

Muito obrigado."

 

Redação do Momento Espírita, baseado em narrativa de autor desconhecido.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

POEMA PARA DEUS

 

Um dia, a alma desperta e se encanta com a manhã que se espreguiça no horizonte.

Sente-se como que a pairar acima e além da escala humana.

Então, se recorda ser filha de um Pai amoroso e bom. Recorda de um Criador que a tudo para todos provê.

E plena de gratidão, extravasa em versos sua alma:

Deus, Inteligência das inteligências, Causa das causas, Lei das leis, Princípio dos princípios, Razão das razões, Consciência das consciências.

Bem tinha razão Isaac Newton ao descobrir-se, toda vez que pronunciava Vosso nome.

Deus, Pai bondoso, eu Vos encontro na natureza, Vossa filha e nossa mãe.

Eu Vos reconheço, Senhor, na poesia da criação, no vento que dedilha harmonias na cabeleira das árvores.

Nas cores que se apresentam tão diversificadas em matizes e gradações.

Nas águas que rolam, silentes, em córregos minúsculos, nas cachoeiras que se lançam, ruidosas, de alturas consideráveis, no verdor da grama que atapeta o jardim e as praças.

Reconheço-Vos, Pai, na flor dos jardins e pomares, na relva dos vales, no matiz dos campos, na brisa dos prados.

Senhor, eu Vos encontro no perfume das campinas, no murmúrio das fontes, no rumorejo das menores ramificações das copas das árvores.

Também Vos descubro na música dos bosques, na placidez dos lagos, na altivez dos montes, na amplidão dos oceanos, na majestade do firmamento.

Eu Vos vejo, Senhor, na criança que sorri, brinca, pula e distribui alegrias, provocando risos.

Eu Vos reconheço, Pai, no ancião que anda lento, que tropeça. Mas, sobretudo, na inteligência que ele revela, resultado de suas experiências bem vividas.

Eu Vos descubro no mendigo que implora, na mão que assiste, na mãe que vela, no pai que instrui, no Apóstolo que evangeliza.

Deus! Reconheço-Vos no amor da esposa, no afeto do filho, na estima da irmã, na misericórdia indulgente.

E Vos encontro, Senhor, na fé do que a tem, na esperança dos povos, na caridade dos bons, na inteireza dos íntegros.

Reconheço-Vos, Senhor, na inspiração do poeta, na eloquência do orador, na criatividade do artista.

Também Vos encontro na sabedoria do filósofo, na intelectualidade do estudioso, nos fogos do gênio!

E estais ainda nas auroras polares, no argênteo da lua, no brilho do sol, na fulgência das estrelas, no fulgor das constelações.

Deus! Reconheço-Vos na formação das nebulosas, na origem dos mundos, na gênese dos sóis, no berço das humanidades, na maravilha, no esplendor, no sublime do Infinito!

Por fim, entendo, com Jesus, quando ora:

Pai nosso, que estais nos céus...

Ou com os anjos quando cantam: Glória a Deus nas alturas...

 

Redação do Momento Espírita, com base em poema de Eurípedes Barsanulfo, do livro O homem e a missão, de Corina Novelino, ed. Ide.

domingo, 21 de novembro de 2010

A espada de Dâmocles

 

Era uma vez um rei chamado Dionísio, monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília.

Vivia num palácio cheio de requintes e de belezas, atendido por uma criadagem sempre disposta a fazer-lhe as vontades.

Naturalmente, por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam-lhe a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era dos melhores amigos de Dionísio e dizia-lhe frequentemente:

Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só pode ser o homem mais feliz do mundo!

Dionísio foi ficando cansado de ouvir esse tipo de conversa.

Assim, certo dia propôs ao amigo a experiência de passar um dia, um dia apenas em seu lugar, como monarca, desfrutando de tudo aquilo.

Este aceitou imediatamente com alegria.

No dia seguinte, Dâmocles foi levado ao palácio e os criados reais lhe puseram na cabeça a coroa de ouro, e o trataram como rei.

Recostou-se em almofadas macias e sentiu-se o homem mais feliz do mundo.

Ah, isso é que é vida! - Confessou a Dionísio, que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade.

Nunca me diverti tanto.

Subitamente, Dâmocles enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram. Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só queria ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que fosse.

Percebeu que pendia bem acima de sua cabeça uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos.

Ficou paralisado, preso ao assento. Tentou levantar, mas não conseguiu, por medo de que a espada, com um movimento seu, pudesse lhe cair em cima.

O que foi, meu amigo? - Perguntou Dionísio. - Parece que você perdeu o apetite.

Essa espada! Essa espada! - Disse o outro, num sussurro. – Você não está vendo?

É claro que estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa partir o fio.

Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem espalhar mentiras a meu respeito, para jogar o povo contra mim. Pode ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o trono.

Ou então, posso tomar uma decisão errônea que leve à minha derrocada. Quem quer ser líder precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm junto com o poder, percebe?

É claro que percebo! - Disse Dâmocles. Vejo agora que eu estava enganado e que você tem muitas coisas em que pensar além de sua riqueza e fama. Por favor, assuma o seu lugar e deixe-me voltar para a minha casa.

Até o fim de seus dias, Dâmocles não voltou a querer trocar de lugar com o rei, nem por um momento sequer.

 

*   *   *

 

Antes de deixar que a inveja cresça em nosso coração, lembremos da espada de Dâmocles.

Toda riqueza, todo poder, toda fama vem com uma série de decorrências naturais que devem ser consideradas.

Não nos deixemos consumir por esta luta incessante do orgulho, da vaidade não satisfeita.

 

A inveja é uma das mais feias e das mais tristes misérias do nosso globo. A caridade e a constante emissão da fé farão desaparecer todos esses males.

 

Redação do Momento Espírita, com base em lenda grega e trecho da Revista Espírita, de julho de 1858, de Allan Kardec, ed. Feb.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mestres do perdão

 

Eram duas crianças a brincar. Amigos. Vizinhos. Um desfrutava de privilegiada situação social. Toda novidade em matéria de brinquedos lhe chegava, de forma rápida, às mãos.

O outro era o amigo que, por conta justamente da amizade, desfrutava com alegria desses pequenos prazeres da infância.

Naquele dia, a novidade era um trem. Nada sofisticado. Mas um trem de cores vivas que, nas mãos dos garotos logo adquiriu vida.

O trem ia de uma cidade a outra. Com rapidez. Recebia pessoas aqui, deixava outras ali. Transpunha distâncias em segundos, na imaginação fértil dos petizes, dando quase a volta ao mundo.

A geografia não importava muito. Em um momento, estavam numa localidade. Em outro, tinham transposto o mar e se encontravam em outra.

Assim seguia a brincadeira, até o momento em que o amiguinho resolveu que o trem deveria ficar mais tempo em suas mãos.

Afinal, o dono do trem o detinha em demasia. Ele fazia as viagens mais longas, mais emocionantes.

À conta disso, começou uma discussão. O trem é meu, então fico com ele tanto tempo quanto quero!

Mas eu sou seu amigo e seu convidado! Você tem que me deixar dirigir o trem.

E uma pequena disputa se travou. Os dois meninos agarraram o trem, cada um puxando de um lado.

Puxa daqui, puxa dali. O dono do brinquedo puxou com mais vigor. Caiu e o brinquedo lhe bateu na fronte, ferindo-o de leve.

Mas a dor da batida e um pequeno filete de sangue, que logo apareceu, fez com que o choro começasse.

Acudiram mãe e pai. Ao ver o rosto do filho com um hematoma e o sangue, o pai se tomou de ira, gritou com o visitante, fez-lhe ameaças.

O garoto ficou parado, sem entender muito bem toda a questão, pela rapidez com que tudo acontecera.

O amigo chorava, machucado. O pai o colocou ao colo e ia se preparando para sair, rumo ao hospital.

Afinal, pensava, era preciso verificar se algo mais grave não acontecera.

Quando ia transpondo a porta, o ferido levantou o rosto que estava apoiado ao ombro do pai, enxugou as lágrimas e gritou para o amiguinho ainda atônito, sentado no chão:

Ei, não vá embora! Eu volto logo e vamos continuar a brincar.

Então, o pai se deu conta do estardalhaço que fizera por pouca coisa. Limpou o rosto do filho ele mesmo e o entregou de volta à brincadeira.

 

*  *   *

 

O fato é mais corriqueiro do que se imagina. Em verdade, pequenas rusgas surgem entre as crianças.

Rusgas que parecem prestes a explodir em agressão.

Entre os adultos, nos envolvemos em situações semelhantes, muitas vezes.

Mas, deveríamos aprender com as crianças, esquecendo logo a dificuldade e retornando ao convívio da amizade ou do trabalho.

Razão tinha mesmo Jesus ao nos dizer que deveríamos nos assemelhar às crianças para conquistarmos o Reino dos Céus.

O Reino dos Céus que se traduz em paz e começa na intimidade de cada um.

 

Redação do Momento Espírita, a partir de pequena história narrada por Divaldo Pereira Franco, no Encontro fraterno com Divaldo Pereira Franco, realizado em Guarajuba/BA, de 4 a 7 de setembro de 2010.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A SURPREENDENTE MORTE

 

Ela sempre chega em momento inoportuno. Não a convidamos mas ela comparece, quando e onde bem entende.

Ela estabelece o seu calendário de visitas, totalmente aleatório aos nossos olhos mortais. Mas preciso, especialmente concorde com a Lei Divina, em cada detalhe.

Somente os que não estejam em equilíbrio mental é que a evocam, desejando-lhe a presença.

Todos os demais preferimos deixar para mais tarde, mais tarde...

É a morte, essa não desejada presença.

Ela dilacera corações plenos de esperança e nos leva a perguntar: Por quê? Por que agora? Por que com minha família?

Assim foi com a família Camargos. Na cidade de Natal, no Nordeste brasileiro, no dia doze de janeiro, a pequena Giovanna fazia seis anos.

Festa de aniversário. Tudo pronto para a comemoração. Pouco antes das oito horas da noite, a família só aguardava o telefonema do pai da menina, para a comemoração.

Ele integrava a missão de paz do exército brasileiro no Haiti. E ele adorava seu trabalho. O único senão eram as saudades da família: a mulher e dois filhos.

Seu retorno ao Brasil estava marcado para o dia vinte e oito. E ele dizia para a esposa que ela acabaria ficando enjoada dele, porque passariam o tempo todo juntos.

Veio o telefonema, ele falou com Giovanna. E a esposa pediu que ele ficasse um pouco mais na linha para cantar o Parabéns pra você.

Mas, de repente, a conexão do Skype caiu. Ela tentou ligar de volta. Sem êxito. A festa continuou.

No dia seguinte, o cunhado ligou para saber notícias de Raniel.

Está bem, informou Heloísa. Conversamos ontem à noite.

Ela não sabia do terremoto e, ao tomar conhecimento, se deu conta que fora a hora em que conversara com seu marido.

Na mesma tarde, um telefonema do batalhão onde Raniel servia, confirmou para a família que ele fora uma das vítimas do terremoto no Haiti.

Embora a tristeza, Heloísa diria mais tarde:

O que me consola é que Raniel morreu fazendo o que sempre quis: ajudar os necessitados e servir ao seu país.

Ele morreu como um herói.

As palavras da esposa traduzem o sentimento sublimado do amor. Ela sabia que o marido amava o seu trabalho, no exército brasileiro.

A saudade é grande. Os filhos perguntam pelo pai e terão que se habituar à sua ausência física.

Mas, eles terão a presença do ser amado em suas vidas nas doces lembranças, no telefonema de aniversário, nos sonhos...

Para essa família, como para todos os que cremos na Imortalidade, existe a certeza de que o Subtenente Raniel somente abandonou o casulo de carne.

Ele prossegue vivendo e amando, na Espiritualidade.

Que esse exemplo de serenidade nos possa servir.

Preparemo-nos. Quando a morte chegar, de inopino, rompendo nossos mais acalentados planos, pensemos: foi só um adiamento de tudo que planejamos. Logo mais tornaremos a estar juntos.

 

Redação do Momento Espírita, com base no artigo Heróis no Haiti (O soldado), da Revista Seleções Reader’s Digest, de abril de 2010.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

EXISTÊNCIA PROVADA

 

As crianças nos surpreendem, diariamente, com suas falas e suas deduções. Naturalmente, elas estão recebendo, na atualidade, maior soma de estímulos, o que as faz progredir mais rapidamente.

Desde pequenos se envolvem com computadores, jogos, aparelhos eletrônicos, sem se falar que sempre mais cedo comparecem aos bancos escolares.

Deixando de lado essas questões, entretanto, pode-se observar crianças que revelam, desde muito pequenas, disposições e sentimentos que superam a sua idade.

Lembramo-nos de uma garotinha que, passeando ao pôr do sol, com sua mãe, lhe perguntou, atenciosa:

Mãe, quem fez as nuvens?

Elas são tão lindas, parecem macias. E fazem, no céu, uns desenhos tão curiosos. Quem as fez e colocou no céu, de onde não caem?

Foi Deus, respondeu a mãe. Nosso Pai que tudo criou.

Andando mais um pouco, ela olhou para o chão, curvou-se sobre a grama e voltou à carga:

Mãe, quem fez estas flores tão pequenas mas tão coloridas?

A resposta da mãe foi a mesma.

A menina insistiu:

E as pedras? Quem criou as pedras que seguram o chão?

Foi Deus também. Foi a resposta pronta da mãe.

Então, colocando seu dedinho perto do rosto, em expressão de meditação, a pequenina contemplou o pôr do sol e exclamou:

Como Deus é bom! Ninguém, nem nada ficou esquecido.

 

* * *

 

Que lição da boca de uma criança! Quantos adultos andam pela vida, sem atentar para os detalhes das maravilhas que os rodeiam.

Preocupados com a conta bancária, que se encontra no vermelho, não aproveitam os momentos do crepúsculo para admirar o poente, que parece incendiar, no cair da tarde.

Envolvidos nas preocupações profissionais, esquecem de contemplar os astros, nas noites estreladas. Nem se dão conta de que Deus acendeu centenas e centenas de luzes para iluminar as noites.

Ensimesmados, dirigem o carro pelas ruas, sem perceber que o outono caprichou nas cores do arvoredo, que há folhas pelo chão, que nos galhos despidos de uma antiga árvore, uma flor insiste em explodir em perfume e beleza.

Absortos pelos trabalhos do cotidiano, esquecem de olhar para si mesmos, para o seu corpo e não se apercebem que, enquanto trabalham, sem cansaço, o coração lhes garante o bombeamento do sangue e a oxigenação das células. Que enquanto andam, o cérebro executa infinitos cálculos para lhes conferir o ritmo adequado aos passos.

Que enquanto se dirigem para o lar, pensando no jantar que os aguarda, o estômago prepara as substâncias certas para a digestão.

E tudo isso em nome de Deus, que a tudo vela e tudo providencia. Deus, que rege o Universo e governa todas as vidas.

 

Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais extraídos do cap. 2, do livro A presença de Deus, de Richard Simonetti, ed. São João.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quem de nós é o maior?

                        

Jesus era possuidor de paciência e compreensão inigualáveis.

Ouvia as questões mais simples com atenção e, em cada oportunidade, deixava lições profundas, completas, que poderiam ser entendidas naquele momento, bem como servirem aos séculos vindouros.

Certa feita escutou os discípulos discutindo entre eles, sobre qual seria o maior, o mais amado, o de importância mais significativa.

Todos reconhecemos que João é distinguido pelo vosso amor; Pedro é merecedor da mais expressiva confiança; Judas guarda as moedas e se encarrega do controle das nossas modestas finanças... E os demais?

Que somos e que papel desempenhamos no grupo? Afinal, qual de nós é o maior?

Certamente se sentiram constrangidos pela disputa, mas como ela aconteceu, era justo serem honestos, libertando-se das dúvidas.

Jesus envolveu-os na luz da compaixão, e com a sabedoria habitual, respondeu-lhes:

O grão de mostarda, menor e mais insignificante que qualquer outra semente, reverdece com o mesmo tom o solo abençoado pelo trigo vigoroso.

O fruto do carvalho desenvolve a árvore grandiosa que nela jaz, assim como o pólen, quase invisível de todas as flores, se encarrega de transmitir beleza e perpetuar a espécie em outras plantas.

Todos são importantes na paisagem terrestre.

O grão de areia se anula ante outro para construir a praia imensa, que recebe o carinhoso movimento das ondas arrebentando-se no seu leito reluzente.

Tudo é importante diante de meu Pai, não pela grandeza, mas pelo significado de que cada coisa se reveste para a utilidade da vida.

 

*   *   *

 

Nos dias atuais, em que ainda tanto se faz questão de ser o melhor, o mais importante, o número um, precisamos refletir sobre as orientações do Cristo.

A competição desenfreada tem nos feito escravos do sucesso e das aparências.

A vaidade tem ditado as regras em todas as áreas, transformando algumas em mais importantes que outras, por questões puramente materialistas.

Julga-se a importância desta ou daquela atividade, por sua visibilidade na mídia, ou por sua remuneração material.

O mundo moderno e seus valores descabidos parece muito semelhante à conversa dos discípulos em torno de quem seria o mais amado.

Desejamos ser amados, desejamos preencher esta carência, este vazio existencial que nos incomoda tanto, mas não sabemos como.

Jesus já havia dado a resposta naqueles idos tempos...

Além de dizer que todos são importantes, disse ainda que entre os homens, o maior sempre seria aquele que se esquecesse de si mesmo, tornando-se o melhor servidor.

Seria aquele que não se cansasse de ajudar, de cooperar com os outros.

É sempre bom ouvir o Mestre, que permanece atual, que permanece nos esperando como Aquele que oferece o caminho da verdadeira vida.

 

Redação do Momento Espírita com base no capítulo A importância de ser pequeno, do livro Até o fim dos tempos, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Existência provada

 

As crianças nos surpreendem, diariamente, com suas falas e suas deduções. Naturalmente, elas estão recebendo, na atualidade, maior soma de estímulos, o que as faz progredir mais rapidamente.

Desde pequenos se envolvem com computadores, jogos, aparelhos eletrônicos, sem se falar que sempre mais cedo comparecem aos bancos escolares.

Deixando de lado essas questões, entretanto, pode-se observar crianças que revelam, desde muito pequenas, disposições e sentimentos que superam a sua idade.

Lembramo-nos de uma garotinha que, passeando ao pôr do sol, com sua mãe, lhe perguntou, atenciosa:

Mãe, quem fez as nuvens?

Elas são tão lindas, parecem macias. E fazem, no céu, uns desenhos tão curiosos. Quem as fez e colocou no céu, de onde não caem?

Foi Deus, respondeu a mãe. Nosso Pai que tudo criou.

Andando mais um pouco, ela olhou para o chão, curvou-se sobre a grama e voltou à carga:

Mãe, quem fez estas flores tão pequenas mas tão coloridas?

A resposta da mãe foi a mesma.

A menina insistiu:

E as pedras? Quem criou as pedras que seguram o chão?

Foi Deus também. Foi a resposta pronta da mãe.

Então, colocando seu dedinho perto do rosto, em expressão de meditação, a pequenina contemplou o pôr do sol e exclamou:

Como Deus é bom! Ninguém, nem nada ficou esquecido.

 

*   *   *

 

Que lição da boca de uma criança! Quantos adultos andam pela vida, sem atentar para os detalhes das maravilhas que os rodeiam.

Preocupados com a conta bancária, que se encontra no vermelho, não aproveitam os momentos do crepúsculo para admirar o poente, que parece incendiar, no cair da tarde.

Envolvidos nas preocupações profissionais, esquecem de contemplar os astros, nas noites estreladas. Nem se dão conta de que Deus acendeu centenas e centenas de luzes para iluminar as noites.

Ensimesmados, dirigem o carro pelas ruas, sem perceber que o outono caprichou nas cores do arvoredo, que há folhas pelo chão, que nos galhos despidos de uma antiga árvore, uma flor insiste em explodir em perfume e beleza.

Absortos pelos trabalhos do cotidiano, esquecem de olhar para si mesmos, para o seu corpo e não se apercebem que, enquanto trabalham, sem cansaço, o coração lhes garante o bombeamento do sangue e a oxigenação das células. Que enquanto andam, o cérebro executa infinitos cálculos para lhes conferir o ritmo adequado aos passos.

Que enquanto se dirigem para o lar, pensando no jantar que os aguarda, o estômago prepara as substâncias certas para a digestão.

E tudo isso em nome de Deus, que a tudo vela e tudo providencia. Deus, que rege o Universo e governa todas as vidas.

 

Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais extraídos do cap. 2, do livro A presença de Deus, de Richard Simonetti, ed. São João.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Amor doação

 

O amor costuma ser um tema muito presente na sociedade contemporânea.

Nos contextos mais inusitados, o amor surge como móvel ou explicação para a conduta humana.

Há quem diga que traiu ou matou por amor.

Também se nomina a mera ardência sexual como uma manifestação desse sentimento.

Não falta quem se acredite muito amoroso, por ter ímpeto de manter relações íntimas com várias pessoas ao mesmo tempo.

Bem se vê como é difícil precisar o sentido do amor.

Entretanto, Jesus identificou o amor como a essência das Leis que regem a vida.

Acima de tudo é preciso amar a Deus.

Mas também é necessário amar o próximo como a si mesmo.

Certamente esse sentimento tão sublime há de ser estribado no dever e na conduta digna.

Não se concebe que justifique promiscuidade ou crimes.

Talvez até figure de forma embrionária nesses processos desequilibrados.

Mas por certo neles se encontra desvirtuado por vícios e paixões.

Então, é difícil precisar o sentido dessa palavra tão enunciada.

Muitos dizem sofrer por amor.

Amam mas não são correspondidos e por isso padecem.

Ou às vezes até se acreditam amados, mas não com a intensidade que desejariam.

Ardem de ciúmes do ser querido.

Reclamam de descaso, de que não recebem a atenção necessária.

Entretanto, em se tratando de amor, convém recordar os exemplos de Jesus.

O Mestre Divino não Se ocupou de reclamar de falta de atenção.

Não fez chantagens com Seus parentes e amigos, para exigir maiores demonstrações de afeto.

Não infernizou a vida de quem não conseguia entender o significado de Sua missão.

Por muito amar, Ele Se doou inteiro à Humanidade.

Investiu horas infindas na educação dos ignorantes.

Confortou os sofredores.

Curou enfermos.

Amparou os viciados do corpo e da alma.

Mas nunca esperou ou exigiu e nem mesmo recebeu nada em troca.

Aqueles homens rudes nada tinham mesmo para Lhe dar.

Em comparação com o Senhor Jesus, mesmo os mais bem aquinhoados eram simples indigentes morais e intelectuais.

Careciam de educação, de luz, de paz...

Então, um aspecto importante do amor é a doação.

Amar pelo prazer de ver feliz o ser querido.

Quem espera ser amado muitas vezes se converte em opressor ou chantagista.

Já quem se contenta em amar é sempre um esteio na vida do semelhante.

Reflita a respeito do modo pelo qual você encara o amor.

Encontra alegria em tornar felizes seus amores?

Ou está sempre a lhes fazer exigências, em uma barganha constante de seu afeto?

 

Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Imortalidade em versos

 

        Caminheiro, que passas pela estrada,

        Seguindo pelo rumo do sertão,

        Quando vires a cruz abandonada,

        Deixa-a dormir em paz na solidão.

            É de um escravo humilde sepultura,

            Foi-lhe a  vida o gozar de insônia atroz.

            Deixa-o dormir no leito de verdura,

            Que o Senhor dentre a selva lhe compôs.

               Quando, à noite, o silêncio habita as matas,

               A sepultura fala a sós com Deus.

               Prende-se a voz na boca das cascatas,

               E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

                    Caminheiro! Do escravo desgraçado

                    O sono agora mesmo começou!

                    Não lhe toques no leito de noivado,

                    Há pouco a liberdade o desposou.

 

Estes são versos da autoria de Castro Alves, o poeta dos escravos.

É um lamento de dor pela situação do negro, escravo de uma civilização que se denominava cristã, mas não se pejava em escravizar seus irmãos, sem piedade alguma.

Retirados à força do seu país natal, alguns deles chefes tribais, tinham desprezados todos os seus direitos.

Direito de ser tratado como ser humano, direito ao descanso, à família, à expressão do seu culto religioso, à dignidade.

O desejo de ser livre, de poder se expressar em seu próprio idioma, de cultuar seus deuses, tudo lhes era vedado.

A rebeldia era punida com castigos horrendos e a morte.

É a morte que, justamente, o poeta dos escravos exalta como a libertadora.

E em seus versos revela a verdade inconteste da Imortalidade.

Extinto o corpo, a alma estava liberta para andar pelos campos espirituais.

Como ser espiritual, imortal, poderia retornar aos ares do seu país natal, poderia reencontrar os amores que houvessem partido antes dele.

*   *   *


Embora muitos haja na Terra que, ainda, insistem em afirmar que nada existe para além da vida física, somos imortais.

Ninguém morre. Finda-se o corpo, mas a essência permanece.

Liberta do corpo, a alma retorna ao grande lar. Busca os amores, recompõe-se das lutas travadas durante a vida terrena e prossegue na conquista do progresso.

É assim que os que sofreram muito sobre a Terra encontram o restabelecimento das forças e as recompensas pelo bem sofrer.

A imortalidade é a grande porta que se abre para o reencontro dos que se amam e daqueles que ainda necessitam exercitar o amor uns pelos outros.

É o repouso das lutas, é o reabastecer de energias para novas etapas de progresso do ser que nunca morre e cujo destino final é a perfeição.


Redação do Momento Espírita, com versos da poesia A cruz da estrada, de autoria de Castro Alves.

domingo, 7 de novembro de 2010

Exemplificando sempre

 

Narra-se que, certa vez, uma jovem indiana, desejando que seu filho tivesse saúde invejável, decidiu que seria importante para ele deixar de comer açúcar.

Acreditava que o açúcar era um produto que agredia o organismo. Afinal, ele possibilitava o aparecimento de cáries, além de ser um produto que facultaria à criança uns quilos a mais.

Por largo tempo ela falou ao filho para deixar de consumir o produto. Mas, a criança adorava açúcar e não o dispensava, deliciando-se com os doces mais variados.

Finalmente, a mãe procurou o Mahatma Gandhi e contou seu problema, pedindo que ele, com sua grande autoridade, falasse ao filho. Com certeza, ele seria ouvido e atendido pelo menino.

O sábio não afirmou que ela estava certa, nem errada. Contudo, pediu-lhe um prazo de 15 dias. Decorrido o tempo, ela deveria retornar com o filho até ele.

A mulher se foi, com a alma embalada pelas mais suaves esperanças. Os dias demoraram a passar. Até que chegou o dia marcado para pôr fim à ansiedade da indiana.

Ela tomou o filho pela mão e o levou até a presença de Gandhi, que se demorou a falar com o garoto, por mais de uma hora.

Terminado o diálogo, Gandhi se despediu do pequeno e devolveu-o à sua mãe.

A mulher estava muito curiosa. E, assim que pôde, perguntou ao Mahatma porque ele a fez esperar quinze dias, para só depois conversar com a criança.

É muito simples, respondeu Gandhi. Há quinze dias eu também consumia açúcar e precisava do prazo para abandonar o hábito, pois se não o fizesse, não teria autoridade moral para lhe pedir que o evitasse.

 

*   *   *

 

A utilização ou não do açúcar na dieta alimentar não é o mais importante, no caso em pauta. O que se deve levar em conta é o fator exemplo.

O ilustre Gandhi não se sentia à vontade para pedir a uma criança que deixasse de fazer alguma coisa, se ele mesmo ainda a fazia.

Não desconhecia ele que, enquanto as palavras comovem  multidões, o exemplo as arrasta.

Pensemos em quantas vezes temos tentado modificar os hábitos dos outros, utilizando-nos simplesmente das recomendações ponderadas, sem nos prendermos ao fato de que não estamos exemplificando corretamente.

Assim é no que diz respeito ao uso de drogas como o fumo e o álcool, que afirmamos que agridem e matam, que seu uso é maléfico, sem deixarmos, nós mesmos, do velho cigarro e dos aperitivos de vez em quando.

Assim é, ainda, com relação à frequência no templo religioso, nas aulas específicas de evangelização, quando dizemos aos filhos que são importantes, edificantes. Mas, nós mesmos sequer comparecemos ao templo para o estudo e a oração.

Dizer e fazer. Duas ações importantes. A segunda, com certeza, de peso seguro para a educação mais acertada.

 

*   *   *

 

Jesus, o Divino Mestre, lecionando aos homens a Lei do trabalho, esmerou-Se nele, laborando na Sua infância e juventude na carpintaria do pai.

Dizendo que deveríamos perdoar setenta vezes sete vezes, perdoou Ele mesmo a todos os que O feriram e O trataram com rudeza e desprezo.

Isso porque, excelente pedagogo, Jesus reconhecia o extraordinário valor do exemplo, jamais dispensando-o na tarefa educativa dos seres.

 

Redação do Momento Espírita.

sábado, 6 de novembro de 2010

Ir para o céu

 

O instinto de conservação é bastante forte no ser humano.

Naturalmente, ele visa preservar ao máximo a existência terrena.

Entretanto, o advento da morte do corpo físico constitui uma certeza inexorável.

A ideia de morrer suscita um certo temor generalizado.

Muitos evitam falar e mesmo pensar nesse tema.

Mas a Espiritualidade superior costuma estimular reflexões em torno do término da experiência física.

Com frequência, toma-se a morte como um fenômeno renovador e redentor.

Há quem afirme que morrer é descansar.

Em momentos de angústia, muitos dizem desejar a morte para parar de sofrer.

É como se ela automaticamente transformasse a natureza humana.

Nessa linha, ao morrer, todas as mesquinharias e vícios humanos cessariam.

As almas com alguma sorte iriam para o céu, viver de forma beatífica e ociosa.

Ocorre que só se leva da vida a vida que se leva.

Hábitos longamente cultivados compõem a essência do ser e o acompanham aonde quer que vá.

A morte não transforma homens em anjos ou demônios.

Eles persistem qual se construíram ao longo do tempo.

Alguém que não soube construir a própria paz não se pacificará apenas porque cessou a vitalidade de seu corpo de carne.

Almas torturadas de vícios seguem viciosas, enquanto não se depurarem.

Para quem carrega um inferno no peito, trocar de endereço é irrelevante.

Na carne ou fora dela, o Espírito é o mesmo.

Somente suas sensações são mais fortes quando liberto dos grilhões da matéria.

No plano espiritual, a vida moral é muito mais intensa.

O júbilo pela consciência tranquila constitui algo maravilhoso.

Por outro lado, remorsos, ciúmes e desgostos íntimos tornam-se lancinantes.

Os Espíritos realmente se dirigem a alguns locais, após o evento da morte.

Eles se agrupam conforme seu merecimento e suas afinidades de gostos e tendências.

Contudo, o relevante não é o local.

Como o céu e o inferno residem no íntimo do ser, o primordial é pacificar-se e purificar-se.

Para isso, viver de forma honrada constitui o único meio eficaz.

As tormentas da vida não são tragédias e nem castigos.

Elas representam santas oportunidades de redenção.

Nos longos embates, é possível lentamente modificar a própria visão de mundo.

Por entre subidas e descidas, o homem pode compreender sua fragilidade e tornar-se generoso com o próximo.

Ele pode entender a imensa bobagem que é viver ofendido e magoado e valorizar em excesso coisas transitórias.

Assim, não espere morrer para ir para o céu.

Construa um céu em sua consciência e viva nele desde já.

Trata-se do único caminho para a verdadeira felicidade.

 

Pense nisso.

 

Redação do Momento Espírita.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Poema para Deus

 

Um dia, a alma desperta e se encanta com a manhã que se espreguiça no horizonte.

Sente-se como que a pairar acima e além da escala humana.

Então, se recorda ser filha de um Pai amoroso e bom. Recorda de um Criador que a tudo para todos provê.

E plena de gratidão, extravasa em versos sua alma:

Deus, Inteligência das inteligências, Causa das causas, Lei das leis, Princípio dos princípios, Razão das razões, Consciência das consciências.

Bem tinha razão Isaac Newton ao descobrir-se, toda vez que pronunciava Vosso nome.

Deus, Pai bondoso, eu Vos encontro na natureza, Vossa filha e nossa mãe.

Eu Vos reconheço, Senhor, na poesia da criação, no vento que dedilha harmonias na cabeleira das árvores.

Nas cores que se apresentam tão diversificadas em matizes e gradações.

Nas águas que rolam, silentes, em córregos minúsculos, nas cachoeiras que se lançam, ruidosas, de alturas consideráveis, no verdor da grama que atapeta o jardim e as praças.

Reconheço-Vos, Pai, na flor dos jardins e pomares, na relva dos vales, no matiz dos campos, na brisa dos prados.

Senhor, eu Vos encontro no perfume das campinas, no murmúrio das fontes, no rumorejo das menores ramificações das copas das árvores.

Também Vos descubro na música dos bosques, na placidez dos lagos, na altivez dos montes, na amplidão dos oceanos, na majestade do firmamento.

Eu Vos vejo, Senhor, na criança que sorri, brinca, pula e distribui alegrias, provocando risos.

Eu Vos reconheço, Pai, no ancião que anda lento, que tropeça. Mas, sobretudo, na inteligência que ele revela, resultado de suas experiências bem vividas.

Eu Vos descubro no mendigo que implora, na mão que assiste, na mãe que vela, no pai que instrui, no Apóstolo que evangeliza.

Deus! Reconheço-Vos no amor da esposa, no afeto do filho, na estima da irmã, na misericórdia indulgente.

E Vos encontro, Senhor, na fé do que a tem, na esperança dos povos, na caridade dos bons, na inteireza dos íntegros.

Reconheço-Vos, Senhor, na inspiração do poeta, na eloquência do orador, na criatividade do artista.

Também Vos encontro na sabedoria do filósofo, na intelectualidade do estudioso, nos fogos do gênio!

E estais ainda nas auroras polares, no argênteo da lua, no brilho do sol, na fulgência das estrelas, no fulgor das constelações.

Deus! Reconheço-Vos na formação das nebulosas, na origem dos mundos, na gênese dos sóis, no berço das humanidades, na maravilha, no esplendor, no sublime do Infinito!

Por fim, entendo, com Jesus, quando ora:

Pai nosso, que estais nos céus...Ou com os anjos quando cantam: Glória a Deus nas alturas...

 

Redação do Momento Espírita, com base em poema de Eurípedes Barsanulfo, do livro O homem e a missão, de Corina Novelino, ed. Ide.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Separação

 

Jesus, ao se aproximar o momento de Seu martírio, teve longas conversas, nas quais instruiu Seus discípulos a respeito dos tempos vindouros.

Em dado momento, afirmou:

Todavia, digo-vos a verdade: a vós convém que eu vá.

Semelhante declaração do Mestre é rica de significados.

Ninguém como Ele soube amar tanto e tão bem.

Contudo, foi o primeiro a reconhecer a conveniência de Sua partida, em favor dos companheiros.

Que teria acontecido, se Jesus teimasse em permanecer?

Provavelmente, as multidões terrestres teriam acentuado as tendências egoístas, consolidando-as.

Como o Divino Amigo havia buscado Lázaro no sepulcro, ninguém mais se resignaria à separação pela morte.

Por se haverem limpado alguns leprosos, ninguém aceitaria, de futuro, a cooperação proveitosa das moléstias físicas.

O resultado lógico seria a perturbação geral no mecanismo evolutivo.

O Mestre precisou ausentar-Se para que o esforço de cada um se fizesse visível no Plano Divino da obra mundial.

De outro modo, seria perpetuar a indolência de uns e o egoísmo de outros.

Os Apóstolos permaneceriam como alunos, confortavelmente situados ao lado de seu Mestre.

Não se lançariam nos rudes testemunhos que os burilaram e amadureceram.

A todo momento, poderiam contar com o esclarecimento direto do Cristo.

Consequentemente, não decidiriam por si mesmos quanto aos seus destinos.

Poderiam até se comportar bem, mas não teriam maiores méritos.

Sob diferentes aspectos, a grande hora da família evangélica repete-se nos agrupamentos humanos.

Inúmeras vezes surgem a viuvez, a orfandade, o sofrimento da distância, a perplexidade e a dor, por elevada conveniência do bem comum.

É da natureza humana rejeitar o sofrimento.

Sempre se deseja o caminho mais fácil e a proximidade dos amores mais caros.

Ocorre que a vida terrena ainda por um tempo será destinada à vivência de provas e expiações.

Espíritos necessitados de experienciar eventos dolorosos e de testemunhar sua firmeza no bem é que nela renascem.

Essa é a finalidade do globo terrestre.

Ele serve de palco a lutas redentoras e a abençoados esforços para um viver digno.

Nesse contexto, há luto, separações e lágrimas.

Mas não são castigos, tragédias ou desgraças.

Representam antes um programa anteriormente traçado para a dignificação de quem os deve vivenciar.

No momento exato, é preciso cumprir a programação sem dramas em excesso.

Em momentos de grande dor, convém recordar a passagem evangélica em que Jesus anunciou sua partida.

As separações no mundo são mesmo tristes.

Contudo, se a morte do corpo é renovação para quem parte, também representa vida nova para os que ficam.

 

Pense nisso.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 125 do livro Pão nosso, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O sonho do religioso

 

Conta-se que, certa feita, um renomado líder religioso teve um sonho.

Sonhou que se achava nos umbrais dos tabernáculos eternos.

Ali, um anjo montava guarda.

O religioso lhe indagou se no céu se encontravam os protestantes.

O anjo respondeu que no local não havia sequer um protestante.

Surpreso, o religioso questionou:

Os protestantes não alcançaram a salvação mediante o sangue de Cristo?

O anjo repetiu: Aqui não há protestantes.

Desconcertado, o líder prosseguiu no interrogatório:

Será que no céu estão os católicos romanos?

O representante celeste afirmou que naquele ambiente nem se conheciam os membros da Igreja Romana.

O religioso indagou, então, se lá se faziam presentes os partidários de Maomé ou de Buda.

O interlocutor asseverou que no céu não se encontravam nem uns, nem outros.

Intrigado, o religioso inquiriu:

Estará o paraíso desabitado?

O anjo respondeu que tal não acontecia.

Disse serem incontáveis os habitantes da Casa do Pai, a ocuparem todas as Suas múltiplas moradas.

Muito curioso, o ministro desejou saber quem eram os que se salvavam e a que religião pertenciam na Terra.

O guardião da entrada das celestes moradas esclareceu:

A todas e a nenhuma.

Aqui não se pensa em denominações ou dogmas.

Salvam-se os que visitam as viúvas e os órfãos em suas aflições.

Os que se guardam isentos da corrupção do século.

Salvam-se os que procuram aperfeiçoar-se, corrigindo-se de seus defeitos.

Os que renascem todos os dias para uma vida melhor.

Redimem-se os que amam o próximo.

Os que renunciam ao mundo, com suas fascinações.

Os que andam pelo caminho estreito: o caminho do dever.

Purificam-se os que obedecem a voz da consciência, não os reclamos do interesse.

Conquistam a Divina graça os que trabalham pela causa da justiça e da verdade.

Salvam-se os que buscam o bem comum e a felicidade coletiva.

O discurso do anjo se alongava, mas o religioso o interrompeu.

Afirmou que precisava voltar urgente ao cenário terreno, para modificar os rumos que imprimia em sua Igreja.

 

*   *   *

 

Essa lição é por demais preciosa.

Os homens costumam buscar o caminho mais fácil.

Não raro, buscam se convencer de que estão em boa senda apenas porque cumprem algumas formalidades religiosas.

Ou então se sentem puros e especiais porque se abstêm de alguns prazeres.

Entretanto, Jesus disse: A cada um segundo suas obras.

Para conquistar a plenitude, é preciso trabalhar com afinco para que a bondade e a pureza se implantem no mundo.

Tudo o mais é supérfluo.

Pense nisso.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. VIII, do

livro Nas pegadas do Mestre, de Vinícius (Pedro de Camargo), ed. Feb

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Morte em tenra idade

 

O casal se consorciara e, desde os tempos do noivado, haviam estabelecido em seus planos, o número de filhos. É como se pudessem ver, através da tela mental, as crianças a correr e encher a casa que juntos idealizaram.

Esmeraram-se no jardim a fim de que, ao chegarem os pequenos, logo tivessem contato com a natureza, o perfume e as cores das flores miúdas.

Deixaram uma pequena área para que, em tempo oportuno, pudessem colocar aparelhos próprios para as crianças brincarem.

Olhando aquele espaço, de mãos dadas, já se imaginavam ensinando os pequenos subirem pela escada e descerem pelo escorregador, caindo no meio da areia.

Podiam quase se ver a segurá-los, enquanto tentavam escalar os degraus e engatinharem, através da casinha que seria um labirinto bem montado, a abrir portas e janelas, sorrindo felizes.

A gravidez não tardou e tudo se passou num clima de ansiedade e sonhos. O dia em que puderam ouvir pela primeira vez o coraçãozinho do filho a bater, foi-lhes de pura emoção.

Cada mês era uma descoberta. Filmaram as diversas ecografias para que, um dia, pudessem mostrar ao pequeno como ele começara a sua vida na Terra, no carinho e aconchego do ventre materno.

Prepararam berço, quarto, rendas e roupinhas. Tudo traduzia o imenso amor que dedicavam ao pequeno. O nascimento foi uma festa, os primeiros dias uma descoberta contínua, os meses que se seguiram de aprendizado para os pais, tentando traduzir o choro infantil, os primeiros balbucios, o código especial daquele palavreado todo especial.

Os primeiros passos foram filmados e, a cada toque das mãozinhas tenras, era uma emoção diferente. Nos corações dos pais, a gratidão brotava espontânea e, todas as noites, agradeciam a Deus pela dádiva preciosa que lhes havia mandado.

Orando ao pé do berço, em rogativa singela a Jesus pelo pequeno que dormia, sentiam-se sempre mais felizes.

Então, um dia, aconteceu a tragédia. Uma febre inexplicável tomou conta do garoto que, até a pouco, brincava feliz na caixa de areia, em plena tarde de verão.

Ele adentrara a cozinha, queixando-se de dor de cabeça. A mãe o acarinhou, sentiu-lhe a temperatura anormal e chamou o marido. Logo vieram os exames, o internamento. Em poucas horas, a morte cruel.

O casal sentiu os corações estraçalhados. Como era possível que uma criança tão cheia de vida, pudesse morrer em poucas horas? E nos dias de hoje, com tantos recursos? Nada lhe faltara.

O pai desesperou-se, agarrou-se ao corpinho ainda quente e começou a gritar: Volte, volte. Não vá embora. Não nos deixe.

Então, a mãe, vencendo a dor que lhe esmagava o coração, qual uma mão de ferro, aproximou-se do marido, abraçou-o ternamente e lhe falou ao ouvido:

Amado, deixa-o partir. Ele veio e somente nos deu alegrias. Cumpriu o seu tempo. Deixa-o retornar em paz ao mundo de onde veio. Não o retenhas...

 

*   *   *

A morte em tenra idade é, dentre os tipos de morte, possivelmente, a que mais indagações provoca nos corações aflitos.

Contudo, elas ocorrem porque há Espíritos que vêm à Terra e tomam as vestes humanas, na qualidade de filhos, para fazerem felizes aos que amam.

Deixam a sua mensagem de alegria e de paz e retornam ao mundo espiritual, desde que a tarefa foi cumprida.

Outros Espíritos necessitam de algum tempo apenas, como complementação de vidas anteriores, não vividas em plenitude.

É sempre provação para os pais que sofrem a dor da separação. Mas, uma certeza deve permanecer: a morte não existe e, os que se amam, prosseguem a se amar na Espiritualidade.

Um dia, haveremos todos de nos reencontrar no mundo espiritual ou em vidas futuras, em algum lugar...

 

 

Redação do Momento Espírita.

Disponível no CD Momento Espírita, v. 17, ed. Fep.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

HONESTIDADE INCONDICIONAL

 

A educação informal acontece no lar, nas situações mais inesperadas. Sábios são os pais que delas tiram o melhor proveito.

Mildred era uma garotinha, quando o mundo mergulhou na primeira grande guerra.

Seu pai havia construído um imenso apiário, que era a maior fonte de renda da família.

Todo apicultor sabe que uma colméia pode morrer de fome durante o inverno, se a sua provisão de mel não durar até o florescimento das plantas.

Por isso, constitui rotina que ele ajude as abelhas, nos meses de frio, alimentando-as com um xarope feito de água e açúcar.

No período da primeira guerra mundial, vários alimentos ficaram escassos. E um deles foi o açúcar, que foi racionado pelo governo.

O pai de Mildred, como apicultor, recebia uma cota extra de açúcar, especialmente para as abelhas. E tal ração passou a ser criteriosamente guardada no porão da casa, separada da cota familiar.

Certo dia, a família recebeu a notícia de que parentes distantes viriam para uma visita, no dia seguinte.

A mãe desejava fazer um bolo, mas não havia açúcar suficiente. As crianças queriam o doce, mais que tudo, e acabaram por convencer a mãe que, se ela apanhasse a medida necessária do barril das abelhas, o governo jamais ficaria sabendo.

E assim foi feito. O bolo amarelo, assado no forno à lenha, ficou maravilhoso. Principalmente depois de coberto artisticamente com merengue.

Todos se deliciaram. As crianças estavam exultantes, como se tivessem ganhado um grande prêmio.

Pouco depois, chegou o dia da família receber a sua ração mensal de açúcar. O pai foi ao armazém, entregou os seus cupons e trouxe para casa um saquinho marrom, que colocou sobre a mesa.

A mãe o olhou por alguns instantes. Pegou-o e com o mesmo medidor que usara para o açúcar do bolo, separou exatamente a quantidade que utilizara.

Então, ante o olhar estarrecido das crianças, que a acompanharam, ela se dirigiu ao portão e despejou a quantia no barril das abelhas.

O que sobrou no saquinho teve que ser muito economizado naquele mês, por aquela família de sete pessoas. Para Mildred, que adorava doces, foi uma lição extra de sobriedade.

No entanto, a mãe não fez o menor discurso sobre o acontecido. Nada disse sobre honestidade.

Para ela, aquele fora um ato natural, de acordo com a integridade com a qual seu marido e ela viveram as suas vidas.

Mildred já passou dos 90 anos de idade. Há muito deixou de ser aquela criancinha que olhava por cima da mesa da cozinha da mãe, na pontinha dos pés.

Ela confessa que contou a história sobre a honestidade incondicional de sua mãe inúmeras vezes, para seus filhos, seus netos e até mesmo para os bisnetos.

Compara sua mãe a uma abelha que traça uma reta, quando se encaminha para sua colméia, após os seus vôos em busca do néctar.

Sua mãe, diz ela, sempre tomava o caminho mais honesto, uma linha reta, precisa como uma flecha.

E foi por isso que moldou, sem alardes, a consciência de quatro gerações de uma mesma família.

 

* * *

 

O coração da mãe é a sala de aula de uma criança. As lições mais profundas nascem dos momentos preciosos de dificuldades, quando é preciso ofertar o ensino, com ampla visão de quem semeia para o futuro.

 

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. Uma doce lição de Mildred Bonzo, do livro Histórias para aquecer o coração das mães, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jennifer Read Hawthorne e Marci Shimoff, ed. Sextante.