terça-feira, 15 de maio de 2012

Carta a minha mãe

 

Mãe, quando eu comecei a escrever esta carta, usei a pena do carinho, molhada na tinta rubra do coração ferido pela saudade.

As notícias, arrumadas como pérolas em um fio precioso, começaram a saltar de lugar, atropelando o ritmo das minhas lembranças.

Vi-me criança orientada pela sua paciência. As suas mãos seguras, que me ajudaram a caminhar.

E todas as recordações, como um caleidoscópio mental, umedeceram com as lágrimas que verteram dos meus olhos tristes.

Assumiu forma, no pensamento voador, a irmã que implicava comigo.

Quantas teimas com ela. Pelo mesmo brinquedo, pelo lugar na balança, por quem entraria primeiro na piscina.

Parece-me ouvir o riso dela, infantil, estridente. E você, lecionando calma, tolerância.

Na hora do lanche, para a lição da honestidade, você dava a faca ora a um, ora a outro, para repartir o pão e o bolo.

Quantas vezes seu olhar me alcançou, dizendo-me, sem palavras, da fatia em excesso por mim escolhida.

As lições da escola, feitas sob sua supervisão, as idas ao cinema, a pipoca, o refri.

Quantas lembranças, mãe querida!

Dos dias da adolescência, do desejar alçar voos de liberdade antes de ter asas emplumadas.

Dos dias da juventude que idealizavam anseios muito além do que você, lutadora solitária, poderia me oferecer.

Lágrimas de frustração que você enxugou. Lágrimas de dor, de mágoa que você limpou, alisando-me as faces.

Quantas vezes ouço sua voz repetindo, uma vez mais:

Tudo tem seu tempo, sua hora! Aguarde! Treine paciência!

E de outras vezes:

Cada dia é oportunidade diferente. Tudo que você tem é dádiva de Deus, que não deve desprezar.

A migalha que você despreza pode ser riqueza em prato alheio. O dia que você perde na ociosidade é tesouro jogado fora, que não retorna.

Lições e lições.

A casa formosa, entre os tamarindeiros assomou na minha emoção.

Voltei aos caminhos percorridos para invadi-la novamente, como se eu fosse alguém expulso do paraíso, retornando de repente.

Mãe, chegou um momento em que a carta me penetrou de tal forma, que eu já não sabia se a escrevera.

E porque ela falava no meu coração dorido, voei, vencendo a distância.

E vim, eu mesmo, a fim de que você veja e ouça as notícias vibrando em mim.

Mãe, aqui estou. Eu sou a carta viva que ia escrever e remeter a você.

*   *   *

Entre as quadras da vida e as atividades que o mundo o envolve, reserve um tempo para essa especial criatura chamada mãe.

Não a esqueça. Escreva, telefone, mande uma flor, um mimo.

Pense quantas vezes, em sua vida, ela o surpreendeu dessa forma.

E não deixe de abraçá-la, acarinhá-la, confortar-lhe o coração.

Você, com certeza, será sempre para ela, o melhor e mais caro presente.

Redação do Momento Espírita, com frases do cap. XVI do livro Pássaros livres, pelo Espírito Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

Cuidados de Deus

 

O hábito de reclamar é muito difundido.

Em toda parte, as criaturas reclamam.

Filhos em relação aos pais, cônjuges entre si, patrões e empregados, vizinhos, amigos e meros conhecidos.

Reclamões não faltam.

Já pessoas genuinamente gratas são um tanto raras.

Quem presta atenção no que falta costuma não notar o que tem.

Esse mau hábito é especialmente triste em se tratando da Divindade.

Porque Deus é o Senhor do Universo.

Dele procedem todas as bênçãos e oportunidades.

Ele cria todos os Espíritos e lhes viabiliza existências incontáveis a fim de que se aprimorem.

Cerca-os dos mais ternos cuidados.

Providencia-lhes corpos, vidas e amores.

Inclusive cuida de boicotar seus desatinos mais graves, para que não se compliquem em excesso.

Entretanto, curiosamente, os homens ainda se sentem no direito de reclamar do Eterno.

Imaginam ter direito a mais do que recebem.

Desejam tranquilidade, riqueza, poder, fama e beleza.

Contudo, nesse querer fantasioso, esquecem-se de notar e agradecer o muito que recebem.

Olvidam a bênção dos tempos de paz, nos quais podem perseguir seus sonhos.

Não valorizam a família na qual nasceram.

Os pais que lhes cercaram os primeiros passos de cuidados.

As escolas nas quais foram matriculados.

Os professores que os instruíram.

A saúde do corpo, a existência em um país pacífico, os amigos...

Acham natural possuir tantos tesouros.

Ocorre que nem todos podem desfrutar simultaneamente dos mesmos dons.

A vida na Terra constitui uma estação de aprendizado.

Nela, as experiências variam ao Infinito.

Há os que experienciam a saúde, enquanto outros vivem a enfermidade.

Os com facilidades materiais e os de vida mais modesta.

As posições se alternam no curso dos séculos.

O papel de cada homem é ser digno e fraterno na posição em que se encontra.

Utilizar os tesouros que recebeu da vida, a fim de crescer em talentos e virtudes.

E, especialmente, entender que o próximo é um irmão de caminhada.

Ele também deseja ser feliz e viver em paz.

É igualmente um filho de Deus.

Tendo isso em mente, urge repensar os próprios hábitos.

Identificar os inúmeros cuidados recebidos de Deus.

Ser grato por todos eles e cessar de reclamar por bobagens.

Quanto à gratidão, ela tem uma forma muito especial de se manifestar.

Consiste no amparo ao semelhante em estado de sofrimento ou abandono.

A bondade para com o próximo é uma forma de gratidão que o homem pode oferecer ao seu Criador.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita.