segunda-feira, 29 de março de 2010

Um homem bom

 

Em O Evangelho segundo o Espiritismo encontramos a informação de que os homens de bem ignoram que são virtuosos.

Eles deixam-se ir ao sabor de suas aspirações e praticam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos.

Pessoas assim existem muitas espalhadas por esse imenso mundo de Deus. Em todas as épocas, em todas as nações.

Longe, muito longe. E bem perto de nós. Por isso, prestemos atenção para não perdermos a chance de nos mirarmos em seu exemplo.

Assim era com Hans. Um pintor de paredes no século XX. Um homem simples que morava numa rua pobre, perto de Munique, na Alemanha.

Ele fora convocado para a Primeira Guerra Mundial. E voltara para casa, ileso.

Agora, a Segunda Guerra Mundial batia às portas e apertava o cerco a cada dia. Como uma megera que avançasse, penosamente se movimentando, entre as brumas do medo e da insegurança.

Quando a perseguição aos judeus se estabeleceu, ele perdeu muitos clientes. Afinal, os judeus tinham posses e, até há pouco, eram seus melhores clientes.

Agora, eles eram os indesejados sobre a face da Terra. Ao menos naquele pedaço de terra governado pela loucura daqueles dias.

Então, veio o aviso de que as bombas estavam chegando sempre mais próximas.  Havia quem não acreditasse que aquela cidadezinha dos arredores de Munique pudesse constituir um alvo.

Mas os abrigos foram marcados e as janelas tinham que passar pelo processo de escurecimento para as horas noturnas.

Para Hans, foi uma oportunidade de trabalho. As pessoas tinham venezianas que precisavam ser pintadas. De preto.

Verdade que a tinta logo se esgotou. Mas ele pegou pó de carvão e foi misturando. Foram muitas as casas de todas as regiões de Molching das quais ele confiscou dos olhos inimigos a luz das janelas.

Muitas vezes, na volta para casa, mulheres que nada tinham além de filhos e miséria, corriam para ele e imploravam que pintasse suas janelas.

Ele poderia sugerir que elas utilizassem cobertores para pendurar nas janelas.

No entanto, sabia que eles seriam necessários quando chegasse o inverno.

Desculpe, não me sobrou tinta preta. – Dizia ele. Amanhã bem cedo. – Marcava.

E lá estava ele, na manhã seguinte, pintando as tais janelas. Por nada. Ou por um biscoito e uma xícara de chá quente.

Por vezes, uma conversa, no degrau da frente desta ou daquela casa. E o riso se erguia da conversa, antes de partir para o trabalho seguinte.

Um homem bom. Pobre, servia a quem mais pobre fosse. E servia com alegria.

A bondade é assim: espalha a sua graça, deixa as suas benesses, enquanto o doador segue adiante, para continuar a distribuí-la a mãos cheias.

 

 

Redação do Momento Espírita, com base no item 8 do livro

O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb  e na pt. 7 do livro A menina que roubava livros, de

Markus Zusak, ed. Intrínseca.

quinta-feira, 25 de março de 2010

ESPELHO DA ALMA

 

Quando somos jovens, geralmente temos uma boa relação com o espelho. Paramos diante dele e nos olhamos de corpo inteiro e por todos os ângulos.

Temos mais coragem de nos observar, de enfrentar possíveis desajustes físicos, e o futuro está a nosso favor.

Somos mais flexíveis, desarmados, versáteis, e mais dispostos às mudanças. Gostamos de trocar opiniões e acatamos idéias novas com facilidade.

Nossa alma, tanto quanto nosso corpo está em constante transformação. Estamos sempre à procura de novos significados para velhas idéias.

Com o passar do tempo, vamos evitando espelhos que reflitam nosso corpo por inteiro. Procuramos aqueles que mostrem apenas do pescoço para cima.

Fugimos da nossa aparência, por não gostar dela ou porque ainda desejamos ver refletido aquele corpo jovem, a cabeleira abundante, a pele lisa e brilhante.

E porque não gostamos da nossa imagem, fugimos do espelho, como se isso resolvesse o nosso problema.

Assim também acontece com as questões da alma.

Quando somos jovens temos coragem de refletir sobre nossas atitudes, gostamos de aprender coisas novas e estamos dispostos a enfrentar desafios.

Buscamos respostas para nossas dúvidas e não tememos as críticas, por entender que elas nos ajudam a crescer.

Mas quando as gordurinhas do comodismo vão se acumulando em nossa alma começamos a fugir de espelhos que nos mostrem tal qual somos.

As idéias vão se cristalizando e não temos mais tanta disposição para reciclar as nossas memórias.

Posicionamo-nos numa área de conforto e nos deixamos levar pelas circunstâncias, sem tantos esforços.

Para muitos é como se uma influência paralisante lhes tomasse de assalto.

Não se interessam mais pelo conhecimento, nem por fazer novas amizades ou cuidar um pouco do corpo e da saúde.

Esquecidos de que a sabedoria não está na espinha dorsal nem na pele jovem ou na basta cabeleira, entregam-se ao desânimo como se tivessem chegado ao fim da linha.

Não se dão conta de que enquanto estamos respirando é tempo de aprender e crescer, de fazer exercício e eliminar as gorduras indesejáveis.

Enquanto podemos contemplar o espelho físico, podemos nos observar e envidar esforços para corrigir o que julgamos necessário.

Enquanto a vida nos permite, devemos voltar o olhar para o espelho da consciência e ajustar o que seja preciso, para que fiquemos mais belos e mais sábios.

Arejar os pensamentos e reciclar as memórias infelizes que teimamos em arquivar nos escaninhos do ser.

Repensar conceitos, refazer idéias, rever atitudes e posturas.

Só assim afastaremos o desejo constante de fugir do espelho, de fugir de nós mesmos, fingindo que somos felizes e mascarando a realidade.

Pense nisso e não lute contra a natureza, desejando segurar o tempo com as mãos.

Não deixe que a sua sabedoria se esconda nas rugas da pele nem perca o viço entre os cabelos brancos.

A beleza da sua alma é independente do corpo físico. A sua grandeza se reflete na sua forma de pensar, sentir e agir, e não na imagem projetada no espelho.

Pense nisso e observe-se de corpo e alma, por inteiro.

Lembre-se de que cabe somente a você a decisão de assumir a realidade e modificá-la, quando, como e se julgar necessário.

                         * * *

Pior do que estar insatisfeito com o corpo é a insatisfação com a própria consciência.

Essa insatisfação lhe rouba a paz, a alegria, a vontade de crescer e ser feliz.

Por isso é importante lembrar que você pode modificar essa realidade quando desejar.

Basta investir na sua melhoria íntima arejando a mente, eliminando preconceitos e adquirindo conhecimentos que lhe tragam satisfação e paz de consciência.

Pense nisso, mas pense agora.

 

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 24 de março de 2010

DEUS DISSE NÃO

 

Nas horas difíceis, quando lembramos de rogar a Deus por seu socorro, nem sempre sabemos interpretar a sua resposta.

No entanto, a resposta sempre chega de conformidade com as nossas necessidades e merecimentos.

Um homem que costumava fazer pedidos específicos a Deus, um dia conseguiu entender a sua resposta e escreveu o seguinte:

Eu pedi a Deus para tirar a minha dor. Deus disse não. Não cabe a mim tirá-la, mas cabe a você desistir dela.

Eu pedi a Deus para fazer com que meu filho deficiente físico fosse perfeito. Deus disse não. Seu espírito é perfeito e seu corpo é apenas provisório.

Eu pedi a Deus para me dar paciência. Deus disse não. A paciência nasce nas tribulações; não é doada, é conquistada.

Eu pedi a Deus para me dar felicidade. Deus disse não. Eu lhe dou bênçãos. A felicidade depende de você.

Eu pedi a Deus para me proteger da dor. Deus disse não. O sofrimento lhe separa dos apelos do mundo e lhe traz mais perto de mim.

Eu pedi a Deus para me fazer crescer em espírito. Deus disse não. Você tem que crescer sozinho, mas eu lhe podarei para que você possa dar frutos.

Eu pedi a Deus todas as coisas para que eu pudesse gostar da vida. Deus disse não. Eu lhe dou vida para que você possa gostar de todas as coisas.

E, por fim, quando pedi a Deus para me ajudar a amar os outros, tanto quanto ele me ama. Deus disse:

- Finalmente você captou a idéia!

Se, por ventura, você está se sentindo triste por não ter recebido a resposta que desejava receber do Pai Criador, volte a sorrir.

O sol beija o botão de flor e ela sorri.

A chuva beija a terra e ela, reverdecida, sorri.

O fogo funde os metais e estes, depurando-se, expressam formas para sorrir.

Vai a dor, volta a esperança.

Foge a tristeza, volta a alegria.

                          * * *

Certa vez um discípulo rogou, emocionado, a seu mestre:

Senhor, quando identificarei a plenitude da paz e da felicidade, vivendo neste mundo atribulado de enfermidades e violências?

O mestre, compassivo, respondeu:

Quando puderes ver com a suavidade do meu olhar as mais graves ocorrências, sem julgamento precipitado; quando lograres ouvir com a paciência da minha compreensão generosa; quando puderes falar auxiliando, sem acusação nem desculpismo; quando agires com misericórdia, mesmo sob as mais árduas penas e prosseguires sem cansaço no caminho do bem entre espinhos pontiagudos, confiando nos objetivos superiores, te identificarás comigo e gozarás de felicidade e paz.

O aprendiz ouviu, meditou, e, levantando-se, partiu pela estrada do serviço ao próximo, disposto a conjugar o verbo amar, sem cansaço, sem ansiedade e sem receio.

Se, por ventura, você está triste por não ter recebido a resposta que desejava do Pai Criador, volte, portanto, a amar e a sorrir.

Só assim vai a dor e volta a esperança.

Foge a tristeza e volta a alegria.

 

(Baseado em texto recebido pela Internet, sem mencionar o autor e mensagem volante do Espírito Eros.)

terça-feira, 23 de março de 2010

Você é insubstituível

 

Quantas vezes você já ouviu a frase: Ninguém é insubstituível?

Pensando bem, ninguém é insubstituível, no sentido de que todos os seres humanos somos transitórios.

Hoje estamos aqui e amanhã poderemos não mais estar. E, a qualquer momento, poderemos ser substituídos no cargo que ocupamos, na realização da tarefa que nos devotamos.

E essa é uma realidade de muitas instituições, onde as pessoas são descartadas, por qualquer motivo ou motivo algum.

Contudo, ao se repensar bem a frase, percebemos que ela é inverídica sob variados aspectos.

Basta se faça um passeio pela História da Humanidade e logo descobriremos pessoas que fizeram a grande diferença no mundo.

No campo de arte, recordemos de Beethoven. Ele morreu em 1827. Quem o substituiu?

Embora tantos músicos depois dele, ninguém compôs sinfonias como ele o fez.

Nunca mais houve outra Sonata ao luar. Ele foi único. E ouvindo as suas sonatas, seus concertos quem recorda que ele era surdo?

Único e insubstituível também foi Gandhi, o líder pacifista e principal personalidade da Independência da Índia.

Quem ensinou a não violência como ele o fez? Quem, depois dele liderou uma marcha para o mar, por mais de 320 quilômetros para protestar contra um imposto?

Quem conseguiu a independência de um país da forma que ele o fez?

E que se falar de Martin Luther King Junior? Depois dele, alguém teve um sonho que custasse a própria vida?

Um sonho em que os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos se sentassem à mesa da fraternidade.

Um sonho de que os homens não fossem julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caráter.

Ele morreu em 1968. Quem o substituiu?

Quem substituiu Madre Teresa de Calcutá, com seu amor, seu bom senso, sua capacidade de entender a necessitada alma humana?

Quem substituirá o colo de mãe ao filho pequeno?

Quem poderá substituir o abraço da amada que partiu, do filho, do esposo que realizou a grande viagem?

Tudo isso nos leva a pensar que cada pessoa tem um talento especial, uma forma de ser particular e, com isso, marca sua passagem por onde passa.

Outros virão e tomarão seu lugar, realizarão suas tarefas, dispensarão amor, farão discursos importantes, mas ninguém como ela mesma.

Um órfão encontrará amparo e ternura em amorosos braços, o esposo poderá tornar a se casar mas nunca será uma substituição.

A outra pessoa tem outros valores, outros talentos, outra forma de ser.

Pensemos, pois, que, de verdade, cada um de nós onde está, com quem está, é insubstituível.

O que cada um de nós realiza, a ternura que oferece, a amizade que dispensa, o carinho que exprime é único.

Isso porque somos Criação Divina inigualável.

Criados à imagem e semelhança do Criador, com nuances especiais, conquistadas ao longo das eras e que se expressam no sentir, no agir, no falar.

Pensemos nisso e, em nossa vida, valorizemos mais as qualidades dos amigos, familiares, colegas, conhecidos, tendo em mente que cada um deles é insubstituível.

E valorizemo-nos porque também somos insubstituíveis no coração das pessoas e no mundo.

 

Redação do Momento Espírita.

segunda-feira, 1 de março de 2010

ARQUIVO MENTAL

 

Com que tipo de informações você alimenta o seu arquivo mental?

Se ainda não havia pensado nisso, vale a pena meditar sobre o assunto, pois é de sua bagagem mental que depende a sua paz íntima.

Quando você abre o jornal, logo cedo, o que você costuma buscar primeiro? As boas notícias, a página policial, os esportes?

Se chega a uma sala de espera e percebe sobre a mesa vários tipos de revistas, qual delas você escolhe?

Ao ligar a TV, que tipo de programação assiste?

Ao navegar pela internet, quais os assuntos de sua preferência?

Dos acontecimentos diários, das cenas que presencia, das paisagens que vê, o que você costuma observar com mais atenção e guardar no seu arquivo mental?

Talvez isso lhe pareça sem importância, mas, na verdade, de tudo isso dependem as suas atitudes, as suas emoções, a sua vida.

Como você é o que pensa e sente, todas as suas reações dependem das informações que acumula no dia-a-dia.

Se costuma guardar sempre a parte boa, positiva, nobre, quando alguma situação lhe toma de assalto, irá agir com lucidez, tranqüilidade e nobreza.

Mas, se ao contrário, procura alimentar sua mente com as desgraças, os fatos negativos, os desequilíbrios e as desarmonias humanas, terá uma reação correspondente ao seu ambiente mental.

Assim, se deseja manter, em qualquer situação, a harmonia íntima, é saudável buscar alimentação condizente com seus propósitos.

Quando abrir o jornal, busque alguma coisa que lhe ofereça leitura agradável, sadia.

Se você pode escolher entre várias revistas, opte por aquela que lhe possibilite reflexões nobres, que lhe enriqueça os conhecimentos acerca da vida.

Se tem tempo para navegar pela internet, não se detenha nas páginas de teor deprimente ou conteúdo duvidoso. Não faça de seus arquivos mentais uma lixeira.

Busque deter-se nas melhores imagens que compõem a paisagem por onde passa.

Pense que os problemas existem, que as misérias humanas são uma realidade, que os fatos deprimentes poluem a Terra.

Mas considere também que, se você não pode mudar uma situação, não há motivo para carregá-la em seu arquivo mental.

Por essa razão, busque sempre a melhor parte.

Ao levantar-se pela manhã, olhe a sua volta o que tem de melhor.

Observe o amanhecer, as cores que a natureza traz, as paisagens que o dia lhe oferece.

Contemple a lua, mesmo sabendo que sob o luar existe a violência, a injustiça, a dor...

Admire o pôr do sol, ainda que tema os perigos que surgem com a escuridão.

Observe com atenção o inverno, mesmo que a paisagem não lhe pareça agradável, pois é a vida que dorme para surgir, ainda mais exuberante, com a primavera.

Detenha-se um pouco para observar o sorriso de uma criança, mesmo que o descaso com a infância seja uma realidade.

Agindo assim, ao final de cada dia você terá uma boa razão para agradecer pelas oportunidades vividas.

                          * * *

A sua vida íntima é alimentada, basicamente, por tudo aquilo que você mais valoriza.

Assim, se deseja nutrir a esperança, alimente a sua intimidade com os valores nobres.

E, se você quer construir a paz, enalteça-a com alimento correspondente, escolhendo sempre a parte boa de tudo o que o rodeia.

 

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita, inspirado em palestra proferida por Maurício Silva, na Sociedade Espírita Renovação, Curitiba-PR.