sábado, 29 de junho de 2013

FELICIDADE SIMPLES


O que verdadeiramente nos faz felizes? Se alguém nos fizer esta pergunta, ou se nós mesmos fizermos esta pergunta ao nosso coração, qual será a resposta?
 
Pensemos se o carro que temos nos faz felizes por completo. E nossa casa, ela tem a capacidade de nos fazer plenamente felizes?
 
Pensemos nos nossos bens materiais, na roupa cara, na conta do banco, nos adornos... Isso nos faz efetivamente felizes?
 
Vários pesquisadores, ao estudarem as causas da felicidade, chegam sempre a conclusões muito semelhantes.
 
Nossa felicidade não se constrói com o aumento do salário, com o ganhar na loteria, com algum bem caro que possamos adquirir.
 
Mesmo que mudemos nosso patamar de vida, que passemos a ganhar o dobro ou o triplo do salário, isso não é sinônimo de uma verdadeira felicidade.
 
Rapidamente nos adaptamos a um novo estilo de v

ida, a um novo padrão de consumo, e o que, no início, parecia ser felicidade, torna-se trivial e cotidiano.
 
Porém, muitos nos iludimos achando que a felicidade mora no ter, no possuir, no aparentar, no exibir.
 
Imaginamos que a felicidade estará naquilo que é difícil de se obter, no objeto raro, no produto caro, que sonhamos um dia possuir.
 
Porém, a felicidade verdadeira e perene é simples e modesta.
 
Se não a temos, é porque complicamos a vida, e assim não conseguimos entender e aprender como buscar a felicidade.
 
As moedas que compram a felicidade são apenas aquelas que conseguimos guardar no cofre do coração.
 
Não raro, nos lares humildes, nos ambientes de carência socioeconômica, encontramos olhares felizes, corações plenos.
 
Não menos frequente, vemos na opulência e na fartura de bens terrenos grassarem os desequilíbrios e dores de grande monta.
 
Assim, se anelamos a felicidade, devemos investir no tesouro correto.
 
Analisemos qual a qualidade das moedas que guardamos em nosso coração.
 
Percebamos quais valores estamos juntando em nossos cofres íntimos.
 
Serão sempre eles que nos traçarão o destino da felicidade ou da desdita.
 
Não falamos aqui da felicidade que imaginamos haver no riso fácil, no brilho social, no sucesso das capas de revista.
 
Por não se sustentarem, não preencherem a alma em plenitude, são momentos efêmeros e passageiros.
 
Porém, se guardamos a consciência tranquila, o olhar sereno, a espinha ereta da boa conduta, usufruiremos, certamente, da felicidade.
 
Mesmo sob o guante da doença, ainda que sob vendavais intensos da vida, ou mesmo quando na ausência dos amores que partem, perceberemos que os valores que guardamos no coração são nossos tesouros.
 
Nenhuma moeda de ouro, nenhuma grande conquista financeira, muito menos uma grande conta bancária.
 
Independente daquilo que temos, ser feliz é o simples resultado de como agimos e do que conquistamos para nosso coração.
 
Em suma, a felicidade nasce da simples equação de bem nos conduzirmos na vida, perante nós mesmos, perante nosso próximo e perante Deus.
 
Redação do Momento Espírita.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

PARA O RESTO DE NOSSAS VIDAS


Existem coisas pequenas e grandes, coisas que levaremos para o resto de nossas vidas.
 
Talvez sejam poucas, quem sabe sejam muitas, depende de cada um, depende da vida de cada um de nós.
 
Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós, coisas que nos marcaram e irão nos marcar, que irão mexer com a nossa existência em algum instante.
 
Provavelmente iremos pela vida afora colecionando essas ocorrências, colocando em ordem de grandeza cada detalhe que nos foi importante, cada momento que interferiu em nossos dias, que deixou marcas; cada instante que foi cravado no nosso peito como uma tatuagem.
 
Marcas, isso, serão marcas. Umas mais profundas, outras superficiais, porém, com algum significado também.
 
Serão detalhes que guardaremos dentro de nós e que se contarmos para terceiros, talvez não tenham a menor importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los.
 
Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia, uma carta, um e-mail, uma viagem, uma frase que alguém tenha nos dito num determinado momento.
 
Poderá ser um raiar de sol, um buquê de flores que se recebeu, um cartão de Natal, uma palavra amiga num momento preciso.
 
Talvez venha a ser um sentimento que foi abandonado, uma decepção, a perda de alguém querido, um certo encontro casual, um desencontro proposital.
 
Quem sabe uma amizade incomparável, um sonho que foi alcançado após muita luta, um que deixou de existir por puro fracasso. Pode ser simplesmente um instante, um olhar, um sorriso, um perfume, um beijo.
 
Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas guardadas em nossas memórias.
 
Umas porque nos dedicaram um carinho enorme, outras porque foram objeto do nosso amor e, ainda outras por terem nos magoado profundamente – essas que aguardam nosso perdão.
 
Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos, a quantidade de marcas que conseguimos carregar conosco e a riqueza que cada uma delas guardou dentro de si.
 
Bem lá na frente é que poderemos avaliar do que exatamente foi feita a nossa vida, se de amor ou de rancor, se de alegrias ou de tristezas, se de vitórias ou derrotas, se de ilusões ou de realidades.
 
Pensemos sempre que hoje é só o começo de tudo, e que se houver algo de errado, ainda está em tempo de ser mudado, e que o resto de nossas vidas de certa forma ainda está em nossas mãos.
 
* * *
 
A vida não é uma correnteza bravia que nos leva adiante, ou, pelo menos, não deveria ser.
 
Precisamos saber que estamos no comando de nossa embarcação, e que somos nós que escolhemos as direções, as velocidades, os destinos.
 
Não nos deixemos levar pelo transcorrer dos dias. Não deixemos a vida passar por nós e, sim, passemos pela vida, conscientes de tudo, do que devemos fazer, de quem precisamos amar, de quem precisamos perdoar.
 
A vida não é uma correnteza bravia que nos leva adiante, é o rio que vislumbramos do alto da cabine de comando de nosso Espírito, o rio que devemos percorrer empregando todo o nosso esforço.
 
Redação do Momento Espírita, com base em artigo de autoria desconhecida.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

O PAÍS QUE EU QUERO

Foi num dia 7 de setembro, no século XIX. A História encheu de magia o gesto espontâneo de um imperador amante do Brasil.

E Laços fora! E Independência ou morte! são frases repetidas, dramatizadas, recordadas a cada novo Sete de Setembro.

Desfiles militares, hasteamento da bandeira, execução do hino nacional se sucedem em rememoração à Independência do Brasil.

Olhando para as ruas do meu país me surpreendo com os desejos de minha alma patriota.

Da alma que assiste o pavilhão nacional tremular ao vento, mostrando as cores vibrantes que falam de verdura, riqueza, um céu de estrelas, ordem e progresso.

Quero um país independente, uma nação livre. Livre da corrupção, da desonestidade e do compadrio.

Livre das drogas, das armas de guerra e dos discursos vazios, da violência de todas as cores.

Quero um país onde as crianças possam sair à rua, para suas brincadeiras, sem medo de seqüestros.

Possam ir à praia, ao campo, jogar futebol na quadra da esquina, sem que tenham de se esquivar de balas perdidas.

Eu quero um país onde se respeite o idoso, não porque ele não tenha a destreza da juventude, mas porque nele se reconheça a experiência dos anos vividos e das contribuições à sociedade por largos anos de trabalho.

Eu quero um país sem medo do amanhã. Um país que tenha os olhos no futuro e, por isso, invista na formação do cidadão.

Um país com escolas, bibliotecas e museus, franqueadas a todos.

Um país que preze seu passado e nunca esqueça dos seus heróis.

Dos heróis que defenderam suas fronteiras, com armas, com leis, com a vida e com a voz. Dos heróis de todos os dias, de todas as raças, que deixaram seu torrão natal e adotaram uma nova pátria.

Dos heróis que suaram sangue, trabalharam duro, desbravaram matas, criaram filhos.

Dos heróis que a História venera. Dos heróis que deram sua vida pelo ideal de uma nação sem escravidão. Uma nação de irmãos.

Eu quero um país responsável, onde os governantes sejam conscientes de seus deveres.

E onde o povo eleja seus representantes, não iludidos por promessas utópicas, mas porque conhecem a vida honrada do candidato e suas propostas maduras, coerentes, viáveis de aplicação a curto, médio e longo prazos.

Eu quero um país justo, que ampare a quem trabalhe, não àquele que somente sabe enumerar pretensos direitos.

Um país que proteja seus filhos, preserve suas riquezas, distribua seus bens.

Um país de paz. Um país de luz.

O país que eu quero não é irreal, nem impossível.

Ele somente depende de mim, de você, de cada um dos seus milhões de habitantes.
 
*  *  *
 
Pensemos nisso, hoje, agora, enquanto os versos do hino pátrio nos exortam a agradecer a Deus por um país tão vasto, tão rico, tão maravilhosamente pleno de belezas naturais e oportunidades de progresso.
 
Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

MEDIANTE ESFORÇO


A siderurgia transforma a estrutura dos metais e os trabalha para finalidades compatíveis com programas antes estabelecidos.
 
Artistas alteram as formas de pedras, do bronze, do cobre, do ouro, da prata e lhes transmitem vida, lhes arrancando das entranhas, sob inspiração e esforço, a beleza e a utilidade para enriquecimento da sociedade.
 
Débil raiz cravada na frincha de uma rocha, obedecendo ao finalismo da sua existência, fende a pedra rude e sustenta a planta que sobre ela se desenvolve.
 
* * *
 
A vida responde de acordo com a ação desencadeada.
 
O violento tropeça com a truculência a cada passo.
 
A paciência encontra a harmonia quando persiste.
 
O sanguinário torna-se vítima da própria impetuosidade.
 
O pacifista adquire tranquilidade enquanto defende os ideais que o dominam.
 
O intrigante padece da neurose do medo.
 
A lealdade produz confiança.
 
A irritabilidade leva às ulcerações gástricas, duodenais e ao desequilíbrio da emoção.
 
A concórdia gera harmonia em toda pessoa e lugar.
 
O mal é sombra pelo caminho de quem lhe sofre a ação.
 
O bem é luz irradiante a produzir alegria.
 
Allan Kardec, em sua obra O céu e o inferno, ao abordar o tema Código penal da vida futura, afirma:
 
O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a consequência das suas imperfeições.
 
As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas imperfeições, são expiações de faltas cometidas na presente ou em precedentes existências.
 
O sofrimento é inerente à imperfeição.
 
Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis:
 
Assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo.
 
Da parte do bem que se faz, podemos aplicar o mesmo raciocínio: toda virtude traz consigo sua felicidade própria.
 
Quando cumprimos as leis Divinas - inscritas na consciência - recebemos por consequência imediata a harmonia, o refazimento e a paz íntima.
 
É Deus dentro de nós afirmando diariamente que os caminhos do amor são os mais seguros, e os únicos que nos levam à anelada felicidade plena e aos braços do Criador.
 
* * *
 
Que nos possamos moldar ao programa do dever de crescer para Deus, domando as más inclinações.
 
A princípio, essa atitude deve ser concentrada nas imperfeições de pequena monta.
 
Esse exercício, feito com disciplina e seriedade, já é caminho para a vitória sobre as paixões mórbidas que procedem do passado delituoso.
 
O alvo permanente deve ser nos libertarmos delas.
 
O homem torna-se o que se trabalha.
 
Não há milagre de transformação moral, em quem não se exercitou nas realizações humanas para a própria sublimação pessoal.
 
Pensemos nisso.
 
Redação do Momento Espírita, com base no cap.7, do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, ed. Feb e no cap. 14, do livro Alegria de Viver, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

terça-feira, 25 de junho de 2013

SOU DO TAMANHO DO QUE VEJO

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
 
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
 
Alberto Caieiro, personagem criado pelo poeta português Fernando Pessoa, apresenta uma visão muito interessante sobre a vida.
 
Quando proclama que somos do tamanho do que vemos, ensina que é nossa compreensão sobre o viver que nos faz grandes ou pequenos.
 
Ser grande não é ser alto, rico, famoso ou intelectualizado: ser grande é ser bom, no sentido de atuar como agente do bem na Terra.
 
Ser grande é poder compreender a vida como passageira, transitória, e já aceitar a ideia de sermos algo muito maior do que um corpo com uma mente que pensa.
 
Somos Espíritos vestindo mais um corpo, mais uma vez. Sim, esta não é nossa primeira vida e certamente não será a última.
 
Ser grande é enxergar a vida futura, é planejar os dias pensando no que é melhor para nosso desenvolvimento espiritual e não material apenas.
 
Sendo grandes enxergamos longe. Pequeno, só o chão à nossa frente.
 
A vida agitada e, por vezes, neurótica das grandes cidades nos faz pequenos, pois sequer lembramos de parar para respirar – respirar com intenção, com qualidade.
  • esquecemos de olhar para o lado, de perceber a vida pulsante das árvores estendidas sobre as ruas repletas de veículos apressados.
  • esquecemos de fechar os olhos, olhar para o sol e, por alguns instantes, deixá-lo envolver nosso rosto cansado de tantas preocupações.
Quando nos damos tempo de meditação, fechando os olhos de fora e ampliando a visão de dentro, estamos nos fazendo gigantes. Podemos nos ver do alto, podemos nos ver de longe.
 
Somos, sim, do tamanho do que vemos.
 
E se andamos vendo muito chão e muitas paredes frias, estamos reduzidos a essa pequenez instantânea.
 
Mas se estamos vendo céu, verde, flores e corações irmãos, sentindo-os verdadeiramente como irmãos de jornada, estamos nos fazendo grandes.
 
Assim, não nos permitamos ser engolidos pela rotina aprisionadora.
 
Não nos permitamos automatizar todos os atos, pensamentos e palavras, sem perceber o tempo passar e sem viver intensamente cada instante.
 
Olhemos para cima, olhemos para longe, olhemos para os nossos com olhar de presente e de futuro.
 
Amemos agora, mas amemos amanhã também, fazendo hoje as melhores escolhas para o amor.
 
Lembremos: somos do tamanho do que vemos, e ver ou não ver sempre será uma escolha nossa.

Redação do Momento Espírita, com base em trecho do poema O guardador de rebanhos, de Alberto Caieiro – Fernando Pessoa, do livro Poemas completos, ed. Saraiva.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

DA SERENIDADE HUMANA

 
A serenidade baixa do céu sobre os homens. Mas, às vezes, serpeia docemente aos nossos pés, na cantiga de córrego, ou adormece em reflexos aos nossos olhos, na face de um lago.

Todos os homens admiram a serenidade, embora vivam na inquietação e a ela se acomodam. Imperadores e príncipes, como o Doge de Veneza, a República Sereníssima, atribuem-se o título de serenos. E os poetas e os pintores jamais encontraram motivos mais belos que a serenidade de um rosto de criança, de jovem ou de mulher.

Serena é a vida, quando feliz. Serenas correm as nuvens, na transparência azul do céu. Serenas são as flores, e serena é a brisa que as embala e carrega os seus aromas. Sereno é o ar, nas manhãs de primavera, e serenas as estrelas, nas noites de inverno.

Até mesmo a tempestade é serena na sua fúria, pois o que dela nos parece fúria decorre das diferenças de tempo. Um minuto de temporal equivale a uma hora de rotina humana. É assim que a própria aceleração do tempo, que nos parece inquietação, também se transforma em serenidade, quando atinge a velocidade máxima. Serenos giram os mundos no infinito, como serenos giram os elétrons no finito das constelações atômicas.

Certa manhã de abril, do ano de 1935, vi a serenidade fluir sobre a cumeeira das casas, na cidadezinha de Cerqueira César. Parei na rua, para contemplar o sereno espetáculo. Não era o tempo, nem o vento, nem as nuvens que corriam. Era a serenidade, essa inexprimível doçura das coisas, que fluía sobre as cumeeiras de telhas enegrecidas, tendo por fundo o azul do céu.

Nesse dia, perguntei a mim mesmo por que motivo não somos serenos, mas inquietos, e muitas vezes até mesmo tumultuosos. Lembrei-me da ataraxia de Demócrito, de Epicuro e de Zenão, e as palavras de Jesus soaram-me aos ouvidos da alma: "A minha paz vos dou, mas não vo-la dou como a paz do mundo". Nesse mesmo dia, resolvi que procuraria descobrir o segredo da serenidade.

Faz hoje trinta anos que isso aconteceu, e até agora não consegui a chave do mistério. Seria fácil dizer, como Sartre faz com a liberdade, que a serenidade é a essência do homem. Mas como prová-lo, se o homem não é livre nem sereno, e sim, pelo contrário, o escravo inquieto de si mesmo? Seria fácil dizer, também, que a serenidade é a essência das coisas, ou até mesmo a essência do mundo. Mas como demonstrá-lo, se as coisas e o mundo nos mostram ao mesmo tempo a serenidade e a inquietação?

Poderíamos dizer ainda, como Platão, ou como Sócrates e ele, a propósito do amor, que a serenidade é uma falta, um vazio do ser, que procura o seu preenchimento. Mas o ser pleno de serenidade e o ser vazio - se é que a inquietude pode ser alguma coisa de vazio, e a serenidade uma plenitude - por acaso não são, ambos, essencialmente a mesma coisa?

O máximo que podemos alcançar é que a serenidade é a serenidade. E essa tautologia se justifica pela sua própria necessidade. Pois como definir a serenidade, senão pelo que ela realmente é? E o que ela pode ser, senão serenidade? Inútil, pois, procurarmos novas palavras, para definirmos aquilo que já definimos com uma única e bem aplicada palavra, que se ajusta perfeitamente ao seu conceito.

Saindo, porém, das coisas, dos seres em geral, e do mundo com sua mundanidade, e deixando além de nós e do mundo a imensidade cósmica, tentemos descobrir o que é a serenidade humana. Que não é a serenidade-título dos príncipes, bem o sabemos. Porque a maioria dos príncipes serenos somente o são no tratamento convencional um Duque sereníssimo, que é o exemplo vivo da inquietação e da precipitação.

Poderíamos dizer, com Epicuro, o sereno injustiçado, que a serenidade é a ausência de movimento, de agitação. Mas, se a serenidade é uma ausência, jamais a alcançaremos. E se ela exclui o movimento, como falarmos do homem sereno, que só poderia ser um cadáver? E se ela exclui também a agitação, como falarmos da brisa serena, que agita serenamente as flores?

Lembro-me do príncipe André, de Guerra e Paz, de Tolstoi, caído no campo de batalha de Austerlitz, e descobrindo no alto a serenidade do céu. Suas palavras são as de um homem que a si mesmo se encontra nas coisas, mas não propriamente nas coisas, e sim na serenidade das coisas, Ouçamo-las: 
"como se explica que eu nunca tenha visto, um céu tão alto? Como me sinto feliz, de tê-lo finalmente descoberto!"
Talvez tenhamos nessas duas frases a chave do mistério. A serenidade do céu esteve sempre aberta sobre a cabeça do príncipe, desde que ele nasceu. Mas nunca ele a vira, porque, ou corria entre Moscou e Kiev, ou corria no campo de batalha, antes de ser ferido. Por isso, a sua conclusão é perfeita, como a de um silogismo, quando acrescenta: 
"Sim, tudo é fatuidade, perfídia, salvo o céu infinito! Nada existe além dele. Mas ele próprio não existe. nada existe além da calma e do repouso. Deus seja louvado."
André substitui a palavra única por duas: "calma e repouso". Mas não tem a pretensão de dizer outra coisa. Quer apenas explicar-se melhor a própria descoberta. A serenidade, então, seria a própria existência? Heidegger explicou que a existência é um sair fora de nós mesmos: ec-sistir. E parece ter razão, quando analisamos o que chamamos por existência. Ora, a serenidade não pode ser isso, pois ou ela está conosco, e a sentimos em nós mesmos, ou não a temos. Por outro lado, a serenidade de fora deve ser aquela paz do mundo, paz exterior, que Jesus diferenciou da sua própria paz.

Não a serenidade não pode ser o existir, mas talvez seja o ser, pois aquilo que é, como ensinou Aristóteles, é. Mas então seria o ser, não enquanto ser, mas como ser, na aparente indiferença e alheiamento da terceira pessoa: é. Este é pode ser ele e pode ser eu. É ao mesmo tempo unidade e desdobramento, mas desdobramento voltado para a unidade. Só ele explicaria o fato de o príncipe André aceitar e rejeitar, ao mesmo tempo, que a serenidade seja e não seja existência.

Quando vi a serenidade fluindo na cumeeira das casas, ela estava também em mim. O príncipe André a viu no céu alto e sombrio de Austerlitz, em meio da refrega, mas só a viu porque estava ferido, lançando ao solo, fora da refrega. E porque, assim excluído subitamente da inquietação geral, encontrou-se a si mesmo, o que, por sua vez, lhe permitiu encontrar o céu, que estava ali mesmo, sobre a sua cabeça, e no entanto ele havia perdido.

No dia 26 de abril de 1935, chegando em casa, fui ao meu quarto e escrevi, na primeira página de um livro de leitura habitual - e por sinal um livro de literatura inquieta, mas que leio até hoje e me dá serenidade - aquilo que chamei de trilogia do serenista. Pensei que o serenista seria o amante da serenidade, e que devia, por isso mesmo, ter alguma coisa que o guiasse em direção a ela.

Por que trilogia? Talvez em homenagem a Pitágoras, que descobriu a harmonia. Ou talvez, por ser o meio mais cômodo de indicar, em apenas três proposições, um longo caminho, que o serenista terá de descobrir por si mesmo. Hoje, trinta anos depois, procuro simplificá-la, diminuindo das frases algumas palavras excessivas. e posso reproduzi-la assim:

1º Procura sempre a perfeição.

2º Nunca te deixe abater.

3º Eleva-te sempre às circunstâncias.
 
Nada me parece mais prático, até hoje, do que essa pequena tríade, quase simplória, para alcançarmos a serenidade. E embora tenha de confessar que ainda não a encontrei na plenitude desejada, posso afirmar que dela me aproximei algumas vezes. além disso, essa tríade, de tipo gaulês, me parece muito útil para se tentar a explicação do que seja, pelo menos, a serenidade humana.
 
J. Herculano Pires - in O SER E A SERENIDADE - Ensaio de Ontologia Interexistencial - Edições NOSSO LAR

domingo, 23 de junho de 2013

TESOURO DA FELICIDADE


Ali Rafed era um homem que se dizia feliz, vivia na Pérsia, hoje Irã. Considerava-se feliz porque amava uma mulher e com ela havia se casado. Tinha filhos e plantara árvores.
 
No seu conceito de fiel seguidor do livro sagrado, o Alcorão, ele fizera tudo o que uma pessoa deveria fazer em sua vida.
 
Certo dia, um homem, trajado com muita simplicidade, passou por suas terras e lhe pediu asilo.
 
Ali Rafed o recebeu, alimentou-o e o abrigou. Ao se despedir, na manhã seguinte, o pedinte lhe perguntou se ele se considerava feliz.
 
Como o anfitrião sorrisse afirmativamente, ele perguntou:
 
Tens diamantes?
 
Não, respondeu Ali Rafed. Nem sei o que são.
 
O homem sacudiu os ombros, reiniciando a sua jornada e falou: E pretendes ser feliz, se não tens diamantes e nem sabes o que são?
 
A partir de então, Ali Rafed se tornou angustiado. Depois de muito perguntar, alguém lhe disse que diamantes eram pedras preciosas, normalmente encontradas nas nascentes dos grandes rios, como o Nilo e o Eufrates.
 
Pediu, então, ao seu cunhado que cuidasse da esposa e dos filhos. Deu-lhe metade de sua propriedade e vendeu a outra parte.
 
Depois partiu, procurando por diamantes. Andou por terras distantes, por anos e anos. Perdeu todos os haveres que havia levado. Finalmente, morreu doente perto de Barcelona, na Espanha.
 
Mas, dez anos depois de Ali Rafed ter deixado sua propriedade, mulher e filhos, o homem de roupas rasgadas tornou a passar por ali.
 
Encontrando o novo proprietário das terras, perguntou pelo antigo e teve notícias de suas aventuras em busca das pedras preciosas.
 
Pediu hospedagem por aquela noite. Após o jantar, enquanto descansava em uma cadeira, na sala, o homem ergueu os olhos e foi atraído por algumas pedras maravilhosas que enfeitavam a lareira.
 
Aproximou-se, tocou-as e seu olhar brilhou mais que todas elas. Perguntou ao dono da casa onde conseguira aquelas pedras. Eram diamantes!!!
 
Ora, disse o outro, no córrego que atravessa minhas terras.  Aquele mesmo onde bebem as cabras.
 
Quando amanheceu o dia, o homem já alcançara o córrego e descobrira a maior mina de diamantes do mundo: a mina de Golkonda, que brindou o mundo com extraordinários diamantes como o Koinorr e o príncipe Orloff.
 
* * *
 
Na ânsia de buscar felicidade, o homem, por vezes, se parece com Ali Rafed. Desconsidera o que tem nas mãos, o que usufrui e sai em busca de ilusões.
 
Não se apercebe que os maiores tesouros, aqueles que lhe deverão conferir felicidade, são justamente a paz de consciência pelo dever cumprido, a bênção do afeto dos familiares, o trabalho que lhe propicia o prazer de autossustentar-se, a possibilidade do estudo e da experiência bem vivida.
 
Felicidade, em verdade, não é ter coisas, mas é um estado de tranquilidade íntima e paz de consciência.
 
Redação do Momento Espírita, com base na palestra Floresça onde for plantado, de Divaldo Pereira Franco.
 

sábado, 22 de junho de 2013

Amizade ou hipocrisia?




É muito interessante a maneira como cobramos atenção das pessoas. Colocamo-nos invariavelmente na posição de vítimas, sempre relegadas ao segundo plano. Poderíamos relatar um sem número de situações nas quais nos acreditamos abandonados por amigos e familiares. É certo que aqui na Terra não existe ninguém inocente.
Quando cobramos visita ou atenção de alguém, demonstramos com essa atitude a nossa imaturidade espiritual e nosso despreparo emocional diante da vida. Cobrar atenção de quem quer que seja é desejar manter uma relação de hipocrisia. Cada um dá o que tem o que pode e o que sente, na hora em que deseja.
Relação sem espontaneidade é relação mascarada, falsa.
Se em algum momento da vida você se sentiu sozinho, analise com honestidade como andam suas relações afetivas. Ninguém pode colher o que não plantou. Acusamos os outros de nos abandonar, mas vivemos abandonando.
Será que aqueles a quem cobramos atenção receberam de nós veras demonstrações de amizade e respeito ou estamos procurando um motivo para falar mal dos outros? Por que cobrar dos outros aquilo que nem Deus espera que eles façam?
Já escrevemos anteriormente que, todas as expectativas que criamos com relação às pessoas, são de nossa responsabilidade, portanto...
Cobramos os outros porque queremos acusar as pessoas posteriormente, desejamos mostrar à sociedade o lado ruim do nosso semelhante e exaltar o nosso comportamento masoquista, nossa auto piedade. Esta problemática acontece rotineiramente em nossa vida, seja no seio familiar, ou nas relações de amizade. Acreditamo-nos eternos credores da atenção alheia. Todas as vezes que nos predispomos a cobrar a atenção de alguém, é sinal de que não temos uma relação fraterna com esse alguém, temos sim o desejo de retaliar alguma situação mal resolvida anteriormente.
Antes de acusarmos a quem quer que seja de nos abandonar, analisemos honestamente o nosso próprio comportamento. A afirmação de Francisco de Assis de que: “é dando que se recebe”, traz em seu bojo um convite terapêutico para que abandonemos esse comportamento infantil. Essa prática terapêutica nos exorta a sair da conduta egocêntrica que nos caracteriza a condição evolutiva.
Tem mais amor, quem dá mais amor. É menos solitário, aquele que é mais solidário. Recebe mais visita, quem visita mais. É tratado com lealdade, aquele que é mais leal. Tem relacionamentos honestos, aquele que é honesto em suas relações.
Enquanto não nos dermos conta de que temos que dar para receber, continuaremos a cobrar dos outros sentimentos que ainda não existem em nosso próprio coração. Seja qual for a sua situação, não cobre atenção e afeto que não fez brotar no coração alheio.
A vida nos devolve sempre o que nós ofertamos a ela.




Algemas Invisíveis – Adeilson Salles – Editora CEAC