Quem já passou pela
experiência de despedir-se de alguém que muito ama, sabe o quanto
dói acompanhar seu sepultamento.
Ou entregar o corpo
para a cremação. Afinal, o ser que animava aquele corpo foi
infinitamente amado, acalentado.
Mais do que isso, a
sequência dos dias não ameniza a dor da saudade, que só faz
aumentar.
Quando a pessoa
que se vai, nos braços da morte, é idosa, há um certo consolo, que
se expressa com: Ela vai descansar. É justo que descanse, depois
de tantas lutas.
Mas, quando são os
jovens, as crianças que se vão, de forma prematura, a dor parece não
ter dimensão. Por isso, quando lemos a carta daquela mãe, endereçada
à sua pequena, que partira há oito meses, nos
comovemos:
Filha querida.
Oito meses se passaram, desde a nossa despedida. Incrível como o
tempo passa...
Ainda espero
sonhar com você para abraçá-la e poder de novo acalentá-la em meus
braços, como o fiz durante quase cinco anos.
Hoje, me detive a
recordar detalhes de você. Lembrei de quanto você desejava ajudar-me
nas tarefas da casa.
Que tá fazendo, mamãe?
Qué ajudá.
Recordei que a
colocava sobre uma cadeira para alcançar a gaveta de temperos e que,
enquanto cozinhava, você ia me alcançando o que
pedisse.
Você não os podia
ver, mas reconhecia todos pelo cheiro.
Este é manjelicão.
Este é manjelona. Mamãe, cadê a canela?
Lembrei de quando
fazíamos pastel e eu punha a massa em suas pequenas mãos, para que
me ajudasse a colocar o recheio.
E o dia em que sua
avó foi lhe ensinar a fazer bolachinhas... Quando lhe explicou que
as duas mãos tinham que ficar juntas, enrolando a massa, para lá e
para cá, você a surpreendeu, dizendo: Eu sei, vovó. Eu tenho
pática!
Quantas risadas
demos, nessas ocasiões. E, como numa catadupa de recordações, fui
ouvindo sua vozinha a pedir pão de magaína ou biscoito de anelzinho,
seu biscoito de polvilho predileto.
Quantos nomes
inventamos juntas para tantas coisas: a caininha da mamãe, que não
era nada mais que carne moída; o pudim de coate da vó, ou seja, de
chocolate.
Que lindo mundo
nós criamos! Saiba que foi uma honra imensa conviver com
você.
Que bela lição de
amor você nos deixou, meu anjo! Mamãe Luciana.
* * *
As palavras parecem
brotadas de uma saudade, feita de espera e de certeza. Espera de um
reencontro, em algum momento dessa ou de outra vida.
Certeza de que seu
pequeno anjo vive a Imortalidade do Espírito. E por isso, a mãe lhe
escreve, contando que as palavras lhe chegarão, onde quer que se
encontre, nesse imenso mundo espiritual.
Que conforto é a
certeza da Imortalidade para os que permanecem na
Terra!
Saber que os amados
vivem, que os ouvem, os veem. Saber que, pelos fios do pensamento,
lhes podem endereçar vibrações de carinho, é um doce
consolo.
Ter a certeza de que o
reencontro se dará, algum dia, que não se perde o amor, mesmo que o
ser amado esteja invisível aos olhos carnais, é reconforto para quem
padece a ausência física da pessoa amada.
Faz bem à intimidade
poder prosseguir o diálogo, mesmo que, por vezes, a resposta não
possa ser bem entendida por quem endereça as indagações, os anseios
e externaliza em palavras a saudade.
Imortalidade! Que
extraordinário presente nos concedeu o Pai celeste aos nos
criar.
Sejamos gratos por
isso.
Redação do Momento
Espírita, com base em algumas linhas traçadas por Luciana Costa
Macedo para sua filha Luana, no oitavo mês de sua
desencarnação.