terça-feira, 27 de agosto de 2013

A MORTE E O TURISTA




Ter status é comprar coisas que você não quer, com o dinheiro que você não tem, a fim de mostrar prá gente que você não gosta, tentando ser uma pessoa que você não é.
Por que temos a necessidade de ostentar? De mostrar aos outros nossas supostas conquistas?
E o mais perturbador em tudo isso, é que após a realização do sonho desejado, elegemos um novo desafio, mais uma compra, a sonhada felicidade.
Inicia-se mais uma vez a busca, a luta. O tempo passa e, ufa!!! Conseguimos de novo, mas logo nos cansamos e deixamos de lado; o vazio.
Comportamo-nos como crianças crescidas. Na verdade, não sabemos o que é verdadeiramente a vida. Até que um dia chega a noticia, “morreu fulano, morreu cicrano”, ou a morte se apresenta no seio de nossa família. Desespero. Temos uma fugaz tomada de consciência e dizemos interiormente: “Não somos nada na vida”.
Como é que Deus pode ser tão ruim?  Levou meu amigo, meu familiar. Não obstante o sofrimento causado pela morte, volta à velha vida alicerçada nas bagagens materiais. Nosso desejo é acumular cada vez mais.
Esquecemo-nos da nossa condição de turistas no mundo, não viemos aqui para ficar. A passagem de volta já está comprada, só não sabemos o dia a hora e como será a nossa partida.
Mergulhados na beleza da vida na Terra, cometemos excessos de toda ordem e acabamos nos desarmonizando emocionalmente. São várias situações de dor e desventura.
A consciência de que somos mortais fisicamente nos torna pessoas mais humildes perante a vida. Se fossemos mergulhar no fundo do mar, necessitaríamos de roupa adequada para o mergulho, pois não temos a  capacidade orgânica para ficar em baixo da água, carecemos de equipamentos.
Assim é a vida na Terra; para mergulhar transitoriamente na vida física, Deus nos empresta o corpo de carne para a manifestação do espírito. Um dia nós estragamos a roupa de mergulho ou ela estraga com o tempo e temos de jogá-la fora. Precisamos emergir da vida na Terra.
Pode parecer paradoxal, mas a consciência de que a morte faz parte desta vida nos leva a valorizar as coisas mais importantes deste mundo. Nos faz abandonar o “status” e as máscaras que utilizamos para agradar aos outros.
Jamais poderemos negligenciar a vida material, o progresso, o trabalho, as conquistas, todavia não podemos nos esquecer, somos turistas mergulhados na carne.
O  turista deve aproveitar a paisagem do lugar, não maltratá-la, deve manter o lugar visitado limpo, não poluindo O turista deve respeitar os outros turistas, não odiar.
Não nos esqueçamos de que somos turistas de passagem por aqui e que a morte é apenas o final de mais uma viagem neste mundo.


Algemas Invisíveis – Adeilson Salles – Editora CEA