sábado, 12 de setembro de 2009

A BARATA

 

Já era madrugada e as estrelas brilhavam no manto azul do infinito como também os galos já iniciavam as primeiras cantilenas anunciando um novo porvir, quando desperto com um leve roçar na sola de meu pé esquerdo. Era um toque leve, sem dor ou maior atrito, porém, dava para sentir algo estranho. O corpo estava descoberto, por causa do forte calor. Encontrava-me vestido somente com um short e uma leve camisa de pijama.

Acendi o abajur para melhor verificar o que de fato estava a incomodar-me. Surpreso, vejo uma brilhante baratinha a encarar-me com um olhar interrogativo.

Em leves palavras, interrogo-a perguntando: o que estava àquela hora despertando-me de um tranqüilo sono? –

- Estou à procura da Tânia. Respondeu-me.

- Ela repousa no quarto ao lado, respondi-lhe em suave tom.

- Eu sei, pois estive lá primeiro, porém, não a encontrei.

- Porque você a está procurando?

- Preciso me desculpar pelos transtornos que fui à causadora há poucos instantes, a pesar de não ter sido intencional.

- Ah! Foi você que causou um grande susto nela, não foi?

- Não! Na verdade, lá estive hoje ao anoitecer, pois estava perdida dentro daquele labirinto de esgotos e não sei como, cheguei em seu quarto, não com intuito de aborrecê-la.

- É, mas ela assustou muito, pois deu um grande grito que quase fez voar o telhado, transferindo o seu repouso noturno para outro quarto lá embaixo, perto da sala com medo de você.

- Percebi. E naquele instante, assustei-me tanto, que me escondi para que ela não me visse. E de repente, ela pegou uma vassoura e começou a dar pancada em todos os lugares, parecendo que estava querendo destruir o mundo.

- Pois é, eu que estava lá embaixo na sala, após ouvir aquele barulhaço procurei subi as escadas e chegando ao seu aposento, fiquei estarrecido, com aquela algazarra toda, - Disse-lhe.

- E então o que você fez? – Dirigir-lhe nova pergunta.

- Ora bolas! Retornei-me imediatamente para o esgoto, protegendo-me daquela insanidade.

- Mas você não acha que dentro do esgoto, você estaria mais exposta ao perigo, por causa da contaminação e de outros bichos?

- Que nada! Ali me encontro bem protegida. O perigo está exatamente do lado de fora. Veja uma situação como aquela. Se uma vassourada daquele me pegasse, eu estaria perdida. Nada no mundo me salvaria.

- Mas acontece que as pessoas têm medo de vocês.

- Há! Acho que não. As pessoas têm medo são delas mesmas, ou seja, das baratas que cada um carrega dentro de si. Ninguém tem medo disto ou daquilo, pois o medo é um só. As pessoas carregam um medo enorme por causa de seu passado delituoso e acabam produzindo de diversos medos.

- E o nojo que sentem?

- Será! - Não sei porque. Nem tão repugnantes somos. Depende do olhar de cada um. Será porque, ainda alimentamos dos componentes dos esgotos e principalmente dos excrementos negativos exalados das mentes ainda doentias de uma população em face de grande perturbação?

- Vocês alimentam das emanações mentais negativas da população?

-Sim! Locais onde imperam ódios, brigas, desentendimentos e agressividades, exalam odores deletérios das mentes em desalinhos, que servem de excelente nutrientes para o nosso corpo físico, fazendo com que proliferam enormes quantidades de seres iguais a mim.

- Então a defesa contra vocês, não é a vassoura? – interroguei-a novamente.

- Não! Claro que não. A maior defesa contra a nossa presença é tudo aquilo que venha a incomodar as pessoas, são as boas ações. Orações constantes, equilíbrios, pensamentos sadios, paz e amor seu seus corações.

Geraldo Fonseca – ladim44@yahoo.com.br

07/09/09

O amor que fica

 

Foi num hospital do câncer que a lição foi dada. A menina tinha 11 anos e lutava, desde os 9, contra a insidiosa doença.

Nunca fraquejou. Chorava, sim, mas não fraquejava. Tinha medo em seus olhos, mas entregava o braço à enfermeira e com uma lágrima, dizia:

Faça, tia, é preciso! E havia confiança e determinação no gesto e na fala.

Um dia, quando o médico a foi visitar no quarto do hospital, ela estava sozinha. Perguntou pela mãe. E ouviu a resposta que, diz ele, até hoje guarda, com profunda emoção:

Tio, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores.

Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer.

Eu não nasci para esta vida!

Pensando no que a morte representa para crianças que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indagou o médico:

E o que a morte representa para você, minha querida?

Olha, tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e, no outro dia, acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama, não é?

É isso mesmo, concordou ele, lembrando o que fazia com suas filhas de 2 e 6 anos.

Vou explicar o que acontece, continuou ela. Quando dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto.

Eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o Meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa dEle, na minha vida verdadeira.

Que bela imagem! Que extraordinária lição desse Espírito encerrado num corpo tão jovem e sofrido.

O médico estava boquiaberto, não sabia o que dizer, ante tanta sabedoria.

Mas a menina não terminara ainda.

Minha mãe vai ficar com muitas saudades minhas, emendou ela.

Com um travo na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, o médico perguntou:

E o que saudade significa para você, minha querida?

Não sabe não, tio? Saudade é o amor que fica.

                                  *   *   *

A menina já se foi, há longos anos. Ainda hoje, quando o médico experimentado olha o céu e vê uma linda estrela, imagina ser ela, a sua pequena paciente, na sua nova e fulgurante casa. A casa do Pai.

                                  *   *   *

Toda vez que a morte vier com seus braços frios e levar um dos nossos amores, pensemos que é o Pai que o envolve com ternura e o está levando para Sua casa.

O Pai que, com carinho, o vem buscar para estar com Ele, pois o ama muito.

E pensemos que logo mais poderemos ir também, pois todos os que nos encontramos na Terra seremos levados pelo Pai ao mundo espiritual.

Enquanto isso, cultivemos a doçura da saudade, em nosso coração.

A saudade... O amor dos nossos amores que ficou...


Redação do Momento Espírita, a partir de crônica que circula
pela internet, atribuída ao Dr. Rogério Brandão, médico
oncologista clínico de Recife, Pernambuco.