domingo, 3 de abril de 2011

OS QUE CHORAM

 

 

Naquele junho, nas terras da Palestina, estava calor mais do que nos anos anteriores...

O dia longo murchava lentamente, abafado, enquanto o sol, semi-escondido além dos picos altaneiros, incandescia as nuvens vaporosas...

A montanha, de suave aclive, terminava em largo platô salpicado de árvores de pequeno porte, que ofereciam, no entanto, abrigo e agasalho,

Desde cedo a multidão afluíra para ali, como atraída por fascinante expectativa.

Eram galileus da região em redor: pescadores, agricultores, gente simples e sofredora, sobrecarregada e aflita.

Ouviram-no e o viram mais de uma vez, e constataram que jamais alguém fizera o que ele fazia ou falara o que ele falava...

O evangelista Mateus assevera: e Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte...

Vestiu-se de poente e recitou os versos encantadores das Bem-aventuranças – a lição definitiva. O consolo supremo.

De seu excelso canto, ouvimos:

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados!

O olho é a candeia do corpo, e todos os olhos cintilam. Lágrimas coroam-nos.

A figura do Rabi é ouro refletido contra o céu longínquo, muito claro.

Todos nós temos lágrimas acumuladas e muitos as temos sem cessar, nas rudes provações, oculta ou publicamente.

Longa é a estrada do sofrimento. Rudes e cruéis os dias em que se vive.

Espíritos ferreteados pelo desconforto e desassossego, corações despedaçados, enfermidades e expiações...

Todos choram e experimentam a paz refazente que advém do pranto.

Crêem muitos que o pranto é vergonha, esquecidos do pranto da vergonha.

Dizem outros que a lágrima é pequenez que retrata fraqueza e indignidade.

A chuva descarrega as nuvens e enriquece a Terra. Lava o lodo e vitaliza o pomar.

A lágrima é Presença Divina.

Quando alguém chora, a Justiça Divina está abrindo rotas de paz nas províncias do Espírito para o futuro.

O pranto, porém, não pode desatrelar os corcéis da rebeldia para as arrancadas da loucura.

Não pode conduzir, como enxurrada, as ribanceiras do equilíbrio, qual riacho em tumulto semeando a destruição, esfacelando as searas.

Chorar é buscar Deus nas abrasadas regiões da soledade.

A sós e junto a Ele.

Ignorado por todos e por Ele lembrado.

Sofrido em toda parte, escutado pelos Seus "ouvidos".

O pranto fala o que a boca não se atreve a sussurrar.

Alguém chorando está solicitando, aguardando.

Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem, e a resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.

Também podem essas palavras ser traduzidas assim:

Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair.

Suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura.

Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir.

 

Redação do Momento Espírita com base no cap. 3 do livro Primícias do reino, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal e o cap. V de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb.

O DESAFIO DA INDULGÊNCIA

 

O relacionamento humano é feito de grandes desafios para o mundo íntimo de cada um de nós. Sempre que nos propomos a nos relacionar, a nos aproximar de alguém, inicia-se a oportunidade de uma nova jornada de aprendizado.

Isso se dá porque não há quem não traga, no seu campo emocional e moral dificuldades de pequena ou de grande monta.

Alguns nos apresentamos egoístas, sempre pensando em nós e nos nossos, com dificuldades para sintonizar com a solidariedade.

Outros, mostramo-nos orgulhosos, colocando-nos em uma posição irretorquível, sem possibilidades ao diálogo ou à crítica construtiva, afastados da humildade que traz o aprendizado.

Não são poucos aqueles que, vestindo-nos da ganância, buscamos sempre mais e mais, disputando mesmo o pouco, que já nos será excesso, na única justificativa de amealhar mais, distanciando-nos da generosidade para com o próximo.

Somos todos nós esses que, ora aqui, ora ali, apresentamos as dificuldades de que ainda somos portadores, constituindo-se a reencarnação a grande escola de reforma das questões da alma.

Desta forma, se temos nossas dificuldades, se ninguém está isento dessa ou daquela atitude, palavra ou pensamento menos nobre, estamos todos em um grande processo de aprendizagem, diferindo muito pouco uns dos outros.

Pensando sob esse prisma, por que julgamos tão severamente nosso próximo? Por que temos sempre olhos tão atentos para as falhas de quem convive conosco, analisando, julgando e criticando?

O simples fato de percebermos que erramos porque ainda estamos em um processo de aprendizagem, nos deve remeter a pensar que seria muito melhor usar da indulgência para com as ações do próximo.

A indulgência será essa capacidade de olhar com olhos de compreensão frente à falha do nosso próximo, tentando entendê-lo, ao invés de julgá-lo, muitas vezes de forma ácida e contundente.

Ao sermos indulgentes, colocamos a doçura no olhar, a compreensão na mente, e a suavidade na fala, entendendo que o erro do próximo não é muito diferente dos erros que nós mesmos cometemos.

E será o sentimento de indulgência que conseguirá diminuir a dureza com que medimos as atitudes de nossos companheiros, amigos, parentes, dando-nos um tanto de compreensão para com eles.

Exigir a perfectibilidade de alguém é ilusório, senão cruel. Assim, mais coerente é entender que os erros fazem parte do processo de aprendizado em que nos encontramos inseridos.

E o erro daquele que convive conosco pode ser a oportunidade para o aprendizado da compreensão, do entendimento e da fraternidade incondicional.

Portanto, da próxima vez que estivermos tentados a julgar a atitude de alguém, perguntemo-nos por que a pessoa agiu daquela forma, o que a levou a tomar tal atitude.

Com alguma reflexão, talvez concluamos que se fôssemos nós no lugar dela, agiríamos, quem sabe, muito pior.

Exercitemos a indulgência no olhar, no pensar, no julgar os que convivem conosco, e conquistaremos a paz daqueles que conseguem ver a Humanidade matriculada em um grande colégio, objetivando que aprendamos as lições da vida.

Redação do Momento Espírita.