sábado, 7 de novembro de 2015

Desperdícios



       Há muito desperdício no mundo, fomentando larga faixa de miséria entre os homens.
       O que abunda em tua mesa falta em muitos lares.
       O excesso nas tuas mãos é escassez em inúmeras famílias.
       O que te sobra e atiras fora, produz ausência em outros lugares.
       O desperdício é fator expressivo de ruína na comunidade.
       O homem, desejando fugir das realidades transcendentes da vida, afoga-se na fantasia, engendrando as “indústrias da inutilidade, abarrotando-se com os acúmulos, padecendo sob o peso constritor da irresponsabilidade, em que sucumbe por fim”.
       A vida é simples nas suas exigências quase ascetas.
       Muitos cristãos distraídos, porém, ataviam-se, complicam os deveres, sobrecarregam-se do dispensável, desperdiçam valores, tempo e oportunidade edificante para o próprio burilamento.
       Desperdiçam palavras, amontoando-as em verbalismo inútil a fim de esconderem as verdades;
       desperdiçam tempo em repousos e férias demorados, que anestesiam os centros combativos da ação da alma encarnada;
       desperdiçam alimentos em banquetes, recepções, festas extravagantes com que disputam vaidades;
       desperdiçam medicamentos em prateleiras empoeiradas, aguardando, no lar, doenças que não chegarão, ou, em se apresentando, encontram-nos ultrapassados;
       desperdiçam trajes e agasalhos em armários fechados, que não voltarão a usar;
       desperdiçam moedas irrecuperáveis em jogos e abusos de todo gênero, sem qualquer recato ou zelo;
       desperdiçam a saúde nas volúpias do desejo e nas inquietações da posse com sofreguidão;
       desperdiçam a inteligência, a beleza, a cultura, a arte nos espetáculos do absurdo e da incoerência, a fim de fazerem a viagem da recuperação do que estragaram, em alucinada correria para lugar nenhum...
       Não se recupera a malbaratada oportunidade.
       Ninguém volta ao passado, na busca de refazê-lo, encaminhá-lo noutro rumo.
       O desperdício alucina o extravagante e exaure o necessitado que se lhe faz vítima.
       Há, sim, muito e incompreensível desperdício na Terra.
       Reparte a tua fartura com a escassez do teu próximo.
       Divide os teus recursos, tuas conquistas e vê-los-ás multiplicados em mil mãos que se erguerão louvando e abençoando as tuas generosas mãos.
       Passarás pelo mundo queiras ou não. Os teus feitos ficarão aguardando o teu retorno.
       Como semeares, assim recolherás.
       O que desperdiçares hoje, faltar-te-á amanhã, não o duvides.
       Sê pródigo sem ser perdulário generoso sem ser desperdiçador e o que conseguires será crédito ou débito na contabilidade da tua vida perene.


De “LEIS MORAIS DA VIDA”, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis