sábado, 14 de maio de 2011

NÃO PRECISA MUDAR O MUNDO

 

 

Era uma vez um rei que governava um próspero país. Um dia ele resolveu conhecer algumas áreas distantes de seu país. Por vários dias ele percorreu grande extensão de estradas. Mas quando retornou ao seu palácio, chamou seus súditos e reclamou que seus pés estavam feridos e doíam muito. Afinal, era a primeira vez que ele fazia uma viagem tão longa por estradas tão ásperas e cheias de pedregulhos.

Pensou numa maneira de resolver o problema e logo teve uma idéia. Ordenou que seus servos recobrissem todas as estradas do seu país com couro. Seria uma obra muito cara, pois custaria a vida de milhares de vacas e bois.

Então, um dos mais sábios entre os servos ousou fazer uma sugestão ao rei dizendo-lhe:

Por que o rei tem que gastar essa enorme quantia de dinheiro? Não seria mais prático e mais barato mandar cortar um pequeno pedaço de couro para cobrir seus pés?

O rei ficou surpreso, mas aceitou a sugestão. Mandou cortar um pedaço de couro e fazer uma proteção para seus pés, a fim de evitar os ferimentos nas próximas viagens. 

Às vezes nós também costumamos ter idéias semelhantes à do rei, tentando resolver os problemas da maneira mais difícil.

Insatisfeitos com o mundo, desejamos mudá-lo, em vez de efetuar as mudanças necessárias em nós mesmos.

Movidos pelo desejo de pavimentar estradas sem espinhos nem obstáculos, esquecemos das proteções que devemos construir na intimidade da própria alma, e queremos mudar a situação ao redor a todo custo.

Se não desejamos sofrer os ferimentos da vaidade, é preciso recobrir a alma com a proteção da MODÉSTIA.

Se queremos evitar os pedregulhos do orgulho, é necessário proteger a alma com o algodão da HUMILDADE.

Se não desejamos sofrer a dor provocada pelos espinhos do egoísmo, busquemos desenvolver a couraça da FRATERNIDADE.

Se a situação ao redor nos desagrada e nos fere com freqüência, o melhor a fazer é buscar a reformulação dos próprios atos, na certeza de que NÃO PRECISAMOS MUDAR O MUNDO, MAS EFETUAR AS REFORMAS NECESSÁRIAS EM NOSSO COMPORTAMENTO, EM NOSSA FORMA DE SER.

A melhor maneira de nos proteger dos pedregulhos da caminhada, evitando os ferimentos, é revestir a alma com o couro da verdadeira CARIDADE, entendendo que o mais infeliz é sempre aquele que fere, aquele que ofende.

Jesus, o sublime Galileu, experimentou todo tipo de agressão e, no entanto, nunca perdeu a SERENIDADE e foi sempre o vitorioso. Que importava se o mundo exterior era cheio de pedregulhos e espinhos se sua alma estava revestida de paz e confiança em Deus?

Jesus, mesmo sendo o Espírito mais sábio de que se teve notícias, jamais desejou mudar o mundo, mas deixou sempre o convite para todos aqueles que querem seguir a sua trilha. A trilha que conduz à FELICIDADE plena, acima das imperfeições deste mundo.

Assim, se você está indignado com a situação a sua volta e deseja mudar o mundo, lembre-se que isso SÓ SERÁ POSSÍVEL COMEÇANDO POR MUDAR-SE A SI MESMO.

* * * 

Toda mudança exige ESFORÇOS e uma grande dose de CORAGEM.

A maioria de nós prefere criticar os outros e responsabilizá-los pelo que não está certo.

No entanto, às vezes é preciso um AUTO-ENFRENTAMENTO com toda sinceridade a fim de repensar atitudes e tomar decisões importantes para o próprio crescimento.

O que não devemos esquecer jamais, é que somos espíritos milenares e que trazemos uma grande soma de experiências e hábitos adquiridos ao longo da caminhada evolutiva.

E precisamos admitir a hipótese de que somos os construtores da própria infelicidade de hoje, graças aos hábitos dos quais não queremos abrir mão.

E se assim é, se desejamos alcançar a felicidade almejada, é preciso despojar-nos do manto escuro das imperfeições que nos pesa nos ombros, a fim de alçar o vôo definitivo em direção à luz.

(Redação do Momento Espírita, baseado em texto retirado de

"The Prayer of the Frog", tradução de Sérgio Barros.)

Camelos também choram

 

Primavera no deserto de Gobi, sul da Mongólia. Uma família de pastores nômades assiste ao nascimento de filhotes de camelo.

A rotina é quebrada com o parto difícil de um dos camelinhos albinos. A mãe, então, o rejeita. O filho ali, branquinho, mal se sustentando sobre as pernas, querendo mamar e ela fugindo, dando patadas e indo acariciar outro filhote, enquanto o rejeitado geme e segue inutilmente a mãe na seca paisagem. A família mongol e vizinhos tentam forçar a mãe camela a alimentar o filho. Em vão.

Só há uma solução, diz alguém da família. Mandar chamar o músico. E o milagre começou musicalmente a acontecer. Dois meninos montam agilmente seus camelos, numa aventura até uma vila próxima, tentando encontrar o músico.

É uma vila pobre, mas já com coisas da modernidade, motos, televisão, e, na escola de música, dentro daquele deserto, jovens tocam instrumentos e dançam, como se a arte brotasse lindamente das pedras.

O professor de música, qual um médico de aldeia chamado para uma emergência, viaja com seu instrumento de arco e cordas para tentar resolver a questão da rejeição materna.

Chega. E ali no descampado, primeiro coloca o instrumento com uma bela fita azul sobre o dorso da mãe camela. A família mongol assiste à cena.

Um vento suave começa a tanger as cordas do instrumento. A natureza por si mesma harpeja sua harmônica sabedoria. A camela percebe. Todos os camelos percebem uma música reordenando suavemente os sentidos.

Erguem a cabeça, aguçam os ouvidos e esperam. A seguir, o músico retoma seu instrumento e começa a tocá-lo. A dona da camela afaga o animal e canta.

E, enquanto cordas e voz soam, a mãe camela começa a acolher o filhote, empurrando-o docemente para suas tetas. E o filhote, antes rejeitado e infeliz, vem e mama, mama, desesperadamente feliz.Enquanto se alimenta e a música continua, acontece então um fato impressionante.

Lágrimas desbordam umas após outras dos olhos da mãe camela, dando sinais de que a natureza se reencontrou a si mesma, a rejeição foi superada, o afeto reuniu num todo amoroso os apartados elementos.

*   *   *

Nós, humanos, na plateia, olhamos estarrecidos. Maravilhados. Os mongóis em cena constatam apenas mais um exercício de sua milenar sabedoria.

E nós, que perdemos o contato com o micro e o macrocosmos, ficamos pasmos com nossa ignorância de coisas tão simples e essenciais.

Os antigos falavam da terapêutica musical. Casos de instrumentos que abrandavam a fúria, curavam a surdez, a hipocondria e saravam até a mania de perseguição.

O pensamento místico hindu dizia que a vida se consubstancia no Universo com o primeiro som audível - um ré bemol - e que a palavra só surgiria mais tarde.

E nós, da era da tecnologia, da comunicação instantânea, dos avanços científicos jamais sonhados... E nós? O que sabemos dessas coisas?

Coisas que os camelos já sabem, que os mongóis já vivem. Coisas dos sentimentos, coisas do coração. O que sabemos nós?

Será que sabíamos que os camelos também choram?

Redação do Momento Espírita com base em crônica de

Affonso Romano de Sant´anna, encontrada no

http://acaodopensamento.blogspot.com.