O escritor americano Walter Trobisch, em seu livro AMOR, SENTIMENTO A SER APRENDIDO, narra uma antiga lenda contada na Índia sobre a criação da mulher.
"Diz a lenda que o Senhor, após criar o homem e não tendo nada sólido para construir a Mulher, tomou um punhado de ingredientes delicados e contraditórios, tais como: timidez e ousadia, ciúme e ternura, paixão e ódio, paciência e ansiedade, alegria e tristeza e assim fez a mulher e a entregou ao homem como sua companheira.
Após uma semana, o homem voltou e disse:
- Senhor, a criatura que você me deu faz a minha vida infeliz. Ela fala sem cessar e me atormenta de tal maneira que nem tenho tempo para descansar. Ela insiste em que lhe dê atenção o dia inteiro... e assim as minhas horas são desperdiçadas. Ela chora por qualquer motivo e fica facilmente emburrada e, as vezes, muito tempo ociosa. Vim devolvê-la por que não posso viver com ela.
Depois de uma semana o homem voltou ao criador e disse:
- Senhor, minha vida é tão vazia desde que eu trouxe aquela criatura de volta! Eu sempre penso nela, em como ela dançava e cantava, como era graciosa, como me olhava, como conversava comigo e como se achegava a mim. Ela era agradável de se ver e de se acariciar. Eu gostava de ouvi-la rir. Por favor, dê-me-a de volta.
- Está bem, disse o Criador. E a devolveu.
Mas, três dias depois, o homem voltou e disse:
- Senhor, eu não sei. Eu não consigo explicar, mas depois de todas estas minhas experiências com esta criatura, cheguei a conclusão que ela me causa mais problemas do que prazer. Peço-lhe, toma-a de novo! Não consigo viver com ela!
O Criador respondeu:
- Mas também não pode viver sem ela. E virou as costas para o homem e continuou seu trabalho.
O homem desesperado disse:
- Como é que eu vou fazer? Não consigo viver com ela e não consigo viver sem ela.
E arremata o Criador:
- Achei que com as tentativas você já tivesse descoberto. Amor é um sentimento a ser aprendido. É tensão e satisfação. É desejo e hostilidade. É alegria e dor. Um não existe sem o outro. A felicidade é apenas uma parte integrante do amor. Isto é o que deve ser aprendido. O sofrimento também pertence ao amor. Este é o grande mistério do amor.
A sua própria beleza e o seu próprio fardo. Em todo o esforço que se realiza para o aprendizado do amor é preciso considerar sempre a doação e o sacrifício ao lado da satisfação e da alegria. A pessoa terá talvez que abdicar de alguma coisa para possuir ou ganhar uma outra coisa. Terá talvez que desembolsar algo para obter um bem maior e melhor para sua felicidade. É como plantar uma árvore frente a uma janela. Ganha sombra, mas perde uma parte da paisagem. Troca o silêncio pelo gorjeio da passarada ao amanhecer.
É preciso considerar tudo isto quando nos dispomos a enfrentar o aprendizado do AMOR."
A Espiritualidade Superior ensina que o isolamento é contrário à natureza humana.
Segundo ela, o homem é instintivamente gregário por motivos providenciais.
Ele precisa progredir e o progresso é sempre fruto da colaboração de muitos.
Em regra, o homem busca a vida em sociedade por razões pessoais.
Ocorre que as criaturas possuem diferentes habilidades e caracteres.
Mediante o convívio, elas se aproveitam dos talentos recíprocos e aprendem umas com as outras.
Justamente por isso, a força de uma sociedade advém da diversidade de seus integrantes.
Quando a diversidade é valorizada, tem-se um organismo social dinâmico e eficiente.
Ao contrário, toda tentativa de uniformização, com intolerância ao diferente, implica enfraquecimento.
Pode-se entender que vigora no âmbito humano uma Lei geral de Cooperação.
Ela se apresenta nos mais variados contextos, dos triviais aos sublimes.
Por exemplo, Jesus encarnou na Terra para ensinar e exemplificar a vivência do bem, na conformidade dos desígnios Divinos.
Dotado de extremas sabedoria e pureza, ainda assim buscou companheiros para auxiliá-lO na tarefa.
Escolheu doze Apóstolos, aos quais ministrou os mais variados ensinamentos.
Orientou-os, burilou-os e amparou-os para que no tempo devido sustentassem a vivência do Evangelho no mundo.
Os Apóstolos eram diferentes entre si.
Havia os reflexivos, os exaltados, os emotivos e os práticos.
Jesus a nenhum desprezou. Antes, soube aproveitar suas diferentes habilidades para o sucesso da empreitada evangélica.
Certamente, ao assim agir, o Mestre Divino sinalizou a importância da cooperação e da tolerância.
Dotado de poderes magnéticos desconhecidos e de extraordinária sabedoria, nem por isso quis fazer tudo sozinho.
Soube dividir o peso da tarefa com homens rudes e que não O compreendiam bem.
Esse eloquente exemplo demanda detida reflexão.
A vida em sociedade nem sempre é fácil.
Entre pessoas de visões e habilidades diversas, por vezes surgem discussões e desentendimentos.
Ocorre que o bem pujante nunca é obra de um homem só.
Toda realização de importância é sempre fruto do esforço de incontáveis envolvidos.
Apenas é preciso ser tolerante para conviver com o diferente.
A fim de que o melhor resultado surja, importa aprender a admirar opiniões divergentes.
Não apenas tolerá-las, mas valorizá-las, no que apresentem de positivo.
Sem dúvida, é possível agir sozinho na luta por um ideal.
Ocorre que, quando várias mãos se juntam, o bem se multiplica e expande.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita.