Aos dez
anos, aquele garoto viajou ao interior do país na companhia da
família de um amigo.
Nascido e
criado em uma grande metrópole, já havia estado em outras pequenas
cidades durante viagens com sua família, mas sempre em breves
passagens.
Dessa vez
foi diferente.
O convite
era para que ele passasse uns dias na casa da avó do amigo, em uma
cidadezinha sem grandes atrativos turísticos.
Pela
primeira vez teve a oportunidade de vivenciar a rotina de uma vida
no interior.
No retorno,
a alegria estava estampada nos seus olhos. O sorriso era largo,
espontâneo, parecia que tinha a alma leve.
Obviamente
que o passeio lhe fizera muito bem. Contou à família alguns
episódios divertidos que vivenciara, sempre enfatizando que havia
gostado muito da viagem.
Nos dias
seguintes ao seu regresso, todas as vezes que surgia uma
oportunidade, o garoto comentava sobre a alegria de ter passado
alguns dias naquele lugar e que se pudesse, voltaria quantas vezes
fosse convidado.
Mas ele
mesmo não sabia explicar os motivos para tanto
entusiasmo.
Lembrava de
outras viagens maravilhosas que havia feito e das quais tinha ótimas
recordações, mas nenhuma delas remetia a esse sentimento que agora
experimentava.
Passados
mais alguns dias, o menino abordou a mãe com certa aflição, pois
havia encontrado os motivos de estar encantado com a viagem que
fizera e queria dividir com ela a sua descoberta.
Quase que
num desabafo infantil, ele disse que havia gostado tanto do lugar
que conhecera porque lá era tudo muito simples.
Segundo
ele, as pessoas não corriam para todos os lados o dia inteiro. Elas
paravam para conversar quando encontravam algum conhecido e ficavam
olhando nos olhos umas das outras, com atenção.
Andavam a
pé pelas ruas. As famílias almoçavam e jantavam reunidas. E as casas
estavam sempre cheias de visitas de parentes e amigos.
A impressão
que ficou gravada foi a de que as pessoas não estavam perdendo tempo
ao fazer tudo aquilo e sim, aproveitando a vida.
* *
*
Essa
observação, vinda de um olhar infantil, nos leva a uma profunda
reflexão sobre a forma como estamos vivendo nas grandes cidades e
sobre os valores que estamos passando para nossos
filhos.
Sob essa
ótica, ele observou o quanto faz bem ao coração uma vida calma, onde
há tempo para as coisas mais simples. Vida na qual existem momentos
para construir e consolidar os relacionamentos.
É comum
vivermos presos aos ponteiros do relógio, não nos permitindo
cultivar as coisas simples e importantes.
Por mais
que estejamos atarefados e envolvidos com os compromissos assumidos,
é indispensável fazermos uma revisão de nossas ações.
Procuremos
conduzir as horas com tranquilidade.
Façamos com
que nossos dias sejam luminosos, aproveitando-os com sabedoria e
transformemos nossas horas em um rosário de bênçãos.