segunda-feira, 17 de junho de 2013

NOSSAS RIQUEZAS PESSOAIS


Quantas vezes já reclamamos da vida, enumerando problemas que não cessam de se avolumar?
 
Quantas vezes já dissemos do nosso cansaço ante as lutas que nos parecem sem tréguas?
 
Foi exatamente num desses dias em que nos preparávamos para principiar a ladainha das murmurações, que alguém nos falou de Eliana Zagui.
 
A artista plástica vive há trinta e seis anos no Hospital de Clínicas, em São Paulo.
 
A poliomielite que a alcançou, antes de completar dois anos de idade, quase a levou à morte.
 
Eliana sobreviveu, mas os meses demonstraram que ela jamais poderia viver em outro lugar que não o hospital.
 
Ela perdeu a mobilidade do tronco, dos membros e vive deitada.
 
Aprendeu a ver o mundo na horizontalidade. Nas raras vezes em que teve autorização para se ausentar do hospital, precisou de aparato de ambulância, médicos, enfermeiras, atendentes.
 
Aprendeu a ler aos doze anos. Até então, porque a expectativa de vida de quem possui problemas de saúde semelhantes aos seus era muito pequena, não houvera preocupação com a alfabetização.
 
Eliana aprendeu a segurar o lápis com a boca. Aprendeu a digitar no computador da mesma forma. E a pintar.
 
Ler a respeito da vida dessa artista plástica é sofrer com ela todas as desilusões. Também se alegrar com os pequenos nadas que fazem a felicidade de quem vive, há quase quatro décadas, em um hospital.
 
É chorar com a descrição do abandono dos pais. Enquanto criança, tratava de desculpar a ausência deles por pensar que moravam muito longe.
 
Ao descobrir a correta geografia, a tristeza a abraçou. Não era tão distante quanto pensava.
 
É sofrer cada uma das mortes das crianças que viviam no mesmo local e, uma a uma, se foram, deixando um vazio na alma de Eliana.
 
É ouvi-la se indagar: Serei a próxima? Quando será minha vez?
 
É se enternecer ao ler a descrição dos seus enamoramentos, a idealização de sonhos e, uma a uma, as cruéis desilusões: ela não era amada com a mesma intensidade com que entregava o seu coração.
 
Estar sempre deitada, depender de enfermeiros, médicos e aparelhagem para a continuidade da vida; acompanhar a partida dos amigos que demandam a pátria espiritual; sofrer as dores dos que padecem ao lado parece ser uma vida monótona e sem sentido.
 
Mas Eliana dá o exemplo da superação. E são suas as palavras: Tenho aprendido que minha fé em Deus e minha determinação podem concretizar meus sonhos mais difíceis, desde que eu saiba o que fazer e avalie todos os riscos e consequências de cada ação.
 
* * *
 
Pensemos nisso: se desfrutamos da ventura de ir e vir, de andar, sentar, deitar, somos criaturas infinitamente felizes.
 
Se temos a ventura de ver, ouvir, a capacidade de ler, aprender, ensinar, somos seres muito ricos.
 
Se temos mãos, braços que se movem ao nosso comando, desfrutamos de ventura ímpar.
 
Antes de reclamarmos do que não temos, lembremos que somente o fato de poder respirar com os próprios pulmões, já é uma grande bênção.
 
Pensemos em nossas riquezas pessoais e sejamos gratos.
 
Redação do Momento Espírita, com base em dados colhidos no livro Pulmão de aço – uma vida no maior hospital do Brasil, de Eliana Zagui, ed. Belaletra.

NINHO VAZIO


Nos primeiros versículos do livro bíblico do Eclesiastes, lê-se que há tempo para tudo.
 
Tempo de semeadura. Tempo de floração. Tempo de seca. Tempo de chuvas abundantes.
 
No ciclo do matrimônio igualmente existe o período inicial da adaptação, das descobertas do outro, da vinda dos filhos.
 
Tempo de noites mal dormidas. De fraldas e mamadeiras. Tempo de garotos na escola, de lições, da universidade.
 
Dias inquietantes dos namoricos, dos voos mais distantes dos filhos ainda jovens.
 
Finalmente, chega o tempo em que os cônjuges se descobrem com o ninho vazio.
 
Não mais as vozes: Olá, cheguei! Oi, velho! Oi, mãe!
 
Não mais os sons dos aparelhos eletrônicos, as risadas, os pés sobre o sofá da sala, a linha telefônica sempre ocupada.
 
De repente, como aves migratórias, os filhos se vão. Vão para a formação dos seus próprios lares e consolidação das suas carreiras profissionais.
 
Quando se descobrem a sós, muitas vezes, os cônjuges passam a se desarmonizar. Agora, com tempo dilatado, podem olhar mais detidamente um ao outro, descobrindo imperfeições e defeitos.
 
As separações ocorrem com frequência nesse ciclo. A vitalidade do casamento fica enfraquecida, surgem os desentendimentos e o casal entra em crise.
 
É uma fase que exige sabedoria.
 
O salmista David, traduzindo as necessidades especiais assim se expressa: Não me rejeites no tempo da velhice. Não me desampares, quando se for acabando a minha força.
 
Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares.
 
É justamente quando se necessita mais do outro que a criatividade há que ser acionada, para tornar o espaço do ninho vazio uma ventura.
 
É o momento de aprofundar o relacionamento conjugal.
 
Retomar os verdes dias do namoro, redescobrindo o prazer do calor de um aconchego mais demorado.
 
Deter-se a mirar um ao outro, recordando quando, exatamente, os cabelos começaram a ficar prateados.
 
Relembrar as lutas intensas, cujos traços estão impressos nas faces de ambos. Utilizar o tempo na leitura nobre, trocando impressões, discutindo panoramas e vivências. Idealizar juntos novas metas.
 
Tornar a usufruir o sabor das manhãs claras, no passeio de mãos dadas, no bosque próximo.
 
Saborear juntos pequenos detalhes: a ida à pizzaria, os diálogos sem pressa, o concerto, o show.
 
Enfim, é imprescindível que os cônjuges estabeleçam prioridades.
 
E o matrimônio é prioritário. Tudo que venha deteriorar o equilíbrio conjugal, deve ser eliminado.
 
Desenvolver amizade e companheirismo entre si. O tempo e os interesses compartilhados conferem segurança e alegria. Fugir da rotina.
 
* * *
 
Quando te surpreendas demasiadamente crítico para com a criatura que contigo compartilhou dores e alegrias de uma vida; que contigo ombreou nas dificuldades mais acerbas; a criatura à qual entregaste o corpo e a alma, para um pouco!
 
Pensa em tudo que juntos idealizaram e construíram. Recorda os primeiros dias. Pensa em quantas vezes foi aquele o ombro amigo em que te apoiaste e choraste.
 
Pensa em quantas vezes os abraços, os apertos de mão, uma doce carícia te fizeram adquirir forças para os embates do mundo.
 
Deixa-te penetrar pela ternura das lembranças e então, olha o teu par e ama-o um tanto mais, enquanto prossigas no caminho com ele.
 
Redação do Momento Espírita.