terça-feira, 5 de abril de 2011

UMA BELA AMIZADE

 

Ele não passava de um garotinho levado. Adorava pendurar-se nos galhos das árvores para se balançar.

Vivia com os cabelos ao vento e os pés descalços. Tinha uma alma doce, toda amor.

Chamava-se Guilherme  Augusto Araújo Fernandes e morava ao lado de um asilo de idosos.

Ele conhecia todos os que moravam lá. E gostava de cada um deles de uma maneira especial.

Gostava da sra. Silvano que tocava piano. E do sr. Cervantes que sempre lhe contava histórias arrepiantes.

Também do Sr. Waldemar que andava de um lado a outro com um remo, como se houvesse um lago por perto, para remar.

Ajudava a Sra. Mandala a ir de um lado para outro, apoiada em sua bengala.

E admirava o Sr. Possante com sua voz de gigante.

Mas a pessoa de quem ele mais gostava era a sra. Antônia Maria Diniz Cordeiro. É que ela tinha quatro nomes, como ele.

Ele a chamava de dona Antônia e lhe contava todos os seus segredos.

Um dia, Guilherme  augusto ouviu seus pais conversarem a respeito da sua amiga. E entre uma frase e outra, descobriu que dona Antônia tinha perdido a memória.

A mãe comentou que não era de admirar. Afinal, ela estava com 96 anos de idade!

Guilherme  quis saber o que era a memória e o pai lhe disse que era alguma coisa da qual a pessoa se lembra.

A resposta não satisfez o menino, que foi perguntar para a sra. Silvano.

“É algo quente”, meu filho, “muito quente”, foi a resposta.

O Sr. Cervantes lhe disse que era uma coisa muito, muito antiga. E o sr. Waldemar informou que era uma coisa que fazia chorar, chorar muito.

Para a sra. Mandala, era uma coisa que fazia rir, rir bastante.

Já o Sr. Possante lhe disse que a memória era alguma coisa que valia ouro.

Então o garoto foi para sua casa e começou a procurar memórias para dona Antônia, já que ela havia perdido as suas.

Procurou uma caixa de sapatos cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e as colocou numa cesta. Também colocou uma marionete e a medalha que seu avô lhe tinha dado um dia.

Também para a cesta foi a sua bola de futebol, que valia ouro. E até um ovo fresquinho, ainda quente, retirado debaixo da galinha.

Aí Guilherme  augusto foi visitar dona Antônia e deu a ela, uma a uma, cada coisa da sua cesta.

Ela ficou emocionada com os presentes daquela criança admirável. E começou a se lembrar.

Segurou o ovo ainda quente, entre suas mãos, e contou para o menino sobre um ovinho azul, todo pintado, que havia encontrado uma vez, dentro de um ninho, no jardim da casa de sua tia.

Encostou uma das conchas no ouvido e lembrou da vez que tinha ido à praia de bonde, há muito tempo, e como sentira calor com suas botas de amarrar.

Pegou nas mãos a medalha e recordou, com tristeza, de seu irmão mais velho, que tinha ido para a guerra. E nunca mais voltou.

Sorriu para a marionete e lembrou da vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira às gargalhadas. Conseguia lembrar até do detalhe do mingau escorrendo pela boca risonha da menina.

Ela jogou a bola de futebol para Guilherme e lembrou do dia em que se conheceram. E recordou de todos os segredos que haviam compartilhado.

Guilherme  Augusto e dona Antônia sorriram e sorriram, pois toda a memória perdida tinha sido encontrada. E por um menino que nem era tão sábio, nem tão velho.

Era simplesmente um menino que amava os idosos e sabia ser amigo. 

* * *

Para se brindar alguém com alegria, não há necessidade de somas exageradas de dinheiro, nem de dotes especiais.

Para fazer feliz a vida de alguém é suficiente uma dose de tempo, uma pitada de amor e um pouquinho de imaginação.

Em resumo: uma bela amizade. 

Equipe de Redação do Momento Espírita com base no livro Guilherme Augusto Araújo Fernandes, de autoria de Mem Fox, Ed. Brinquebook.

QUANDO EU GANHEI MEUS PAIS

Aquela parecia ser mais uma simples tarefa de escola de uma menina de oito anos.

A apostila mostrava contas a serem feitas, probleminhas a serem resolvidos e diversas perguntas sobre assuntos distintos.

Porém, na última folha havia um verdadeiro tesouro, que emocionou professores, psicopedagogos e pais.

Eis o enunciado: Faça um desenho que represente um fato marcante de sua vida.

E lá estava o desenho colorido de uma mulher com um bebê nos braços e, ao seu lado, a figura de um homem, ambos sorrindo.

Acima da cena, escrito com uma letra caprichada – dessas que se demora muito para terminar de escrever – estava: Quando eu ganhei os meus pais. Como conter as lágrimas perante tão singela declaração de amor? Quando eu ganhei os meus pais.

Ela se lembrava, com carinho, que havia chegado àquele lar de amor, há pouco mais de oito anos, através da via bendita da adoção.

Era um dos primeiros momentos em que o coraçãozinho aprendiz agradecia a Deus pela oportunidade de ter uma família amorosa na Terra.

Outras crianças lembraram de viagens, de presentes de Natal, de passeios inesquecíveis. Mas ela lembrou de agradecer pelos pais.

*   *   *

Pensando agora em todos nós, será que lembramos de guardar na alma toda essa gratidão por aqueles que nos receberam com tanto afeto, com tanta coragem?

Você se lembra quando você ganhou seus pais? Pois, sim, são grandes presentes que recebemos ao renascer.

Muitas vezes o coração infantil nos vem relembrar coisas que o velho coração parece ter esquecido. Todos ganhamos nossos pais. E mais, não foram pais quaisquer, escolhidos pela força da aleatoriedade. Foram os pais que precisávamos, no momento que precisávamos.

Talvez ainda não entendamos isso muito bem, mas com o passar dos anos, após muitas análises, muitas lembranças, vamos percebendo, amadurecidos, que tudo faz sentido.

Às vezes acabamos caindo em si quando é muito tarde, e então somos corroídos pelo remorso devastador.

Por que esperar para agradecer? Por que aguardar aquela ocasião especial para reconhecer e manifestar a gratidão?

Por que ainda nos constrange tanto dizer: Você é importante para mim, ou Amo muito você?! Por que ter vergonha de amar, de agradecer?

Gratidão que não está apenas no ato de se agradecer. O famoso muito obrigado é apenas a ponta do iceberg da gratidão.

Gratidão se manifesta todos os dias, desde que se desperta e se agradece a Deus por esses amores; passando pela convivência respeitosa, amiga, compreensiva; chegando até aos gestos maiores de desprendimento em prol desses a quem devemos a vida.

Agradeçamos enquanto há tempo. Agradeçamos enquanto é hoje.

Gratidão faz bem a todos. Faz bem a quem a carrega no coração. Faz bem a quem a recebe como inesperadas flores perfumadas que caem sobre as mãos e tornam a vida mais feliz.

*   *   *

Quando eu ganhei os meus pais, ganhei também a certeza de ser amado...

Quando eu ganhei os meus pais, fui inundado de força de vontade, de desejo de acertar e de amar também.

Quando eu ganhei os meus pais, resolvi dar mais uma chance ao amor, e depois mais uma, e depois mais outra...

Quando eu ganhei os meus pais, foi quando me senti, realmente, protegido...

Redação do Momento Espírita.