quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

AS MOEDAS

 

Dois homens instalaram-se, com suas tendas e mercadorias, à beira de movimentada estrada. Por ali passavam viajantes de muitas paragens, eis que a estrada logo adiante apresentava diversas bifurcações que levavam a cidades grandes e pequenas, vilas e povoados.

Na tenda maior, de listas grandes, coloridas, muito chamativa, ficou um homem de grande ambição. Seu desejo era juntar muitos tesouros.

Por isso mesmo, suas mercadorias eram demasiado caras, embora fossem ricamente apresentadas em embalagens suntuosas.

Na tenda menor, de colorido delicado, o outro homem simplesmente se dispôs a aguardar os que desejassem chegar até ele. Nenhum cartaz de propaganda bombástica, nem qualquer outro artifício.

O primeiro atraía multidões. Os que por ali passavam, estranhamente se dirigiam para a sua tenda e ninguém discutia ou buscava barganhar os preços das mercadorias.

Apesar das grandes somas que deviam despender, todos se mostravam dispostos a pagar, sem qualquer discussão.

O segundo não tinha muitos fregueses. Discreto, enquanto aguardava, plantava flores em seu jardim. O lugar era, assim, agradável e de encantos naturais.

Poucos paravam ali, mas os que se detinham, recebiam das mãos do bom homem flores perfumadas de variados matizes.

Havia tanta singeleza e bondade na doação, que alguns chegavam a se emocionar, e com beijos nas mãos calosas do anônimo jardineiro, procuravam agradecer as dádivas generosas, depositando nelas as lágrimas das suas almas tocadas pelo gesto.

O primeiro homem logo foi enchendo o seu cofre com recursos amoedados. Tantos, que a cada dia mais abarrotavam todos os escaninhos do grande local.

Sentia-se feliz vendendo, a peso de ouro, a calúnia, a maledicência, o vício, a inveja, o ciúme. E os passantes prosseguiam, sempre mais ávidos, a buscar-lhe as mercadorias.

Os dias se multiplicaram e se transformaram em semanas, que cederam lugar aos meses. Na somatória desses, advieram os anos.

Certa tarde, quando o sol ia descansando no horizonte, derramando seus derradeiros raios sobre a terra fértil, colorindo o céu de ouro, sangue e prata, os dois homens entenderam que a sua hora se aproximava e que seria bom fazer o balanço das suas finanças.

O primeiro homem, da tenda maior, abriu o cofre e, desgostoso, constatou que ele estava cheio de moedas de metal vil. Ele fora ludibriado. Durante anos, recolhera o que pensava serem moedas fartas de ouro e verificava serem  todas de valor irrisório.

O outro estendeu as mãos e as descobriu cheias de preciosas gemas. As lágrimas de gratidão dos que haviam sido aquinhoados com suas flores de bondade, haviam se transformado em pedras de alto valor.

O homem que vendera ilusões, gozos e prazer, entendeu. Ele comercializara e recebera as moedas da Terra, passageiras, ilusórias, que somente compram as coisas do mundo e se perdera, no emaranhado do mal.

O outro, por ter distribuído a bondade sem nada exigir, recebera as moedas do Mundo Invisível.

* * *

Semear o bem ou comprazer-se no mal, é decisão de cada um.

Somos responsáveis não somente pelo mal que praticamos, mas também por aquele que, de alguma forma, incitamos os outros a praticar.

Assim, todo bem que espalhamos ao nosso redor, é bem para nós mesmos, pois sempre é dado a cada um segundo as suas obras.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. A moeda da Terra e a do Céu, do livro À sombra do olmeiro, pelo Espírito Um jardineiro, psicografia de Dolores Bacelar, ed. Correio Fraterno do ABC.

Eles viverão

 

A Espiritualidade Superior ensina que os planetas funcionam como educandários.

Os Espíritos neles encarnam para ter as experiências evolutivas de que necessitam.

A Terra por ora serve de morada e escola para Espíritos de reduzida evolução.

Embora, em geral, não falte inteligência aos habitantes do orbe, eles ainda vacilam no quesito da moralidade.

Têm facilidades de raciocínio, mas possuem dificuldades nos planos do sentimento, da conduta.

Certamente incontáveis se esforçam para viver com dignidade e o conseguem.

Entretanto, ainda é comum o triste espetáculo da leviandade, da corrupção e da crueldade.

Em um mundo imperfeito, a impunidade dos espertos e dos poderosos costuma ser frequente.

Não raro, esse panorama de vício aparentemente vitorioso causa indignação.

Muitos desanimam quando se deparam com certas cenas.

Pode ser o político corrupto que segue livre, mediante a adoção de estratagemas legais.

Ou quem, para enriquecer, não se incomoda de destruir o meio ambiente.

Talvez seja quem abusa da inocência ou oprime os fracos.

Ou então quem vence demandas na justiça contando com testemunhos falsos.

Não faltam exemplos de maldade vitoriosa, ao menos na aparência.

Seguramente, todos devem agir, no limite de suas forças, para que o bem se instale no mundo.

Mas, quando o mal parece vencer, não há razão para raiva ou desânimo.

Não há necessidade de desejar o mal para os que semeiam a desgraça nos caminhos alheios.

Para manter o coração em paz, basta refletir que eles viverão.

Sim, a morte não existe e todos seguirão vivos para sempre.

A vida dispõe de recursos para produzir arrependimento nos que se fizeram culpados.

Cedo ou tarde, chega o momento de rever a própria conduta e de enfrentar as consequências do que se fez.

Tal pode se dar na mesma encarnação, mediante importantes decepções, ignoradas da coletividade.

Ou no plano espiritual, onde não há disfarces possíveis quanto à própria realidade íntima.

Ou mesmo em outras existências, nas quais se experimentem as dores que se semeou na vida do próximo.

A vida constitui o melhor remédio para qualquer gênero de decadência.

Todos viverão para sempre e cada qual será feliz ou desgraçado, conforme as opções que fez.

A cada um segundo suas obras, como bem disse Jesus.

Assim, não convém praguejar contra quem fere, rouba, ilude ou mata.

Basta saber que os corruptos, os mentirosos e os defraudadores da paz alheia também viverão.

A cada homem incumbe o dever de ser digno e solidário, de esclarecer, amparar e socorrer.

Os desvios incontornáveis, segundo a ótica humana, ficam por conta da Lei Divina, sempre perfeita e atuante.

Pense nisso.

 

Redação do Momento Espírita